terça-feira, 25 de junho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 6




CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

CAPÍTULO II 
ESTUDO DA VOCAÇÃO 

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937


Disposições necessárias para estudar a vocação

33. — Estais para começar este importante estudo da vocação. Para fazê-lo com fruto, três disposições são necessárias: o espírito de oração, a indiferença e o ânimo da vontade.

34. — Por que motivo a oração? Todas as luzes nos vêm de cima. Portanto, em todas nossas dificuldades devemos procurar a luz do lado do céu. Enquanto Deus, como um sol divino, não se levanta acima do horizonte de nossa alma, ela permanece como que envolvida em espessas trevas. Em que negócio a luz de Deus poderia ser-nos mais necessária do que na escolha de um estado de vida?

Porque o negócio consiste então em descobrir qual é a vontade de Deus a nosso respeito. Este segredo, Deus o leva no fundo de Seu Coração e não o revela senão aos que o pedem pela oração. Oh! como Ele deseja iluminar-vos, como Ele quer dizer-vos a palavra do enigma de vosso destino, como gosta de declarar-vos, quanto antes, que vos reservou um lugar de predileção nas fileiras de seu exército de elite, de sua guarda de honra! mas está com a resolução de não revelar todo o segredo se não o solicitardes. Já enunciou as primeiras sílabas deste segredo nas palavras misteriosas que vos ecoaram fundo na consciência e vos despertaram tantos sentimentos no coração; mas não acabará seu discurso se não o constrangerdes a descobri-lo até o fim.

«Batei e a porta vos será aberta,» diz Ele, no Seu santo Evangelho. É pela oração que podereis bater na porta de Deus. Até obterdes uma resposta, não vos canseis de importuná-lO. De manhã e de noite, muitas vezes também durante o dia, interrogai-O? «Mostrai-me, Senhor, o caminho em que devo entrar.» Fazei intervir a onipotente influência de Maria Santíssima; nesta intenção rezai o terço todos os dias. Retirai-vos mesmo durante alguns dias, em um lugar silencioso; longe de qualquer agitação, rezareis melhor, escutareis mais atentamente. Nenhuma prática é mais eficaz do que o retiro para descobrir a vontade de Deus. Pedi as orações dos que vos amam; o céu tem prazer em não ceder senão diante desta santa violência da oração que se adianta como um exército em ordem de batalha.

Não acrediteis porém que para atender a vossa oração, Deus há de enviar-vos um anjo visível que vos trace o caminho. Atender-vos-á sem milagre, dispondo vosso coração e dirigindo vossos conselheiros de modo tal que façais com felicidade o que Ele decretou para vós.

35. — Quando se fala em indiferença, não se entende aquele descuido de uma alma que não toma nenhum interesse na questão de sua vocação, que não quer experimentar nenhuma inclinação de preferência a outra. Tal descuido é próprio de uma alma leviana e não de uma alma séria: tal alma não procura seu norte para segui-lo depois, mas deixa-se virar para qualquer lado como o insignificante catavento ao menor sopro; tal alma não é atraída pela luz de Deus, antes delia foge.

A indiferença que se deve trazer no estudo da vocação, é uma dependência absoluta da vontade de Deus. Se começardes um retiro para examinar o caminho que deveis seguir, não deveis dizer: «Custe o que custar, quero absolutamente entrar na religião: fora dali nenhuma outra carreira me é possível; tudo está perdido para mim se vier a perder este caminho.» Não direis nem tão pouco: «A vida religiosa não é lá comigo; tenho demais relações que me prendem ao mundo para que possa quebrá-las; muitos sacrifícios me seriam impostos, não teria bastante coragem para aceitá-los.»

Em lugar de tais decisões, tomadas de antemão, antes de qualquer exame, deveis estar na disposição seguinte: «Ao começar este estudo, este retiro, abandono-me completamente à vontade de Deus, tal como há de me ser manifestada por meu diretor. Se for preciso renunciar a meus desejos de vida religiosa, estou pronto a ficar no mundo onde hei de trabalhar tanto quanto for necessário para me criar uma posição: mas de nenhum modo quero arrebatar um lugar que não me fosse destinado. Pelo contrário, se eu souber que minha vocação é séria, que devo segui-la, nada será capaz de me deter: quebrarei todos os vínculos, pisarei aos pés todos os prazeres, renunciarei a adquirir riquezas, entregarei nas mãos de Deus todo meu ser perfeitamente livre.»

36. — Uma alma precisa de muita coragem para se estabelecer nesta santa disposição de indiferença. A pobre natureza humana gosta de agitar-se; aquietá-la, reduzi-la ao silêncio, submetê-la ao jugo da obediência a Deus, é o trabalho de uma grande energia de caráter.

Corajoso para permanecer indiferente, deveis sê-lo também para executar a decisão que foi tomada. Diante de uma decisão, não sejais nem hesitante, nem pusilânime.

Certos espíritos inconstantes nunca podem resolver coisa alguma: gastam as forças em discutir o pró e o contra; nas mãos deles a balança oscila sempre; apenas parece pender para um lado, que põem logo o dedo para que penda do outro lado. São muito para lastimar porque perdem os melhores anos da vida em hesitações estéreis, discutindo sempre a respeito do melhor modo de trabalhar; na realidade nunca trabalham. Se observardes em vós tal hesitação, pedi a vosso diretor que tenha a bondade de dar-vos uma decisão categórica e vos obrigue a segui-la sem discussão.

37. — Outros hesitam apenas por pusilanimidade, por falta de coragem. — Quando o diretor lhes declara que não têm vocação, estão tremendo diante das consequências: se já tiverem entrado em algum noviciado, estão com vergonha de voltar para traz, receiam por respeito humano; os trabalhos da vida, no mundo, os espantam; as incertezas de uma nova carreira os perturbam; seria tão fácil continuar a jornada em um caminho que estão apreciando desde tanto tempo! — Quando o diretor lhes diz que sua vocação é séria e é preciso segui-la quanto antes, entram a inquietar-se, a calcular, a ficar com medo: como anunciar a notícia à família e sustentar o assalto de todos? Depois como vai ser duro deixar tudo, família, amigos, renunciar a projetos tão caros, sacrificar tantos prazeres inocentes sepultar-se no túmulo de um noviciado ou de um seminário! Como desconhecem as alegrias que os esperam na vida religiosa, compreende-se que hesitem em atravessar a barreira que há de separá-los do mundo. Mas se soubessem!...

Tende confiança, jovem amigo, e armai-vos da oração para vencer qualquer hesitação: o que Deus vos disser, fazei-o; no caminho que vos indicar, entrai sem receio.



 Fonte: A Grande Guerra

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