sábado, 20 de julho de 2013

O Marido: Os seus deveres ( Parte III )



O Marido 

Os seus deveres


O matrimônio não ensina só a conhecer-se, ajuda a vencer-se, o que é bem preciso. Se não se quiser renunciar a felicidade, vê-la desfazer em fumaça, transformar num estado miserável de hostilidade surda e permanente, que torna a vida insuportável, é preciso renunciar a si mesmo. A renúncia não é somente o fundamento da vida cristã, porém da felicidade conjugai; de sorte que, por um desígnio providencial, a mesma causa conduz-nos, ao mesmo tempo, à virtude e à felicidade. 

Na vida conjugai, as ocasiões de renúncia são diárias, e, portanto, assim também as ocasiões de aumentar, de receber o aperfeiçoamento, que é o fim do matrimônio.

O egoísmo é o nosso inimigo mortal; vivermos em nós, de nós, para nós, é o nosso mal. A nossa educação moral consiste em sairmos de nós mesmos; e o matrimônio é a instituição divina, para obrigar dois seres humanos a saírem de si mesmos, para vencerem o seu egoísmo mútuo, e fazerem o aprendizado da virtude.

Nos primeiros dias nada custava; agora, tudo pesa, e vive-se como sob a pressão, de uma cadeia pesadíssima. Outrora era o sopro vernal de uma afeição, radiante; agora, é o vento da tempestade. O homem só via em sua mulher um ser atraente, encantador; agora começa a descobrir nela um ser, por vezes, terrível na sua doçura, horrível mesmo nos seus atrativos. É o momento da renúncia, de elevar-se ao desinteresse sublime: é a educação moral que se faz.




Que digo eu? É a educação divina, pois, não é só um ideal humano que deveis realizar no matrimônio, meus senhores, mas um ideal divino, a união de Cristo com a Sua Igreja.

Que fez Cristo por Sua Igreja? non sibiplacuit diz São Paulo, não se orgulhou de Si mesmo. Humilhou-Se, renunciou-Se, despojou-Se, crucificou-Se. Sacrificou a glória de que gozava no seio de Seu Pai, e a glória humana, de que poderia ter-Se revestido. Sacrificou o Seu repouso, o Seu Corpo, o Seu Sangue, a Sua Alma, a Sua Vida. Não há um só sacrifício perante o qual haja recuado. Eis o modelo que São Paulo não receia propor-vos, maridos cristãos!

É que a moral cristã, na decadência humana, é a moral essencialmente do sacrifício e da renunciação. É, aí, que ela nos descobre o remédio para todos os nossos males e a fonte de todos os bens: tantum proficies quantum tibi ipsi vim intuleris, diz a Imitação, aproveitareis na proporção das contrariedades que vos impuserdes.

Nada é mais necessário na sociedade conjugai. Sem a abnegação, cedo ou tarde, virá a divisão, em seguida a incompatibilidade de humor, enfim a destruição do lar.

Se desejais a união, a fusão das vossas duas vidas em uma só, é à abnegação que deveis recorrer. Só com ela, o matrimônio atinge o seu fim: a educação do homem e do cristão.

Ora, a fonte inesgotável da abnegação acha-se no Evangelho, na força moral de que dispõe o cristianismo, nos sacramentos, e aqui, especialmente, no sacramento do matrimônio e em todas as graças de que é a fonte inexaurível.

Qual não é, pois, a infelicidade e a culpa daqueles, que, aproximando-se do sacramento do matrimônio sem preparação, se privam das graças mais preciosas? Mas a infelicidade maior, a culpa maior é dos que se aproximam dele sem confissão séria, em estado de pecado mortal, dos que profanam este grande sacramento, e constituem a família, - causa horror só em pensá-lo - por um sacrilégio!

Que vossos filhos e vossas filhas, meus senhores, se preparem seriamente para 'O matrimônio; que o não realizem senão em estado de graça e com disposições sérias e cristãs!

Só assim se encontrará o remédio para os sofrimentos da vida conjugai, e, com a virtude, a verdadeira felicidade.

Procurá-lo em outra parte; queixar-se das leis do Evangelho, que parecem esmagadoras, é um engano. Não são as leis que se devem modificar, são os costumes. E em vez de dizer como os decadentes: "Alargai a moral, não posso", é preciso dizer como os fortes, como os enérgicos, como os cristãos: Restaurai a moral, e com ela a felicidade: "Com Deus, que me fortifica, tudo posso!"

Receber o complemento de si mesmo, o seu aperfeiçoamento moral e divino no sacrifício mútuo, eis o fim essencial da sociedade conjugai, e o primeiro dever do marido.

O objeto da sociedade conjugai é dar. E dar o que, meus senhores? - O que há nela de maior, de mais completo, de mais universal: - a pessoa humana, isto é, o corpo e a alma, a matéria e o espírito, a liberdade e a vontade, a inteligência, as crenças e idéias, as virtudes, as aflições e alegrias, as provações e esperanças, os bens e a vida, em uma palavra, tudo.

É o dom mais absoluto que se pode conceder. É o sentido profundo da palavra do Evangelho: eruntduo in carne uma...fam non suntduo. Serão dois na mesma carne... já não são dois, para serem um, e para sempre.

É a união indissolúvel de dois espíritos, de dois corações, de duas vontades, de dois caracteres, de dois corpos e de duas almas, uma fusão de duas existências numa só, sustentando-se e ajudando-se mutuamente, tanto nos deveres como nos prazeres, tanto nas alegrias como nas dores; sacrificando um ao outro a paciência, e dedicação de todos os dias, na liberdade santa de um amor puro, fiel, inviolável; achando ambos o sentimento da mesma natureza, e amando-se com toda a firmeza e com toda a força do seu ser e da sua vida: eis o matrimônio cristão de todo o coração, por impossível, a outro.

Vedes, digamo-lo de passagem, como é conveniente para esta unidade profunda, total, indissolúvel, que haja harmonia entre as naturezas, as inteligência, as idéias, os gostos, os caracteres, temperamentos, sentimentos religiosos; e o que acontecerá de tantos matrimônios, onde não se faz muito caso de tudo isto?

Nesta união tão perfeita, qual será a forma da dádiva que deve fazer o marido? Qual será, para ele, o objeto do contrato? Qual o seu papel a desempenhar?


A Escritura Sagrada o diz em uma palavra: caput. E a cabeça, o chefe; é ele que tem a autoridade, o poder, a direção. Donde concluo: l ° que o deve usar; 2° que o deve usar na ordem e para os fins do matrimônio.


(Livro O marido, o pai e o apóstolo - Escravas de Maria)

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