sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Em Defesa de Dom Williamson (I)




Por Dom Tomás de Aquino



Dom Williamson escreveu no seu Comentário Eleison 438: “Se a evidência dos milagres ocorridos dentro da Igreja do Novus Ordo é tão séria quanto parece, então os católicos têm de conformar suas mentes à mente de Deus, e não o inverso.”

Muitos atacaram Dom Williamson por causa destes comentários a respeito do possível milagre eucarístico ocorrido em Buenos Aires. Entre os argumentos utilizados retenho os seguintes:

1- Fora da Igreja não pode haver milagres. A Igreja conciliar não é a Igreja católica. Logo não houve milagre em Buenos Aires.
2-Ninguém age sem um fim. Um milagre na Missa Nova não poderia ter outro fim senão induzir os fiéis a assistir à Missa Nova. Logo, não houve milagre em Buenos Aires.
3-O milagre é a assinatura de Deus. Deus não pode assinar uma heresia. A Missa Nova favorece a heresia. Logo, não houve milagre em Buenos Aires.

Vejamos cada um desses argumentos.

1- O primeiro simplifica em demasia a questão e simplificando-a confunde duas questões. Uma é a de saber se pode ou não haver milagres fora da Igreja. A outra é a de saber se a Igreja conciliar é totalmente alheia à Igreja católica ou não.

À primeira questão deve-se responder com santo Tomás que sim. Pode haver milagres “fora da Igreja” dentro de certas condições. Veja-se os artigos do Prof. Carlos Nougué a esse respeito. O que Deus não faz é confirmar o erro ou o vício com um milagre, mas ele pode confirmar a verdade ou a virtude com um milagre, e isto mesmo entre os pagãos. Se alguns bens foram realizados entre os pagãos, estes bens foram realizados por inspiração ou ação de Deus (cf. De Potentia, questão VI, artigo V, ad 5um). No mesmo artigo Santo Tomás diz ser possível que Deus tenha feito um milagre para atestar a castidade de uma virgem pagã. Pode-se lembrar também o milagre da mula de Balaão que falou distintamente, como se lê nas Sagradas Escrituras. Ora, Balaão era um mago pagão. A mula falou porque Deus queria adverti-lo de que não levasse adiante seu intento de amaldiçoar os judeus (Num XXII).

À segunda pergunta deve-se responder que as autoridades da Igreja conciliar constituem uma seita modernista que, ocupando os postos-chave da Igreja, a mantêm cativa. Não se pode dizer de maneira absoluta que a Igreja conciliar seja a Igreja católica, nem que não o seja. Pela doutrina modernista e pela intenção de destruir a Igreja católica, ela não o é, evidentemente; mas pelo fato de deter em seu poder uma jurisdição que pertence à Igreja católica ela tem algo de católico em seu poder. Se o Papa atual se convertesse, exerceria catolicamente um poder que hoje ele exerce modernisticamente.


Esta parece-me ter sido a posição que Dom Lefebvre sempre adotou.

2- Ninguém age sem um fim. Mas que fim Deus poderia ter fazendo um milagre na Missa Nova?

Dom Faure já respondeu a esta pergunta. Se Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada numa Missa Nova com o agravante de esta hóstia ter sido profanada, não parece absurdo que Deus faça um milagre para indicar a gravidade desta profanação.

Mas, dirão alguns, Dom Williamson citou também um suposto milagre ocorrido na Polônia. O mesmo raciocínio se impõe. Onde há presença real, pode haver milagre sem se faltar à verdade.

Mas não seria isso aprovar a Missa Nova?

Não, assim como não é aprovar o paganismo demostrar, através de um milagre, a inocência de uma virgem pagã.

3- O milagre é uma assinatura de Deus, e Deus não pode assinar uma heresia. Mas este milagre, se milagre houve, não é uma assinatura do novo rito da missa, mas sim da presença real. O sacramento recebido na Igreja conciliar pode ser verdadeiro e a doutrina que o acompanha pode ser falsa. Mas são duas coisas distintas. Uma não anula a outra. Afirmar um, mesmo com milagre, não é afirmar o outro, assim como provar a inocência de uma virgem pagã não é aprovar o paganismo.

Os argumentos apresentados não me parecem conclusivos Seja como for, eles não podem servir para desacreditar a Dom Williamson, que permanece o Bispo que se opôs à política suicida dos acordistas e que sagrou Dom Faure, ordenou padres para a Resistência, confirmou inúmeros fiéis, dando assim a todos a esperança de continuar o bom combate de Dom Lefebvre, o qual não é outro senão o bom combate da Santa Igreja una, católica, apostólica e romana e, como dizia São Pio X, perseguida.




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