terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Meditações para o Natal (V).



Ele tomou a forma e a natureza de servo (Fl 2,7).


O Verbo eterno desce à terra para salvar o homem. Donde desce Ele? A sua saída é do mais alto dos céus, diz o Salmista. Desde do seio de Deus seu Pai, onde foi gerado desde a eternidade entre os esplendores dos Santos. — E aonde desce? desde ao seio duma Virgem, filha de Adão, isto é, a um lugar que, comparado ao seio de Deus, não é senão um horror; daí o cântico da Igreja: “Não tivestes horror do seio da Virgem”. Sim, porque o Verbo, estando no seio do Pai, é Deus como Pai, é imenso, onipotente, infinitamente feliz, soberano Senhor do universo, em tudo igual a seu Pai; mas no seio de Maria, ele é criatura, é pequeno, fraco, padecente, servo, inferior a seu Pai: Ele tomou, diz S. Paulo, a forma de servo.

Contam de S. Aleixo, como grande prodígio de humildade, que sendo filho dum senhor romano, quis viver como servo na casa de seu pai. Mas que é a humildade desse Santo em comparação da de Jesus Cristo? Entre filho e servo do pai de S. Aleixo havia alguma diferença de condição; mas entre Deus e servo de Deus há uma distância infinita. Ademais, fazendo-se o Filho de Deus servo de seu Pai, se fez também, para lhe obedecer, servo de suas criaturas, isto é, de Maria e de José; pois o Evangelho atesta que lhes estava sujeito. Ainda mais, obedeceu até a Pilatos que o condenou à morte, pois que se submeteu a essa injusta sentença, obedeceu aos carrascos quando o quiseram flagelar, coroar de espinhos e crucificar; submeteu-se humildemente a todos e entregou-se às mãos de seus inimigos.

Oh! Deus, recusaremos diante disso pôr-nos ao serviço desse amável Senhor que para salvar-nos se sujeitou a tantas servidões dolorosas e humilhantes? E para não sermos servos desse Senhor tão grande e amante, consentiremos em tornar-nos escravos do demônio, que, longe de amar os seus servos, os odeia e tiraniza, os torna infelizes nesta e na outra vida? Ah! se cometemos essa loucura no passado, por que não saímos imediatamente dessa miserável escravidão? Coragem pois! já que pela graça de Jesus Cristo fomos libertados da escravidão do inferno, abracemos logo e apertemos com amor as doces cadeias que nos fazem servos e amigos do Filho de Deus, e que nos obterão uma coroa no reino eterno entre os bem-aventurados do paraíso.


Afetos e Súplicas.

Meu amado Jesus, sois o Rei do céu e da terra; mas por amor de mim vos fizestes servo; obedecestes aos vossos próprios carrascos que vos despedaçaram as carnes, traspassaram a fronte e vos pregaram na cruz para morrerdes de dor. Adoro-vos como seu Senhor e meu Deus, e me acanho de aparecer diante de vós ao lembrar-me que por miseráveis satisfações rompi tantas vezes os vossos santos laços e vos disse em face que não queria mais servir-vos; sim, com justiça me lançais em rosto: Quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços, e disseste: Não servirei. Mas, ó meu Salvador, o que me faz esperar o perdão, são os vossos méritos e a vossa bondade, que não despreza um coração contrito e humilhado: Não, meu Deus, não desprezeis um coração que se arrepende e se humilha. Meu Jesus, confesso que fiz mal desgostando-vos; reconheço que mereço mil infernos pelas ofensas que vos fiz; castigai-me como quiserdes, mas não me priveis da vossa graça e do vosso amor. Arrependo-me sobretudo de vos haver desprezado. Amo-vos de toda a minha alma. Tomo a resolução de no futuro servir e amar só a vós. Ah! pelos vossos méritos ligai-me pelas cadeias de vosso santo amor, e não permitais que eu as torne a sacudir de mim. Amo-vos sobre todas as coisas, ó meu Libertador, prefiro ser vosso servo a ser senhor de todo o universo: de que serve o mundo inteiro a quem está privado da vossa graça? Dulcíssimo Jesus, não permitais que me separe de vós, não permitais que me separe de vós. Essa graça eu vo-la peço e quero pedi-la sempre; rogo-vos me concedais hoje a graça de repetir-vos em toda a minha vida esta súplica: Meu Jesus, não permitais que me separe mais de vós e do vosso amor.

Essa graça peço também a vós, ó Maria minha Mãe; ajudai-me com vossa intercessão a não mais me separar de meu Deus.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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