Por Fr. Frutuoso
Hockenmaier, O.F.M.
Ainda que tudo o
que é desonesto é indecente, nem tudo o que é indecente se pode chamar
desonesto. Não se confunda, pois a indecência com a desonestidade. Conversas e
expressões referentes a coisas baixas e inconvenientes são falsamente julgadas
desonestas. O mesmo se deve pensar de certas conversas sobre namoros, modas e
diversões profanas, em que não se diz qualquer coisa menos conveniente.
Nas mesmas
expressões impuras devemos distinguir aquelas que são aberta e diretamente más
e que ordinariamente arrastam à impureza, e aquelas que só remota e
encobertamente se referem a coisas impuras e apenas levemente induzem ao
pecado. Estas expressões, principalmente quando ditas por gracejo ou leviandade
e sem complacência e impureza, não são tão pecaminosas como as outras; todavia
o seu perigo cresce a medida que os interlocutores são falhos de virtude e
inclinados à luxúria. O pecado será tanto mais grave, quanto maior for o
perigo.
Não se esqueça
que os pensamentos maus a ninguém escandalizam, ao passo que as conversas
livres más, por leviandade, brincadeira, ou «para divertir a companhia» como se
costuma dizer, dão quase sempre ocasião a maus pensamentos e desejos de pecados
talvez gravíssimos, tanto internos como externos. Que tristes efeitos resultam
das conversas levianas e impuras!
Uma criada de
servir tinha o costume de entremear sempre nas suas conversas palavras levianas
e frases inconvenientes, apesar das admoestações constantes duma companheira
que não cessava de dizer:
– À hora da morte
chorarás amargamente esse mau costume, mas talvez sem proveito.
Uma tarde foram
as duas visitar a criada dum vizinho gravemente enferma a qual, depois de ter
suplicado que orassem por ela para que lhe concedesse uma boa morte,
acrescentou:
– Uma coisa,
sobretudo me aflige: ter misturado nas minhas conversas, palavras e frases
obscenas. O meu confessor bem me dizia: quantos maus pensamentos e talvez más
ações cometidas pelo próximo, que te serão imputadas à hora da morte! Agora
vejo eu quanta razão ele tinha! Peço-vos que esqueçais as minhas más palavras,
não siga meus exemplos, e dizei o mesmo às minhas companheiras. Todas as vezes
que entrardes no cemitério e deitardes água benta sobre a minha campa, pensai
que me ouvis dizer lá debaixo da terra: Guardai-vos de conversas desonestas,
que pesam terrivelmente sobre o coração no leito da morte.
Todas as pessoas
presentes ficaram profundamente impressionadas, e mais que todas a leviana
criada, que na volta disse à companheira:
– Parecia-me que
estava sobre brasas; prometo a Deus que nunca mais hei de sujar meus lábios com
palavras desonestas.
Como é verdadeira
a palavra do Salvador: «Ai daquele homem por quem vem o escândalo!»
Havendo justo
motivo para falar de coisas impuras ou perigosas, empregue-se o maior recato e
sobriedade, evite-se toda a má intenção e haja todo o cuidado em não
escandalizar as pessoas com quem se fala.
Quanto a assistir
a conversas desonestas ou indecentes, nota o seguinte: Não gostando das coisas
que se dizem, mas somente do modo como se dizem, não é pecado grave ouvi-las.
Mas se mostras agrado, rindo-te, e dás assim calor a quem fala para continuar,
e aos outros ocasião de escândalo, então há perigo de pecares mortalmente.
Não haverá pecado
se, quando a conversa descamba para coisas torpes, te retiras ou, não o podendo
fazer, procuras levá-la para outro assunto.
Há, porém,
ocasiões em que nenhum destes meios e exeqüíveis. Então necessário se torna não
consentires; e para não haver escândalo, deves mostrar-te desgostoso e
desaprovar externamente tais conversas baixando os olhos, ponde-te sério, ou de
qualquer outra maneira.
Os pais e
superiores estão obrigados a cortar energicamente todas as conversas impuras ou
indecentes entre as pessoas que lhes estão subordinadas.
(O Cristão no
Tribunal da Penitência pelo Fr. Frutuoso Hockenmaier, O.F.M, tradução do P.
Inocêncio do Nascimento, 3ª edição, 1949.)
Fonte A Grande Guerra
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