quarta-feira, 7 de maio de 2014

Salve Rainha - Ponto 2



Capítulo I

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia.

I.                   Nossa confiança em Maria deve ser ilimitada porque ela é Rainha de Misericórdia

2- Maria é Rainha de Misericórdia

Maria é, pois, Rainha. Mas saibamos todos, para nossa consolação nossa, que é uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós pobres pecadores. Quer por isso a Igreja a saudemos nesta oração com o nome de Rainha de Misericórdia. O próprio nome de rainha, considera S. Alberto Magno, denota piedade e providência  para com os pobres, enquanto que o de imperatriz dá ares de severidade e rigor. A magnificência dos reis e das rainhas consiste em aliviar os desgraçados, diz Sêneca. Enquanto que os tiranos governam tendo em vista apenas seu interesse pessoal, devem os reis procurar o bem de seus vassalos. Por isso na sagração dos reis se lhe unge a testa com óleo. E o símbolo da misericórdia e benignidade de que devem estar animados para com seus súditos.

Devem, pois, os reis principalmente empregar-se nas obras de misericórdia, mas sem omitir, quando necessária, a justiça para com os réus. Não assim Maria. Bem que seja Rainha, não é rainha de justiça, zelosa do castigo dos malfeitores. É Rainha de Misericórdia, inclinada só à piedade e ao perdão dos pecadores. Por isso quer a Igreja que a chamemos de Rainha de Misericórdia.

Eu ouvi – diz o Salmista – estas duas coisas: que o poder é de Deus e que é vossa a misericórdia (Sl 61, 12, 13). Considerando o afamado chanceler de Paris, João Gerson, as palavras de Davi, disse: Considerando o reino de Deus na justiça e na misericórdia, o Senhor o dividiu: o reinado da justiça reservou-o para si, e o reinado da misericórdia o cedeu a Maria. E o Senhor ordenou que pelas mãos de Maria passariam, e a seu arbítrio seriam conferidas todas as misericórdias dispensadas ao homem.


[...]

O Eterno Pai constituiu Jesus Cristo Rei de justiça e fê-lo por conseguinte Juiz universal do mundo. Vem daí a exclamação do salmista: Daí, ó Deus, ao rei a vossa equidade, e ao filho do rei vossa justiça (Sl 71,2). Pelo o que diz um douto intérprete: Senhor deste a vosso Filho a justiça, porque â mãe do Rei entregastes a misericórdia [...]. Por isso profetizou o mesmo profeta Davi, que o próprio Deus (por assim dizer) consagrou Maria Rainha de Misericórdia, ungindo-a com óleo de alegria. “Por isso te ungiu o teu Deus com óleo de alegria” (Sl 44, 8). E isso para que todos nós, miseráveis filhos de Adão, nos alegrássemos considerando que temos no céu esta Rainha toda cheia de unção, misericórdia e piedade para conosco, observa Conrado de Saxônia.

Muito bem aplica S. Alberto Magno a este propósito a história da rainha Ester, que foi figura de Maria, nossa Rainha. No cap. 4 do livro de Ester se lê que, reinando Assuero, saiu um decreto condenando à morte todos os judeus. Então Mardoqueu, que era um dos condenados à morte, recomendou a sua salvação a Ester. Pediu-lhe que interpusesse o seu valimento junto ao rei, a fim de que revogasse a sentença. A princípio Ester recusou fazer este favor, temendo irritar ainda mais Assuero. Repreendeu-a Mardoqueu, mandando-lhe dizer que não pensasse só em salvar-se a si, pois o Senhor a tinha posto sobre o trono para obter a salvação de todos os judeus (Est 4, 13). Essas palavras de Mardoqueu a Ester, nós, pobre pecadores, podemos repeti-las a Maria, nossa Rainha, se ela em algum tempo se recusar alcançar-nos de Deus o perdão do castigo, de nós bem merecido. Não cuideis, Senhora, que Deus vos elevou a Rainha do mundo só para o bem vosso. Se tão grande vos fez, é para que mais vos compadecêsseis, e melhor pudesse socorrer nossas misérias.

Assuero, quando viu Ester na sua presença, lhe perguntou com agrado o que lhe vinha pedir: Qual o teu pedido? Respondeu-lhe a rainha: Meu rei, se em algum tempo achei graça em teus olhos, dá-me o meu povo, pelo qual te rogo (7,3). E Assuero a ouviu e atendeu, ordenando logo que se revogasse a sentença. Ora, se Assuero, por amor a Ester, lhe concedeu a salvação dos judeus, como poderá Deus, cujo amor por Maria é sem medida, deixar de ouvi-la quando pede pelos pobres pecadores, que a ela se recomendam? Se em algum tempo achei graça em teus olhos, dá-me o meu povo – repete-lhe a Virgem Santíssima. Bem sabe a divina Mãe que é bendita e bem-aventurada, que é a única entre as criaturas que achou a graça perdida pelos homens. Bem sabe que é a predileta de Seu Senhor,  por ele querida acima de todos os anjos e santos. Se me amais, Senhor – diz-lhe então – dai-me estes pecadores pelos quais Vos rogo. E é possível que o Senhor a deixe desatendida? Quem ignora o poder das preces de Maria junto de Deus? A lei da clemência está em sua língua, diz o Sábio (Pr 31,26). Toda súplica sua é como uma lei estabelecida pelo Senhor, para que se use de misericórdia com todos aqueles por quem Maria intercede. O autor dos Sermões sobre a Salve Rainha indaga por que motivo a Igreja intitula Maria Santíssima Rainha de Misericórdia. E responde: Para que acreditemos que Maria abre o oceano imenso da misericórdia de Deus a quem quer, quando quer, e como quer. Pelo que não há pecador, nem o maior de todos, que se perca, se Maria o protege.

Ligório, Santo Afonso de. Glórias de Maria. Versão 11ª, edição italiana, Editora Santuário.


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