quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Mantendo as Famílias Católicas na Sociedade Moderna




Por D. Williamson
Traduzido por Andrea Patrícia


Caros Amigos e Benfeitores,

Como janeiro é o mês da Sagrada Família, e a família hoje vivendo numa grande aflição, aqui estão algumas reflexões de um sacerdote da FSSPX, Pe.  James Doran, extraídas dos vários anos de experiência pastoral com problemas familiares nas atuais paróquias “Tradicionais” dos Estados Unidos:

Q: Qual é o problema essencial da família na sociedade moderna?

Pe. D: Falta de visão dos pais, visão da Paternidade de Deus e portanto visão de sua própria paternidade. Eles não enxergam a nobreza e as obrigações de sua vocação em manifestar a Paternidade de Deus em seus próprios lares, então sua paternidade se desintegra em uma série de detalhes desconectados. Eles são reduzidos a “sustentadores da casa”, “marido”, “papai”, etc. Eles precisam de uma visão reintegradora de sua vocação e consagração no sacramento do matrimônio.

Q: Por que o mundo moderno torna as coisas tão difíceis para a família?

Pe. D: O mundo moderno é contrário a Cristo, contrário a natureza e a favor da Nova Ordem Mundial. Primeiramente, em seu materialismo, rejeitando Cristo, ele rejeita o sobrenatural e toda a ordem da graça, ele rejeita a superestrutura salvadora do sacramento do matrimônio. Secundariamente, rejeitando a natureza como sempre foi compreendida no passado, porque o homem tecnológico supostamente sabe mais, em nome da modernidade ele desmantela a estrutura natural do casamento, inclinando o homem e a mulher a transformar sua complementaridade natural numa tensão não natural. Em terceiro lugar, para construir uma Nova Ordem Mundial ele está lutando para dar a família uma nova estrutura que em teoria respeita todas as diferentes necessidades, mas que na prática divide todos os apartando de todos os outros numa planejada fragmentação e caos.

Q: Isso tudo é basicamente um problema da natureza ou da graça?

Pe. D: É problema de ambos, porque a natureza decaída é irredimível sem a graça, mas sem a natureza a graça não possui nada para curar, transformar ou elevar. O homem é um. Graça e natureza precisam se integrar. A graça é em si infinitamente mais alta que a natureza, mas não há estado de graça sem alguma pobre natureza para recebê-la. Mais uma vez: a visão precisa ser integral.

Q: Em quanto por cento – falando em geral – o senhor culpa o homem, em quanto por cento o senhor culpa a mulher pelos problemas atuais da família?


Pe. D: 90% o homem, 10% a mulher. O homem foi criado por Deus como cabeça da Criação, seu líder; a mulher foi criada como ajudante e companheira do homem. Quando Eva caiu, e guiou, Adão foi condenado; mas apenas quando Adão caiu a humanidade foi condenada. Sua recusa em liderar, ser guiado por ela, feriu toda a criação. Nada é retificado até que o homem lidere, portanto Cristo, o Novo Adão, que vai a nossa frente, nos lidera, ao carregar a cruz, que é o remédio para a falha em liderar. Quando os homens recusam liderar, então as mulheres enlouquecem. Então seu papel desempenhado no desastre aumenta.

Q: Como aconteceu a destruição da família? Quem são seus destruidores?

Pe. D: Em primeiro lugar, os protestantes que tiraram a Igreja e colocaram o indivíduo por si mesmo em frente a Deus. Isso solapou tanto a família quanto a sociedade. O Céu de Deus é uma “comunhão de Santos”, uma paróquia católica é uma comunidade de fieis, mas o homem deixado a si mesmo perde aquele senso do bem comum. A comunidade vivente começa a morrer. A sociedade e a família tornam-se meros conjuntos de indivíduos. Esse processo foi completado pelo industrialismo no século passado. Governos corruptos não mais buscaram fazer da sociedade uma comunidade vivente na qual todos os homens trabalham em primeiro lugar pelo bem comum. Em vez disso, os homens tornaram-se meras peças de engrenagem para lucro numa máquina industrial que é morta e que mata. Os lucros vêm em primeiro lugar. As famílias vêm em segundo lugar. O trabalho não é mais um serviço para um companheiro homem, mas um “emprego”. De fato as famílias agora são uma responsabilidade para os empregadores, um produto a ser faturado no salário dos “sustentadores da casa”. Daí os contratos, negociações, seguros, benefícios, greves, licença-maternidade, etc. O industrialismo foi a morte da família.

