sábado, 28 de julho de 2012

Necessidade da intercessão de Maria para nossa salvação (Parte IV)


Necessidade da intercessão de Maria
para nossa salvação

(Santo Afonso de Maria Ligório)




4. Refutação e demonstração
Seja-me permitido recordar entretanto ao autor uma distinção que ele mesmo faz. No seu livro acentua tamberr a diferença entre a mediação de justiça, em vista dos méritos, e a mediação de graça, por via de intercessão. t do mesmo modo uma coisa é dizer que Deus não possa, e outra que Deus não queira conceder as suas graças sem intercessão de Maria. Nós confessamos que Deus e a 1. de todos os bens e o Senhor absoluto de todas as graça Confessamos também que Maria não é mais que uma, criatura e que, quanto obtém, tudo recebe de Deus gi tamente. Mais que todas as outras, esta sublime c na terra também o honrou e amou, sendo por ele escc para Mãe de seu Filho, o Salvador do mundo. Querei exaltá-la de um modo extraordinário, determinou por i o Senhor que por suas mãos hajam de passar e sejam concedidas todas as mercês dispensadas às almas remi­das. Não é muito rezoável e muito conveniente uma tal suposição? Quem poderá dizer o contrário? Não há dú­vida, confessamos que Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça, porque por seus méritos nos obtém a graça e a salvação. Mas ajuntamos que Maria é medianeira de gra­ças, e como tal pede por nós em nome de Jesus Cristo e tudo nos alcança pelos méritos dele. Assim, pois, à inter-cessão de Maria devemos, de fato, todas as graças que solicitamos. Nada há nisso de contrário aos sagrados dogmas. Ao invés, o que há é pie na conformidade com os sentimentos da.Igreja. Nas orações por ela aprovadas, ensina-nos a recorrer sempre à Mãe de Deus e a invocá-la como "salvação dos doentes, refúgio dos pecadores, auxí­lio dos cristãos, vida e esperança nossa". Nas festas da Santíssima Virgem aplica-lhe no ofício palavras dos Li­vros da Sabedoria e assim nos dá a entender que nela acharemos toda esperança. "Em mim há toda a esperança da vida e da virtude" (Eclo 24, 25). Em suma acharemos em Maria a vida e a nossa salvação. "Quem me acha, achará a vida e haurirá do Senhor a salvação" (Pr 8, 35). Lemos numa outra passagem: "Os que operam por mim não pecarão; aqueles que me esclarecem terão a vida eterna" (Eclo 24, 30). Tudo está nos mostrando quão necessária nos é a intercessão de Maria.

Nessa convicção confirmaram-nos muitos teólogos e Santos Padres. Injustiça fora afirmar que eles, como diz o sobredito autor, exaltando Maria, tenham caído em hipér-boles e exagerações desmedidas. Tanto uma como outra saem dos limites do verdadeiro. Não podemos, pois, atribuí-las aos santos que falaram inspirados por Deus, que é espírito de verdade.
Permitam-me fazer aqui uma breve digressão, para externar o que sinto. Quando uma sentença de qualquer modo honrosa para a Santíssima Virgem tem algum fun­damento e não repugna à verdade, deixar de adota-la c combatê-la, porque a sentença contrária pode também ser verdadeira, é indício de pouca devoção à Mãe de Deus. Não quero estar, nem desejo ver meus leitores entre esses poucos devotos de Maria. Desejo pelo contrário vê-los entre os que crêem plena e firmemente tudo quanto sem erro podem crer das grandezas de Maria, segundo as pala­vras do abade Roberto, que conta semelhante fé entre um dos obséquios mais agradáveis a Maria. Quando não hou­vesse outro a nos livrar do temor de ser excessivo nos louvores de Maria, bastava o Pseudo-Agostinho para fazê-lo. Conforme suas palavras, tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus. Confirma isto a Santa Igreja, a qual faz ler na Missa da Santa Virgem as seguintes palavras: Bem-aventurada és tu, Santa Virgem Maria, e mui digna de todo louvor.

Voltemos, porém, ao nosso assunto e vejamos o que dizem os Santos Padres sobre a sentença proposta. Se­gundo S. Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: Antes do nasci­mento da Santíssima Virgem, não existia para todos essa torrente de graças, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo — continua ele — a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas.
Que lhe arrebentassem os aquedutos, foi a ordem dada por Holofernes para tomar a cidade de Betúlia (Jt 7, 6). Assim o demônio também envida todos os esforços para acabar com a devoção à Mãe de Deus nas almas. Pois, cortado esse canal de graças, mui fácil se lhe torna a conquista. Consideremos, portanto, continua S. Ber­nardo, com que afeto e devoção quer o Senhor que honre­mos esta nossa Rainha. Consideremos o quanto deseja que a ela sempre recorramos e em sua proteção confiemos. Pois em suas mãos depositou a plenitude de todos os bens, para nos tornar cientes de que toda esperança, toda graça, toda salvação, a nós chegam pelas mãos dela. A mesma coisa declara S. Antônio. Todas as misericórdias dispen­sadas aos homens lhes têm vindo por meio de Maria.

É por isso Maria comparada à lua. Colocada entre o sol e a terra, a lua dá a esta o que recebe daquele, diz S. Boaventura; do mesmo modo recebe Maria os celestes influxos da graça para no-los transmitir aqui na terra.

(continua)


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