sexta-feira, 9 de maio de 2014

Doçura nossa, salve.




CAPÍTULO II

DOÇURA NOSSA, SALVE

III- Maria suaviza a morte a seus servos.

1 – Maria é nosso conforto na morte.

“Aquele que é amigo o é em todo tempo; e nos transes apertados conhece-se o irmão” (PR 17, 17). Os amigos verdadeiros e os verdadeiro parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e das desventuras.  Os amigos do mundo não deixam o amigo, enquanto está na prosperidade. Mas o abandonam imediatamente, se lhe acontece uma desgraça ou dele se avizinha a morte. Tal não é o procedimento de Maria com seus devotos. Nas suas angústias e especialmente nas da morte, que de todas são as piores, essa boa Senhora e Mãe não abandonam seus fiéis servos. Como é nossa vida no tempo do nosso degredo, assim também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve também a graça de assistir na morte os predestinados. Por isso a Santa Igreja manda rogar à bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte.

Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a eternidade. Bem sabe que o pouco tempo lhe resta para obtê-la e que para sempre a perde, se então lhe escapar. “O demônio desceu a vós cheio de uma grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Ap 12, 12). Costumado a tentá-la durante a vida, não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. “Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões” (is 14,21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à porfia tentam perdê-lo.


De S. André Avelino conta-se que, estando para morrer, vieram muitos demônios para tentá-lo. E de tal modo investiram contra ele, que deixaram horrorizados aos bons religiosos que o estavam assistindo. Viram eles que o santo se lhe inchou com grande agitação o rosto, de tal sorte que se fez de todo negro. Viram-no tremer e debater-se. De seus olhos corriam lágrimas e violentes lhe eram os movimentos da cabeça. Tudo sinal da horrível peleja que lhe dava o inferno. Os religiosos choravam de compaixão, redobravam de orações e tremiam de pavor, vendo que assim morria um santo. Mas consolavam-se em ver que o santo repetidas vezes movia os olhos para uma devota imagem de Maria, com quem procurava o seu socorro. Vinham-lhe à lembrança a frase na qual ele afirmara que a Mãe de Deus havia de ser o seu refúgio na hora da morte. Enfim, foi Deus servido que terminasse aquele combate com uma gloriosa vitória. Cessadas as convulsões do corpo, desinchado e tornado o rosto à sua cor antiga, viram-no, de olhos tranquilamente fixos naquela imagem, fazer uma devota inclinação a Maria (a qual se crê que então lhe apareceu), como em ação de graças, e expirar placidamente nos braços da Mãe de Deus, tendo no rosto a transfiguração dos eleitos. Ao mesmo tempo uma religiosa capuchinha, agonizante, voltou-se para as que a assistiam e lhes disse: Rezai a Ave-Maria, porque agora morreu um santo.

Ah! Como fogem os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria a nosso favor, que poderemos recear de todo o inferno? Reanimava-se Davi para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Maria. “Pois ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolaram” (Sl 22, 4-5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o lenho da cruz, e pela intercessão de Maria que foi a vara profetizada por Isaías (11,1). Esta divina Mãe, diz S. Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se, por isso S. Antonino, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? – Estando a morte o Padre Manoel Padial, da Companhia de Jesus, apareceu-lhe Maria, que, para consolá-lo, lhe disse: Eis, finalmente, chegada a hora, em que os anjos, congratulando-se contigo, vão dizer! Ó felizes trabalhos, ó bem recompensadas mortificações! E nisso foi visto um bando de demônios que, desesperados, fugiam, gritando: Ai! Que nada podemos, porque, aquela que não tem mancha o defende! Da mesma forma o Padre Gaspar Haywood foi assaltado por uma grande tentação contra a fé. Encomendou-se, porém, sem demora à Virgem Santíssima e ouviram-no exclamar: Sinceros agradecimentos, ó Maria, porque me viste ajudar.

Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fieis moribundos, manda o príncipe S. Miguel com todos os seus anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, com especialidade as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a ela.



Ligório, Santo Afonso de. Glórias de Maria. Versão italiana 11ª. Editora Santuário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário