Petitis et non accipitis, eo quod male petatis – “Pedis e
não recebeis, porque pedis mal” (Iac. 4, 3).
Sumário. Muitas pessoas rezam e não obtém nada, porque não
pedem como convém. Para bem rezar é preciso, primeiro a humildade, porque Deus resiste
aos soberbos. Em segundo lugar é preciso a confiança, que nos faz esperar tudo
pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. Mas,
sobretudo, é necessária a perseverança, pois que, para nosso bem, Deus alguma
vez demora em atender e quer ser vencido pela nossa importunação. Têm as tuas
orações sempre estes três requisitos?
I. Muitas pessoas rezam e não obtém nada, porque
não pedem como convém: Petitis et non accipitis, e o quod male petatis.
Para bem rezar é preciso, em primeiro lugar, a humildade. Deus resiste aos
soberbos e não lhes atende os pedidos; mas dá a sua graça aos humildes
(2), e não deixa os seus pedidos sem os deferir. “A oração do que se humilha,
penetrará as nuvens e não se retirará enquanto o Altíssimo não puser nela os
olhos.” (3) E isto acontece, ainda que a pessoa tenha sido anteriormente
pecador, porquanto Deus não desprezará um coração contrito e humilhado
(4).
Em segundo lugar, é preciso a confiança, que nos
faz esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria
Santíssima. Nullus speravit in Domino et confusus est (5) – “Ninguém
esperou no Senhor e ficou confundido”. Ensina-nos Jesus Cristo mesmo que,
quando tenhamos alguma graça a pedir, não o chamemos com outro nome, além do de
Pai: Pater noster, afim de que oremos com toda a confiança que é própria
do filho para com o pai. O que pede com confiança obtém tudo. “Eu vos digo”,
assim fala o Senhor, “que todas as coisas que pedirdes orando, crede que as
recebereis, e ela vos acudirão.” (6)
E quem pode recear, pergunta Santo Agostinho, ser
enganado no que foi prometido pela própria Verdade, que é Deus? A Escritura nos
afiança que Deus não é como os homens, que prometem e depois faltam à palavra,
ou porque mentem quando prometem, ou porque mudam de vontade. Dixit ergo, et
non faciet? (7) Santo Agostinho ainda acrescenta: Se o Senhor não nos
quisesse conceder as graças, para que nos havia de exortar continuamente a
pedir-lhas? Prometendo, contraiu a obrigação de nos dar as graças que lhe
suplicarmos. Promittendo, debitorem se fecit.
II. O que importa sobretudo, é ter perseverança
na oração. Diz Cornélio a Lapide que o Senhor “quer que sejamos perseverantes
na oração até a importunação. É o que significam os textos seguintes da Escritura:
É preciso orar sempre (8); Vigiai sempre, orando (9); Orai sem
cessar (10). É o que significam ainda estas repetições: Pedi e
recebereis; buscai e achareis; batei à porta e ela se vos abrirá (11).
Bastava ter dito: pedi, petite; mas o Senhor nos quis fazer compreender
que devemos seguir o exemplo dos mendigos, que nunca deixam de pedir, de
insistir e de bater à porta, enquanto não tenham recebido alguma esmola.
A perseverança final, especialmente, é uma graça
que se não obtém sem oração contínua. Nós não podemos merecer a perseverança,
mas merecemo-la de algum modo, diz Santo Agostinho, por meio das orações.
Rezemos, pois, sempre, e não deixemos de rezar, se nos quisermos salvar. Os
confessores e os pregadores nunca deixem de exortar à oração, se quiserem que
as almas se salvem; porquanto o que reza certamente se salva, e o que não reza
certamente se condena.
Meu Deus, tenho confiança de que já me perdoastes;
mas meus inimigos não deixarão de me combater até à morte. Se não me
socorrerdes, sucumbirei de novo. Suplico-Vos, pelos merecimentos de Jesus
Cristo, que me concedais a santa perseverança. Não permitais que me afaste
de Vós. Peço-Vos o mesmo favor para todos os que estão atualmente na vossa
graça. Confiado em vossas promessas, estou certo de que me dareis a
perseverança, se continuar a pedi-la. Receio, porém, que nas tentações deixe de
recorrer a Vós, e assim torne a cair no pecado. Peço-Vos, pois, a graça de
nunca deixar de rezar. – Fazei que nas ocasiões perigosas me recomende sempre a
Vós e chame em meu auxílio os santíssimos Nomes de Jesus e Maria. É o que estou
resolvido a fazer sempre, e espero fazê-lo pela vossa graça. Atendei-me pelo
amor de Jesus Cristo. – Ó Maria, minha Mãe, fazei que nos perigos de perder o
meu Deus sempre recorra a vós e a vosso Filho. (*II 139.)
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1. Ps. 30, 6.
2. Iac. 4, 6.
3. Ecclus. 35, 21.
4. Ps. 50, 19.
5. Ecclus. 2, 11.
6. Marc. 11, 24.
7. Num. 23, 19.
8. Luc. 18, 1.
9. Luc. 21, 36.
10. I Thess. 5, 17.
11. Luc. 11, 9.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos
os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima
Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 293-295.)
Fonte: São Pio V
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