quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Meditações para o Natal (XI)



Ele tomará sobre si as suas iniqüidades (Is 53,11).


Considera que o Verbo divino, fazendo-se homem, não quis só tomar a forma do pecador, mas ainda, diz Isaías, carregar-se de todos os pecados dos homens, a fim de sofrer ele mesmo a pena: Iniquitates eorum ipse portabit; e isso, ajunta o Pe. Cornélio, como se Ele os tivesse cometido. Reflitamos aqui em que opressão e em que angústias se achou o coração de Jesus Menino quando, carregado de todas as iniquidades do mundo, viu a justiça divina reclamar-lhe plena satisfação.

O Salvador via claramente a malícia de cada pecado, pois que pela luz de sua divindade conhecia, infinitamente melhor do que todos os homens e anjos, a bondade infinita de seu Pai e seus direitos infinitos ao respeito e ao amor de suas criaturas; doutro lado, tinha sob os olhos a multidão inumerável dos pecados que cometeram e cometeriam ainda os homens, pelos quais devia sofrer e morrer. O Senhor fez ver um dia a S. Catarina de Gênova a fealdade duma falta venial; a tal vista foi tanto o susto e a dor da Santa que caiu desfalecida. Que dor terá sido então a de Jesus Menino ao ver, logo ao entrar no mundo, o horrível amontoado de crimes a expiar!

Conheceu então em particular todos os pecados de cada um de nós, observa S. Bernardino de Sena. E, acrescenta o Cardeal Hugo, “se os algozes crucificando Jesus, o atormentaram exteriormente, nós com nossos pecados o atormentamos interiormente”. Com outras palavras, cada um dos nossos pecados fez a alma de Jesus sofrer seu corpo. Eis como correspondeu ao amor do divino Redentor quem se lembra de havê-lo ofendido com o pecado mortal.

Afetos e Súplicas.

Meu amado Jesus, eu que vos ofendi não sou digno de vossas graças; mas pelo mérito da pena que sofrestes e oferecestes a Deus vendo todos os meus pecados e satisfazendo por mim à justiça divina, comunicai-me uma parte da luz com que conhecestes então a sua malícia, e do horror que deles sentistes. Ó meu amável Salvador, é pois verdade que a cada momento da vossa vida, mesmo desde o seio de vossa Mãe, fui o algoz do vosso coração, e um algoz mais cruel do que todos os que vos crucificaram! E esse suplício eu o renovei e aumentei sempre que vos ofendi! Senhor, morrestes para salvar-me; mas a vossa morte não basta para a minha salvação, se de meu lado não tenho verdadeiro arrependimento das ofensas que vos fiz, e se as não detesto sobre todas as coisas. Mas mesmo essa contrição devo esperar de vós. Vós a concedeis a quem a pede; eu vo-la peço pelo mérito de tudo o que sofrestes sobre a terra; dai-me dor dos meus pecados, e uma dor proporcionada à minha malícia. Meu Jesus, ajudai-me a fazer esse ato de contrição, que agora quero fazer. — Padre eterno, Bem infinito e supremo, eu miserável verme da terra tive a audácia de ultrajar-vos e de desprezar vossa graça; detesto e abomino sobre todas as coisas as injúrias que vos tenho feito; arrependo-me de todo o meu coração, menos por haver assim merecido o inferno do que por haver ofendido a vossa infinita bondade. Pelos méritos de Jesus Cristo espero de vós o perdão, e com o perdão a graça de amar-vos. Amo-vos, ó Deus digno de amor infinito, e quero repetir sem cessar: Amo-vos, amo-vos, amo-vos. E como vos dizia S. Catarina de Gênova, vossa fiel serva, quando se ajoelhava diante do Crucifixo, também eu vos digo agora prostrado aos vossos pés: “Senhor, não mais pecados, não mais pecados!” — Ah! não mereceis ser ofendido, meu Jesus, mereceis unicamente ser amado. Meu Redentor, ajudai-me.

Maria, minha Mãe, assisti-me; outra coisa não vos peço senão a graça de amar a Deus o resto da minha vida.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório)

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