segunda-feira, 2 de julho de 2012

Televisão Parte I - A Presença da Televisão


A Presença da Televisão



Os telespectadores da televisão francesa gastam 3 horas e 26 minutos por dia em frente a TV. O instituto que conduziu o estudo não explicou como esse resultado foi obtido. Há uma média derivada dos espectadores habituais, dos espectadores ocasionais, e dos que não assistem? Se sim, o tempo real gasto pelos espectadores habituais é muito maior. Além disso, estudos a partir de pesquisas mostram que os espectadores de TV subestimam a quantidade de tempo passado em frente à tela. Quando pesquisadores tomam o tempo para adicionar as horas realmente gastas em frente à TV, baseados na duração dos programas ou filmes assistidos, o número de horas é bem maior do que os espectadores estimam.
Duas explicações são possíveis: ou os espectadores de TV não contam o tempo corretamente ou eles têm um pouco de vergonha em admitir a quantidade de tempo que eles realmente gastam e preferem esconder isso.
De acordo com o Mediametrie (1), a quantidade de tempo gasta assistindo TV aumenta anualmente, mesmo pensando que os videogames parecem ter destronado a televisão entre os adolescentes e jovens adultos. De acordo com a estatística de Quebec, a televisão é a atividade principal da família. A expressão é paradoxal, pois isso não envolve uma atividade e o efeito na vida da família é essencialmente nocivo.
Infelizmente é verdade que a televisão regula a vida da maioria das famílias ocidentais: eles acordam, comem, jantam numa mesinha tipo bandeja vendida numa promoção de uma grande loja, põem as crianças para dormir, ou fazem planos dependendo da programação dos programas da TV.
A televisão também impõe seu ritmo às organizações, cidades e igrejas: as pessoas não vão a um evento se um programa sendo televisionado é mais atrativo. Quando o horário da Missa é modificado, as pessoas reclamam porque elas vão perder o futebol de domingo ou outro programa qualquer. Outras estatísticas contam que o guia da televisão é a única publicação lida pela maioria das famílias.
Em qualquer tipo de conversa sobre qualquer assunto tornou-se lugar comum fazer algum tipo de referência ao audiovisual ou ao que alguém viu na televisão. Se você dá lições de canto às suas crianças, é porque elaes viram certo filme; se seus filhos praticam esportes, é porque eles assistiram a isso na TV.
Acontece com frequência em paróquias que os sermões da Missa Nova começam com um resumo das noticias. [Nesse contexto] fazer uma prece universal consiste em pegar algum evento espetacular da atualidade e adicionar algumas invocações a isso. Costumava haver uma prece universal nas Igrejas Católicas Orientais (e nos ritos Galicanos e Ambrosianos), mas o texto estava fixo no missal e a prece universal era dita no altar, enquanto o padre e os fiéis se voltavam para o Senhor. Como o Mons. Klaus Gamber notou: “Em nossa época estamos testemunhando as mais rudes digressões na livre elaboração dessa prece. Até mesmo as fórmulas apresentadas aos fiéis em coleções ad hoc são escassamente usáveis” (2).
Como os espectadores habituais avaliam a televisão? Algumas vezes positivamente, tanto que em algumas conversas você vai ouvir algumas vezes comentários favoráveis: é uma tremenda ferramenta cultural, é uma abertura para o “mundo real”, você pode aprender bastante, você pode ficar ciente da miséria espalhada pelo mundo, ajuda a passar o tempo, é relaxante após um longo dia de trabalho, ou me ajuda a sonhar acordado.
O Pe. Marcel Jousse, o bardo da civilização oral, imitação e memorização, disse: “Uma civilização baseada nas coisas, mimodramática de amanhã será acordada pelo uso educativo e universal da televisão” (3). Já passou o tempo de admitir o óbvio: a TV não ajudou a acordar uma civilização “baseada nas coisas” e mimodramática. Ela a tem destruído.
Por outro lado, os espectadores de TV expressam algumas criticas sobre a televisão: Eu fico abobalhado em frente à televisão após o trabalho, você se torna passivo, as crianças pensam apenas em TV – nada mais as interessa, não há mais vida em família, as crianças fazem seu trabalho sem cuidado, não há nada belo, ou você vê muita violência.
Cedo ou tarde, todos nós temos que fazer escolhas: televisão em casa ou não? Uso moderado ou não? Tolerância relutante ou oposição com todas as forças? A melhor coisa é fazer uma escolha que considere todos os aspectos da televisão e da mídia audiovisual em geral. Filmes, vídeos, e DVDs possuem pontos em comum bem como diferenças com relação a TV. As diferenças basicamente residem na quantidade, e algumas vezes, no conteúdo.
Muitos espectadores de televisão justificam seu uso por razões educacionais: “é para saber o que está se passando no mundo, para ficar informado, para estar ciente do que está acontecendo, para que as crianças possam participar de debates na escola”.
Na realidade, na prática diária, a televisão se torna rapidamente outra coisa do que um meio para se estar informado. Dessa consideração procedem as duas questões principais examinadas nesse estudo: 1) Como a televisão afeta a capacidade do intelecto para apreender a verdade? 2) Como a televisão afeta a capacidade de amar aquilo que é bom?
Traduzido de La Télévision, ou le péril de l’esprit (copyright Clovis, 2009)

Notas:
(1) Uma organização independente francesa especializada em fazer medições sobre a audiência da mídia de massa. Essa organização atende a produtores que desejam avaliar o desempenho de seus programas.
(2) La réforme liturgique en question (Ed. Sainte-Madeleine, 1992).
(3) Marcel Jousse (1886-1961) foi o Filho único de uma mãe iletrada que sabia o Evangelho de domingo de cor e ensinava a ele através do canto. Ele sempre admirou a rústica sociedade iletrada da sua infância na qual os homens recebiam a transmitiam seu conhecimento através da observação, imitação, e memorização.

(4) Tentando provar a autenticidade dos Evangelhos explicando aquilo, nas sociedades orais, os homens costumavam memorizar literalmente o que eles tinham ouvido. Isso pressupunha certas condições: um certo formalismo da parte do orador e uma atividade da parte do ouvinte – uma comunhão da palavra.

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