Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini
Ser chamado por Deus para ser padre é uma grande graça. Ser
escolhido por Jesus é ser alvo das predileções de Deus.
Sem desmerecermos o sacramento do matrimônio, podemos afirmar
que a vida sacerdotal e a vida consagrada são um seguimento de Cristo mais de perto,
e traz consigo uma perfeição particular naturalmente tendemos ao que é próprio
do matrimônio e o pecado original, nos deixou fortemente aos prazeres
carnais. Neste aspecto, o Matrimônio põe um limite, um freio nesta tendência; a
vida consagrada vai mais longe: leva à renúncia total destes prazeres da carne,
por um amor maior, amor a Cristo e à sua Igreja. Isto exige mais sacrifício, e,
neste sentido é mais perfeito.
Como já vimos, não somos nós que vamos
escolher o casamento ou o sacerdócio, ou a vida religiosa. Não. O que temos que
fazer é procurar ver o que é que Deus pede de nós, em que estado Deus nos quer.
Aos que Deus mais ama, Ele chama para o estado de vida mais perfeito. Chama,
mas não obriga. Por isto dizemos que a vocação é livre. Não livre no sentido de
que eu posso, segundo meu gosto, escolher a vida que quiser, pois é Deus que
nos escolhe para esta o aquela vida. Mas a vocação é livre no sentido de que
Deus não força a criatura a segui-lo; Ele escolhe, chama, convida… mas não
força. Se a pessoa não quiser seguir este convite, o Senhor respeita a
liberdade de sua criatura.
Mas a pessoa assume a responsabilidade de sua recusa.
Dois mistérios profundíssimos: a graça de Deus e a liberdade
humana.
Por um lado, sabemos que não podemos nada sem a graça de
Deus. Nada! Por outro lado vemos que Deus respeita a nossa liberdade.
Por isto os Santos tinham quase que medo da própria liberdade
e a entregavam nas mãos de Deus. Santo Inácio rezava assim; “Recebei, Senhor, toda a minha liberdade, tomai minha
memória, a inteligência e toda a vontade…” E
santa Teresinha dizia: “Entendi … que cada alma é
livre para corresponder ou não aos convites de Nosso Senhor … Então exclamei:
Meu Deus … não quero ser santas medíocre, quero sê-lo deveras, não me amedronta
ter que sofrer por vós. O que me põe medo é ter que governar a minha vontade,
tomai posse dela, pois eu escolho tudo o que vós quereis!”
Deus chama, mas não força. A história do jovem rico de que
fala o Evangelho é uma prova de que Deus não força.
Àquele jovem bom, sincero e puro, desejoso de conseguir o
céu, Jesus o convida para segui-lo, mas lhe diz: “Si vis”, isto é, “se você
quiser…” E o jovem não quis. E Jesus não o forçou. Mistério…
Interessante! Jesus deu várias oportunidades para Judas se
converter, se arrepender, Jesus foi em busca da Samaritana, tirou as suas
dúvidas, foi movendo-lhe o coração, para que ela se convertesse, mas com
relação à vocação ao sacerdócio ou ao estado religioso, Jesus não força, ou
melhor, não insiste. Chama, convida, mas deixa a pessoa livre.
Se alguém não segue a própria vocação, é porque não o quis,
pois Deus chama e não deixa faltar sua ajuda para que a pessoa possa
corresponder com generosidade.
Conhecendo a nossa propensão a procurar a vida fácil e o
perigo de fazer mau uso de nossa liberdade vemos que é muito perigoso ficar
brincando com a vocação, não fazendo caso dela, adiando nossa reposta ao
chamado de Deus. Lembremo-nos do que diz S. Paulo “Com Deus não se brinca”.
Jovem, faça como Santo Inácio, como Santa Teresinha; entregue
sua liberdade nas mãos de Deus. Não faça como aquele jovem do Evangelho, que
por amor das coisas deste mundo, fez um péssimo uso, teve um péssimo governo de
sua liberdade. Imite os Santos. Seja generoso. Ponha sua liberdade nas mãos de
Deus, para que Ele a governe, a dirija. “Recebei, Senhor, toda a minha
liberdade…”
(Do livro “A Vocação")
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