Q: Como marido e mulher podem, com a maior vontade do mundo, criar no lar uma ordem católica tal como eles nunca viram à sua volta?

Pe. D: Em primeiro lugar, por uma visão conjunta do fim ou propósito, do que eles querem que sua família católica seja. Em segundo lugar, de uma busca conjunta dos meios apropriados e dignos, para alcançar esta tão nobre visão. Em terceiro lugar, se for possível, que eles se associem com pelo menos duas outras famílias que buscam este fim.

Q: Poderá esse casal, com a maior vontade do mundo, manter-se firme perante a anti-sociedade como temos hoje, toda à volta deles?

Pe. D: Isso é uma questão de graça, constância e perseverança. A graça deve vir de sua Fé, os sacramentos, um sacerdote. A constância é de grande importância, especialmente da parte do pai. A constância constrói parâmetros, define limites, e deixa que todos saibam o que se espera deles. Um homem não pode estabelecer uma lei em sua família apenas por estabelecer uma lei, muito menos por fazer discursos inflamados e por agitação, mas por sua constância ele forma hábitos e costumes que são o maior suporte para a lei. Um homem que é constante pouco precisa fazer. Ele passa o tempo com sua família. Eles sabem o que ele espera e eles agem de acordo porque ele sempre espera a mesma coisa. Os humores não governam o seu lar, então seus membros são tranquilos, o que inspira confiança nele. Porque ele é constante, ele é o centro e a fonte da unidade, autor e unicidade, autoridade na harmonia. Passar tempo com sua família agora torna sua vida mais fácil mais tarde. Assim ele mesmo se beneficia de sua própria constância. Ele lidera, e, na Fé, a natureza é recriada em sua família pela graça.

Q: O senhor conhece alguns bons livros sobre reconstruir a família?

Pe. D: Aqui vão três: “Fatherless America” de David Blankenhorn (Harper Perennial, 10, E. 53rd St., New York, NY 10022: $14.00) retrata a gravidade da situação e enfatiza a necessidade de se livrar da “mentalidade de divórcio”. “Raising your children“, Integrity vol. II (Angelus Press, 2918 Tracy Ave., Kansas City, MO 64109: $ 18.50) apresenta uma rica variedade de tópicos sobre a questão. Por último, “Christian Fatherhood” de Stephen Wood (Family Life Center Publications, P.O. Box 6060, Port Charlotte, FL 33949: $12.95) apesar de seu tom protestante tem uma forte base católica, baseando a família no Sagrado Coração e no pai imitando São José.

Q: O quanto esses livros podem fazer?

Pe. D: Sem um professor ao vivo, pouco, a não ser que o pai da família seja ele mesmo um homem de disciplina e de visão.

Q: Quando um casal casado vem até o senhor em dificuldades, sem dúvida cada caso é diferente, mas ao mesmo tempo provavelmente o seu diagnóstico será feito ao longo de certas linhas, ou expectativas. Quais linhas? Quais expectativas?

Pe. D: O que o pai está fazendo? O que ele aprendeu a fazer, e onde? Então eu pergunto a mãe, que irá me inundar com histórias detalhadas! Sobre as expectativas, elas variam, dependendo do quão longe a desintegração chegou. O mínimo a ser obtido é constância, mesmo se os detalhes são pequenos.

Q: E se um cônjuge vem até o senhor sem o outro?

Pe. D: Quando isso acontece é comum que seja a esposa sem o marido, porque a negligência é geralmente por parte do marido que assim não se importa em ir, ou se recusa. Então eu escuto a esposa e tento esperar que o marido venha porque – falando em termos gerais – ou ele é a fonte do problema ou ele é aquele que precisa consertá-lo. Se ele vem, é um bom sinal. A pessoa é susceptível de ficar contra o orgulho e o ego masculino!

Q: O pároco é o melhor colocado para ajudar a família e o lar? Se sim, por quê?

Pe. D: O lar católico tendo sido baseado no Evangelho, Sagrada Eucaristia e Penitência, então o sacerdote como fonte destes é indispensável ao bem estar do lar católico. Para o sacerdote, é a mais séria obrigação, mas é também o que dá os seus frutos sacerdotais. Ele não tem filhos físicos, mas ele cria a imagem de Cristo em seus filhos espirituais.

Q: O quanto é que alguém pode fazer para ajudar quando não é um pároco?

Pe. D: Não muita coisa, porque o matrimônio católico é um mistério sobrenatural entre marido e esposa. Os amigos podem ajudar dando bom exemplo, ouvindo com compaixão e, o melhor de tudo, rezando.

