A
Obra
Traduzido por Luiz Fernando Karps Pasquotto
Capítulo I - Exórdio
Excelentíssimo
Diogneto,
Vejo
que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e
cuidadosamente te informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e
como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não
considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos
judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e,
finalmente, por que esta nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não
antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar
como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes
melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.
Capítulo
II - Refutação da idolatria
Comecemos.
Purificado de todos os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do
teu hábito enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar,
como confessas, uma doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com
a inteligência, que substância e que forma possuem os que dizeis que são deuses
e assim os considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro
é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos;
outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém
que o guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela
ferrugem; outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços
mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro
e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro?
Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora
têm, cada um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os
mesmos artesãos trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora
vemos, não poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses
que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios
semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas,
insensíveis, imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas
coisas chamais de deuses, as servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a
elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses.
Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que
eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que
venerais deuses de pedra e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto
fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia
colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais
tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com
elas; por outro lado, se são insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios
de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de vós prove essas coisas e
permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria
tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta
tudo, porque é insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre
o motivo que os cristãos têm para não se submeterem a esses deuses. Se o que eu
disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma
coisa.
Capítulo
III - Refutação do culto judaico
Por
outro lado, creio que desejais particularmente saber por que eles não adoram
Deus à maneira dos judeus. Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de
que falamos antes, e prestam culto a um só Deus, considerando-o Senhor do universo.Contudo,
erram quando lhe prestam um culto semelhante ao dos pagãos. Assim como os
gregos demonstram idiotice, sacrificando a coisas insensíveis e surdas, eles
também, pensando em oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse necessidade
delas, realizam algo que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez
o céu e a terra, e tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que
necessitamos, não tem necessidade nenhuma desses bens.Ele próprio fornece as
coisas àqueles que acreditam oferece-las a ele. Aqueles que creem oferecer-lhe
sacrifícios com sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses
atos, não me parecem diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos
surdos, que não podem participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo
a quem de nada precisa.
Capítulo
IV - O ritualismo judaico
Não
creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a
respeito de certos alimentos, a sua superstição sobre os sábados, seu orgulho
da circuncisão, seu fingimento com jejuns e novilúnios, coisas todas ridículas,
que não merecem nenhuma consideração. Não será injusto aceitar algumas das
coisas criadas por Deus para uso dos homens como bem criadas e rejeitar outras
como inúteis e supérfluas? Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos
proíbe fazer algum bem em dia de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da
mutilação do corpo como sinal de eleição, acreditando, com isso ser
particularmente amados por Deus? E o fato de estar em perpétua vigilância
diante dos astros e da lua, para calcular os meses e os dias, e distribuir as
disposições de Deus, e dividir as mudanças das estações conforme seus próprios
impulsos, umas para festa e outras para luto? Quem consideraria isto prova de
insensatez e não de religião? Penso que agora tenhas entendido suficientemente
por que os cristãos estão certos em se abster da vaidade e do engano, assim
como das complicadas observâncias e das vanglórias dos judeus. Não creias poder
aprender do homem o mistério de sua própria religião.
Capítulo
V - Os mistérios cristãos
Os
cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem
por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem
falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não
foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos,
nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo
em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos
costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo
de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como
forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como
estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é
estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os
recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não
vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem
as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são
perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são
mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos;
carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo,
tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são
injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos
como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos
judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a
aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.
Capítulo
VI - A alma do mundo
Em
poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no
mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão
em todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo;
os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo.A alma invisível está
contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é
invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma
ofensa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha
recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos
prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também os cristãos amam
aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o
corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que
sustentam o mundo.A alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cristãos
habitam como estrangeiros em moradas que se corrompem, esperando a
incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma torna-se
melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é
o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar.
