I- O
amor materno
Pode a mãe esquecer o seu filho? diz o Espírito Santo, e pode a mulher deixar
de amar o fruto do seu seio? seu coração é uma fonte inesgotável de contínua
solicitude e amor; ama os seus filhos mais do que todas as outras pessoas, mais
do que a si própria. Entre tantos quadros de amor materno que a história nos
patenteia, nenhum achamos mais comovente do que o quadro em que a Escritura nos
pinta a ternura da mãe do jovem Tobias.
Acompanhado do arcanjo Rafael, disfarçado sob a forma humana, acabava de partir
para a terra dos Medas; mas a mãe, chorando, dizia, no meio da sua dor, ao
marido: «Ficaste sem o bordão da nossa velhice, e afastaste-lo de nós. Oxalá
que nunca tivéssemos possuído o dinheiro necessário para a sua viagem! Os poucos
bens que possuímos, não eram suficientes para nós? E não era para nós uma
grande fortuna ver nosso filho aqui, conosco?» — «Não chores, respondia o
velho, o anjo do Senhor acompanhará nosso filho.» E estas palavras enxugavam
por um instante as suas lágrimas, e acalmavam as lamentações da mãe.
Mas não vendo voltar, no dia fixado, o ente que amava, derramava abundantes
lágrimas, que nenhuma consolação podia esgotar.— «Ah! quanto sou desgraçada!
repetia ela; para que te mandamos para tão longe, meu filho, tu que eras a luz
dos nossos olhos, o apoio da nossa velhice, a consolação da nossa vida e a
esperança de nossa posteridade? Visto que eras tudo, neste mundo, para nós,
nunca deverias ter-nos deixado.» — «Sossega replicava o velho Tobias, o nosso filho
está em segurança; o homem, a quem o confiamos, é fiel. Mas a pobre mãe não
queria receber consolações, e todos os dias, deixando a casa, percorria todos
os caminhos, por onde esperava ver chegar o filho, procurando descobri-lo ao
longe. Todos os dias se ia sentar sobre uma montanha, que dominava a estrada, e
donde podia circunvagar à vontade o seu olhar. Um dia avistou-o, reconheceu-o
imediatamente, correu a levar a seu marido a feliz notícia, e depois abraçou
esse querido filho com lágrimas de alegria.
Citemos ainda um fato admirável que o próprio Espírito Santo nos conservou.
Tendo pedido os Gabaonitas que lhes entregassem os filhos de Saul, para
vingarem sobre eles o sangue dos seus concidadãos, que o seu rei mandara matar,
David entregou-lhes sete, que foram crucificados, sobre uma montanha. Resfa,
mãe de duas dessas desgraçadas vítimas, não só quis assistir ao suplício de
seus dois filhos, e ajudá-los, por sua presença, a arrostar os horrores da
morte, mas mesmo depois deles terem dado o último suspiro, estendeu um cilício
sobre o rochedo, e ficou ali, sentada, vigiando ao lado dos seus cadáveres, e
afugentando, durante o dia, as aves de rapina, e durante a noite os animais
ferozes, que ameaçavam devotá-los. David admirou o amor desta mãe generosa,
amor que sobreviveu à morte dos filhos, e mandou ele próprio sepultar os
cadáveres.
Mas, para que é necessário ir buscar na história exemplos onde brilhe o amor
materno? Não bastará, mães cristãs, que vos fale do vosso próprio coração? Não
sentis, dentro de vós, uma força como que irresistível, que vos impele a não
viverdes, senão para vossos filhos? Sim, amais, e é por isso que a vossa vida
se passa, na solicitude, e através das lágrimas. É o amor de vossos filhos que
vos fornece as lágrimas, os suspiros, e os soluços. Para que haveis de perder a
consolação e a recompensa que Jesus prometeu aos que choram, não regulando
sempre os sentimentos do vosso coração pela razão, e pela fé?
Sim! Nada é mais legítimo que o amor da mãe, para com seus filhos, e Deus
também o ordena; esse amor é o manancial, onde ela encontrará a necessária
dedicação para cumprir os deveres que a maternidade lhe impõe, a alma de tudo
quanto deverá fazer para bem dos seus filhos. Mas esse amor tem regras a que
forçoso é submeterem-se, «que seja terno sem fraqueza, e firme sem dureza. É
necessário que as mães saibam precaver-se contra odiosas preferências, e ainda
com mais razão, contra tudo o que seja ódio ou desprezo. O coração duma mãe
deve ser igual para todos os seus filhos. Corajoso e constante, não recua
diante de nenhum trabalho, nem teme nenhum sacrifício, sendo a ingratidão
incapaz de a abater ou enfraquecer. Mas, sobretudo o amor materno deve ser
cristão, isto é regrado pela lei de Deus, e pelas máximas do Evangelho.
Fonte: A Grande Guerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário