domingo, 18 de maio de 2014

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva




A VÓS BRADAMOS, OS DEGREDADOS FILHOS DE EVA

I – Da prontidão de Maria em socorrer os que a invocam.


1 – Maria ajuda em muitos apuros da vida

Como pobres filhos da infortunada Eva, somos réus da mesma culpa e condenados à mesma pena. Andamos errando por este vale de lágrimas, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem no corpo e no espírito. Feliz, porém, aquele que por entre tais misérias se dirige muitas vezes à consoladora do mundo, ao refúgio dos pecadores, à grande Mãe de Deus. Feliz quem a invoca e implora com devoção! Bem-aventurado o homem que me ouve e que vela todos os dias à entrada de minha casa (Pr 8, 34). Bem-aventurado, diz Maria, quem ouve meus conselhos e permanece constantemente à porta de minha misericórdia, invocando minha intercessão e meu auxílio.

A Santa Igreja bem a nós, seus filhos, ensina com quanto zelo e quanta confiança devemos recorrer sem cessar a esta nossa amorosa protetora. Pois é ordem sua que se lhe tribute um culto particular. Durante o ano celebra muitas festas em sua honra e prescreve que um dia da semana lhe seja dedicado. Exige também que, diariamente no Ofício Divino, todos os eclesiásticos e religiosos a invoquem em nome do povo cristão, e que três vezes ao dia, os fieis a saúdem ao toque das Ave-Marias.


Bastaria, para isso, somente ver e ouvir que em todas as calamidades públicas a Santa Igreja sempre quer que se recorra à divina Mãe com novenas, com orações, com procissões e visitas às suas igrejas e imagens. Isto mesmo quer Maria que nós façamos. Que sempre a invoquemos, que sempre lhe peçamos, não por necessitar dos nossos obséquios, nem das  nossas honras tão inadequadas aos seus merecimentos, mas sim para que, à medida da nossa devoção e da nossa confiança, possa melhor recorrer-nos e consolar-nos. Procura, na frase de São Boaventura, os que dela se aproxima devota e referentemente; ama-os, nutre-os, aceita-os por filhos.

[...]

3 – Maria ajuda eficazmente

E se alguém duvidar de ser recorrido de Maria, ao invocá-la, ouça a repreensão de Inocêncio III: Quem é aquele que pediu socorro a esta doce Soberana e ela o não atendeu? Aqui exclama o Beato Eutiquiano: Ó Virgem Santa, que podeis ajudar todo miserável e salvar os maiores pecadores, quem jamais solicitou vosso poderoso patrocínio e por vós foi desamparado? Tal caso nunca se deu e nunca se há de dar. Concordo, diz S. Bernardo, que nunca mais exalte vossa misericórdia, ó Virgem Maria, aquele que, tendo invocado vosso auxílio em suas necessidades, se recorde de ter sido abandonado por vós.

Mais depressa desapareceção o céu e a terra, diz o devoto Blósio, do que deixe Maria de valer a quem com boa intenção a implora e nela confia. – Para aumentar a nossa confiança, sirvam as palavras de Eádmero: Quando nos dirigimos a esta divina Mãe, não só devemos ficar certos de seu patrocínio, mas as vezes seremos mais depressa atendidos e salvos chamando pelo nome de Maria, do que invocando o Santíssimo Nome de Jesus, nosso Salvador. E eis a razão que dá o escritor: Cristo, como Juiz, tem o ofício de punir; a Virgem como padroeira tão somente tem o de compadecer-se. Quer com isso dizer que achamos a salvação mais depressa junto à Mãe que junto ao Filho. Não porque Maria tenha mais poder do que Jesus Cristo, nosso único Salvador, o qual com seus méritos nos obteve e ainda nos obtém a salvação. O motivo, ao contrário, é que, em Jesus, vemos também o nosso Juiz cujo ofício é castigar os ingratos. Ao recorrermos a Ele, facilmente então pode nos faltar a confiança. Mas indo a Maria, cujo ofício outro não é o que de compadecer-se de nós como Mãe de misericórdia, e de proteger-nos como nossa advogada, parece que a nossa confiança se torna maior e mais segura. Muitas coisas se pedem a Deus, e não se alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se. Como pode ser isto? Responde Nicéfaro que isto acontece, não porque Maria seja a mais poderosa que Deus, mas porque Deus terminou honrar assim a Sua Mãe.

Muito consoladora é a promessa que Nosso Senhor fez a S. Brígida. Um dia esta Santa ouviu Jesus Cristo falar com sua Mãe e dizer-lhe: Minha Mãe, pedi-me p qe quiserdes; nunca nos hei de negar coisa algumas; e ficai sabendo – ajuntou – que prometo despachar favoravelmente a quantos solicitarem de mim graças por vosso amor. Não importa que sejam pecadores, contando que tenham firme propósito de emenda. – A mesma coisa foi revelada a S. Gertrudes, quando ouviu nosso redentor dizer a Maria que Ele, pela sua onipotência, lhe tinha concedido poder usar de misericórdia com os pecadores que a invocam, do modo que ela quisesse.

Digam, pois, todos com grande confiança, invocando esta Mãe de misericórdia, como lhe dizia o Pseudo-Agostinho: Lembrai-vos, ó piedosíssima Senhora, que não se tem ouvido, desde que o mundo é mundo, que alguém fosse de vós desamparado. E por isso perdoai-me se vos digo que não quero ser o primeiro infeliz, que, recorrendo a vós, não consiga o vosso amparo.


Ligório, S. Afonso de. Glórias de Maria. Versão italiana 11ª. Editora Santuário.



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