Capítulo
VII - Origem divina do cristianismo
De
fato, como já disse, não é uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem
julgam digno observar com tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes
confiou a administração de mistérios humanos. Ao contrario, aquele que é
verdadeiramente senhor e criador de tudo, o Deus invisível, ele próprio fez
descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a palavra santa e
incompreensível, e a colocou em seus corações. Fez isso, não m,andando para os
homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus servos, ou um anjo, ou
algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou algum dos que são
encarregados das administrações dos céus, mas o próprio artífice e criador do
universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e através do qual encerrou
o mar em seus limites; aquele cujo mistério todos os elementos guardam fielmente;
aquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que deve observar em seu curso
cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe manda luzir durante a noite;
aquele a quem obedecem as estrelas que formam o séquito da lua em seu percurso;
aquele que, finalmente, por meio do qual todo foi ordenado, delimitado e
disposto: os céus e as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que
existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar, o fogo, o ar, o abismo,
aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que está no meio. Foi esse
que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia pensar, será que o enviou para que
existisse uma tirania ou para infundir-nos medo e prostração? De modo algum. Ao
contrário, enviou-o com clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho.
Deus o enviou, e o enviou como homem para os homens; enviou-o para nos salvar,
para persuadir, e não para violentar, pois em Deus não há violência. Enviou-o
para chamar, e não para castigar; enviou-o, finalmente, para amar, e não para
julgar. Ele o enviará para julgar, e quem poderá suportar sua presença? Não vês
como os cristãos são jogados às feras, para que reneguem o Senhor, e não se
deixam vencer? Não vês como quanto mais são castigados com a morte, tanto mais
outros se multiplicam? Isso não parece obra humana. Isso pertence ao poder de
Deus e prova a sua presença.
Capítulo
VIII - A Encarnação
Quem
de todos os homens sabia o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás
aceitar os discursos vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos
de toda fé? Alguns afirmam que Deus é o fogo - para onde irão estes, chamando-o
de deus? - Outros diziam que é água. Outros ainda que é dos elementos criados
por Deus. Não há dúvida de que se alguma dessas afirmações é aceitável, poderíamos
também afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus.
Mas todas essas coisas são charlatanices e invenções de charlatões. Nenhum
homem viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se
mediante a fé, unicamente pala qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e
criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem, não só
se mostrou amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim,
continua sendo, e o será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom.
Tendo concebido grande e inefável projeto, ele o comunicou somente ao Filho.
Enquanto o mantinha no mistério e guardava sua sábia vontade, parecia que não
cuidava de nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio de seu Filho amado,
revelou e manifesto o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos
junto todas as coisas: não só participar de seu benefícios, mas ver e
compreender coisas que nenhum de nós teria jamais esperado.
Capítulo
IX - A economia divina
Quando
Deus dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele
permitiu que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos
impulsos desordenados, levados por prazeres e concupiscências. Ele não se
comprazia com os nossos pecados, mas também os suportava. Também não aprovava
aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos
convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos
da vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que
ficasse claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e
que somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça
chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que poderiam esperar era
castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua
bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não
nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se
paciente e nos suportou. Com, misericórdia tomou para si os nossos pecados e
enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos
maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal
pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a
sua justiça? Por meio de quem poderíamos ter sido justificados nós, injustos e
ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra
insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada por um
só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos
convenceu da impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o
salvador capaz de salvar até mesmo o impossível Com essas duas coisas, ele quis
que confiássemos na sua bondade e considerássemos nosso sustentador, pai,
mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem
preocupações com a roupa e o alimento.
Capítulo
X - A essência da nova religião
Se
também desejas alcançar esta fé, primeiro deves obter o conhecimento do Pai.
Deus, com efeito, amou os homens. Para eles criou o mundo e a eles submeteu
todas as coisas que estão sobre a terra. Deu-lhes a palavra e a razão, e só a
eles permitiu contemplá-lo. Formou-os à sua imagem, enviou-lhes o seu Filho
unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado.
Depois de conhece-lo, tens idéia da alegria com que será preenchido? Como não
amarás aquele que tanto te amou? Amando-o, tu te tornarás imitador da sua bondade.
