terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Meditações para o tempo da Epifania (VIII)



SOBRE A PERDA DE JESUS NO TEMPLO

 
 
Segundo a narração de S. Lucas, Maria e José iam cada ano a Jerusalém para a festa da Páscoa, e levavam consigo a Jesus Menino. Nessas circunstâncias, ao menos na volta, os homens e as mulheres iam separadamente; assim exigia o costume dos hebreus, observa o Venerável Beda; e as crianças acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. Quando Nosso Senhor chegou à idade de doze anos, sucedeu-lhe ficar em Jerusalém durante três dias após a solenidade, julgando Maria estivesse ele com José, e José que estivesse com Maria.

O santo Menino passou todos esses três dias honrando a seu Pai eterno com jejuns, vigílias, preces, e com a assistência aos sacrifícios, que eram outras tantas figuras do grande sacrifício que Ele devia oferecer na cruz. Se é que então tomou algum alimento, diz S. Bernardo, teve de mendigá-lo; e se tomou algum repouso, não teve outro leito que a terra nua.

Chegada a tarde, Maria e José notam com dor a ausência de Jesus. Põem-se a procurá-lo entre os seus parentes e amigos, mas em vão. Voltam em fim a Jerusalém, e ao terceiro dia o encontram no templo a disputar com os doutores, espantados e cheios de admiração ao ouvirem as perguntas e as respostas daquele Menino extraordinário.
Não há na terra pena semelhante à duma alma que ama a Jesus, e que teme Jesus se tenha dela apartada por causa dalguma falta. Tal foi a extrema aflição de Maria e José naqueles três dias em que foram privados da presença de Jesus; como diz o devoto Lanspérgio, a sua humildade lhes fazia temer terem-se tornado indignos de guardar tão precioso tesouro. Eis por que, ao revê-lo, Maria lhe disse com ternura: Meu Filho, por que fizestes assim conosco? vosso pai e eu vos procurávamos com o coração repleto de dor. — Não sabíeis, respondeu-lhe Jesus, que devo ocupar-me das coisas que são do serviço de meu Pai?

Aprendamos duas coisas desse mistério: a primeira, que devemos abandonar tudo, amigos e parentes, quando se trata de trabalhar para a glória de Deus; a segunda, que Deus se faz achar por aqueles que o procuram


Afetos e Súplicas.

Ó Maria, chorais porque perdestes vosso Filho durante alguns dias. Ele afastou-se dos vossos olhos, mas não do vosso coração: não vedes que o puro amor de que estais por Ele abrasada, o conserva estreitamente unido a vós? Sabeis que quem ama a Deus não pode deixar de ser amado por Deus, que disse: Amo os que me amam, e pelos lábios de S. João: Quem permanece na caridade, permanece em Deus, e Deus nele. Que temeis, pois? por que chorais? Deixai as lágrimas para mim, que tantas vezes perdi a Deus por minha culpa expulsando-o da minha alma!

Ah! meu Jesus, como pude ofender-vos deliberadamente, sabendo que pelo pecado eu vos perdia? Mas não quereis que desespere um coração que vos procura; mas, ao contrário, que se alegre. Se outrora me afastei de vós, ó meu amor, agora eu vos procuro, e só procuro a vós. Contanto que possua a vossa graça, renuncio a todos os bens e a todos os prazeres da terra, renuncio mesmo à vida. Dissestes que amais os que vos amam; eu vos amo, amai-me pois também. Prefiro o vosso amor à posse do mundo inteiro. Meu Jesus, não quero mais perder-vos; mas não posso contar com minhas próprias forças, ponho em vós toda a minha confiança. É em vós, Senhor, que espero; não serei confundido eternamente. Por favor, prendei-me a vós e não permitais me suceda ainda separar-me de vós.

Ó Maria, que me fizestes tornar a encontrar o meu Deus, que eu perdera, obtende-me ainda a santa perseverança. Digo também a vós com S. Boaventura: “Espero em vós, Soberana minha, e não serei confundido eternamente”.

(Aqui termina a última postagem das meditações para o tempo da Epifania).

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

(Grifos nossos)

 

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