Q: Qual o seu conselho sobre essas questões para seus colegas sacerdotes no dificílimo ministério atual?

Pe. D: Aprenda bem a doutrina da Igreja Católica sobre matrimônio e família, especialmente as encíclicas “Arcanum Divinae Sapientiae” de Leo XIII e “Casti Connubii” de Pio XI. Estabeleça padrões nobres para todos os membros da família. Pregue o tempo todo. Não se torne romântico ou tome uma visão sentimental dos problemas matrimoniais. Eles são reais. A vida de casado é difícil. Proclame em alta voz acima do estrépito do mundo moderno qual é o propósito e verdadeiro bem da vida de casado. As pessoas precisam que seja dada a elas a visão católica.

Q: O quanto aos Exercícios de Santo Inácio, podem ajudar?

Pe. D: Eles são um excelente “ponto de partida” e fonte de conversão. Entretanto, o mundo a nossa volta hoje com sua anti-cultura é tal que os que estão em retiro precisam nadar contra a corrente a partir do momento em que eles deixam a casa de Retiro. É por isso que se os princípios aprendidos dos Exercícios não forem continuados e apoiados num nível paroquial, de semana a semana, eles correm o risco de perder grande parte de sua força. Entretanto, metade ou mesmo um quarto de pão pode ser melhor do que nada.

Q: Que conselho o senhor pode dar a um casal com a família lutando muito longe de qualquer paróquia ou até mesmo acesso aos Exercícios de Santo Inácio?

Pe. D: Que marido e mulher estejam unidos no esforço de rezar e de aprender a doutrina da Igreja. Eles podem estar longe de qualquer paróquia ou sacerdote comum, mas sua união ainda é consagrada no santo matrimônio, então seu lar ainda é um santuário onde Deus é adorado. A situação nunca é sem esperança.

Q: Quanta importância o senhor dá a botar o aparelho de TV para fora de casa? E sobre os vídeos?

Pe. D: Televisão, como televisão, deve ser jogada fora. Quanto aos vídeos… ai ai ai! Se o pai de família é forte, talvez, uma vez a cada seis semanas… porque se ele é fraco, mesmo jogar fora o aparelho de TV não fará bem, e ele será incapaz de organizar a família em outro entretenimento, o que é necessário. Deste modo sem esse propósito, ele irá antagonizar a família e sua última posição corre o risco de ser pior do que a primeira. Por outro lado se ele é verdadeiramente o chefe da família e a lidera como esta deve ser liderada, então a comunicação e a interação entre os membros da família será em si desapegada do vicio familiar na televisão. Mais uma vez, isso se volta para o pai!

Q: Quanta importância o senhor dá as mulheres não usarem calças?

Pe. D: Quando a mente da mulher é informada pelo gracioso ideal de uma lady, ela irá naturalmente se voltar contra tal traje masculino. Talvez quando estiver trabalhando ela poderá ocasionalmente escorregar voltando a usar calças, mas se a nobre imagem da mulher é regularmente apresentada do púlpito, com talvez um gentil empurrão, ela irá perseverar até que o vestuário feminino se torne um hábito. “Calças nunca” então se torna uma realidade. Ao contrário, um comando de “nunca” e exigência imediata é muitas vezes artificial e falta base porque falta convicção e se apoia apenas na obediência. Na verdade, a maior parte da resistência da mulher ao vestuário feminino vem da ignorância sobre o verdadeiro papel da mulher.

Q: O quanto pode a ignorância ser superada com áudio ou vídeo?

Pe. D: Eles são úteis transportadores de informações, até certo ponto, mas eles nunca podem substituir um professor humano ao vivo (especialmente para as crianças!). O Evangelho é “encarnado” em e por seres humanos vivos. “A Fé vem pelo ouvido”, diz São Paulo.

Q: Sabe-se que o senhor é um grande crente na Entronização do Sagrado Coração de Jesus no lar. Qual o mínimo necessário da parte da família para que essa Entronização seja eficaz?

Pe. D: Partindo do princípio de que os pais sabem o que significa a Entronização, eles devem no mínimo ter o desejo que Deus seja verdadeiramente o centro de seu lar. “Onde há uma vontade, há um caminho”. Com Deus, a boa vontade vai longe.

Q: O senhor tem algum conselho final para as famílias, ou para os pais de família?

Pe. D: Os homens devem mover montanhas para passar tempo com suas famílias, especialmente as crianças que eles podem facilmente ignorar.

Carta de janeiro de 1999.

Traduzido de:

Bishop Richard Williamson. Letters from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary,. True Restoration Press.





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