Não te maravilhes de que um homem possa se tornar imitador de Deus. Se Deus
quiser, o homem poderá. A felicidade não está em oprimir o próximo, ou em
querer estar pro cima dos mais fracos, ou enriquecer-se e praticar violência
contra os inferiores. Deste modo, ninguém pode imitar a Deus, pois tudo isto
está longe de sua grandeza. Todavia, quem toma para si o peso do próximo, e
naquilo que é superior procura beneficiar o inferior; aquele que dá aos
necessitados o que recebeu de Deus, é como Deus para os que receberam de sua
mão, é imitador de Deus. Então, ainda estando na terra, contemplarás porque
Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e
admirarás os que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o erro
e o engano do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando
desprezares esta vida que aqui parece morte, e temeres a morte verdadeira,
reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentarás até o
fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres este fogo, ficarás admirado,
e chamarás de felizes aqueles que, com justiça, suportaram o fogo passageiro.
Capítulo
XI - O discípulo do Verbo
Não
falo de coisas estranhas, nem busco coisas absurdas. Discípulo dos apóstolos,
torno-me agora mestre das nações e transmito o que me foi entregue para aqueles
que se tornaram discípulos dignos da verdade. De fato quem foi retamente
instruído e gerado pelo Verbo amável, não procura aprender com clareza o que o
mesmo Verbo claramente mostrou aos seus discípulos? O Verbo apareceu para eles,
manifestando-se e falando livremente. Os incrédulos não o compreenderam, mas
ele guiou os discípulos que julgou fiéis, e estes conheceram os mistérios do
Pai. Deu enviou o Verbo como graça, para que se manifestasse ao mundo.
Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos apóstolos a acreditado pelos pagãos.
Desde o princípio e apareceu como novo e era antigo, a agora sempre se torna
novo nos corações dos fiéis. Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como
Filho. Por meio dele, a Igreja se enriquece e a graça se multiplica,
difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela os mistérios e
anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a buscam, sem
infringir as regras da fé nem ultrapassar os limites dos Padres. Celebra-se
então o temor da lei, reconhecesse a graça dos profetas, conserva-se a fé dos
evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja exulta. Não
contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que ele quer e
quando quer. Com efeito, quantas coisas fomos levados a vos explicar com zelo
pala vontade do Verbo que no-las inspira! Nós vos comunicamos por amor essas
mesmas coisas que nos foram reveladas.
Capítulo
XII - A verdadeira ciência
Atendendo
e ouvindo com cuidado, conhecereis que coisas Deus prepara para os que o amam
com lealdade. Transformam-se em paraíso de delícias, produzindo em si mesmos
uma arvora fértil e frondosa, ornados com toda a variedade de frutos. Com
efeito, neste lugar foi plantada a árvore da ciência e a arvora da vida; não é
a arvora da ciência que mata, e sim a desobediência. Não é sem sentido que está
escrito: No princípio Deus plantou a arvora da ciência da vida no meio do
paraíso, indicando assim a vida por meio da ciência. Contudo, por não tê-la
usado de maneira pura, os primeiros homens ficaram nus por causa da sedução da
serpente. De fato, não há vida sem ciência, nem ciência segura sem verdadeira
vida, e por isso as duas árvores foram plantadas uma perto da outra. Compreendendo
essa força e lastimando a ciência que se exercita sobre a vida sem a norma da
verdade, o Apóstolo diz: “A ciência incha; o amor, porém, edifica.” De fato,
quem pensa que sabe alguma coisa sem a verdadeira ciência, testemunhada pela
vida, não sabe nada: é enganado pala serpente, não tendo amado a vida. Aquele,
porém, que sabe com temor e procura a vida, planta na esperança, esperando o
fruto. Que a ciência seja coração para ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente
compreendido. Levando a arvora dele e produzindo fruto, sempre colherás o que é
agradável diante de Deus, o que a serpente não toca, nem se mistura em engano;
nem Eva é corrompida, mas reconhecida como virgem. A salvação é mostrada, os
apóstolos são compreendidos, a Páscoa do Senhor se adianta, os círios se
reúnem, harmoniza-se com o mundo e, instruindo os santos, o Verbo se alegra,
pelo qual o Pai é glorificado. A ele, a glória pelos séculos. Amém.
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