O
PAI
A
sua importância e os seus deveres
Qui
scandalizaveritunum de pus illis istis... expedit ei ut suspendatur mola
usinaria in collo ejus, et demergatur in profundam maris. (Aquele
que maltratasse um destes rapazinhos... ser-lhe-ia melhor que lhe atassem uma
pedra ao pescoço e o precipitassem no fundo do mar.).
São
Mateus 18,6.
Eminência,
Meus senhores,
Aprouve
a Deus, em Sua sabedoria, que o ser humano viesse ao mundo e se multiplicasse
por intercessão recíproca do homem e da mulher, destas duas criaturas indissoluvelmente
unidas por sua livre vontade. Daí, estas duas palavras importantes do Gênesis: crescite
et multiplicamini. Digamos só algumas palavras da sua importância para insistirmos
sobre os seus deveres.
Quem
falará da importância da paternidade? Na ordem da natureza, não há outra mais
elevada; fica-se deslumbrado quando se pensa nisto. O poder de criar, de tirar
do nada, de fazer do nada alguma coisa; este privilégio sublime, que só
pertence a Deus; este poder, que está acima de todos os poderes; este atributo,
que é o caráter próprio do soberano Senhor de todas as coisas; este poder de
dar a vida, e que acreditávamos incomunicável, foi da vontade de Deus concedê-lo
ao homem.
É
Ele, sem dúvida, que conserva a Sua propriedade radical, e o homem não age
independentemente, mas sim por um poder comunicado; mas comunicado com tal
liberalidade, que seriamos tentado a dizer: com que imprudência! Parece que
Deus se desapossou, que se privou a Si próprio desse poder da vida, para o
deixar, para sempre, à vontade do homem. Poderia Ele elevar o homem a maior
altura, dar-lhe um dom natural mais sublime, mais admirável, que ultrapasse a
divindade? ego dixi: dii estis; (eu vos digo: sois deuses).
Desde
a origem do mundo, o nome de pai é o mais belo, o mais santo, depois do nome de
Deus.
Divino,
por sua origem e natureza, pois que o nome de pai representa a própria autoridade
do poder criador e da vida dada; é ainda o alicerce do primeiro império estabelecido
entre os homens - o império doméstico; e ficou sempre como o tipo do que há de
mais venerável.
Quanto
ao homem, queriam mostrar a importância que davam a uma dignidade, a uma instituição,
a um serviço prestado; recorriam a esta palavra, para tomarem alguma coisa de
sua aureola e majestade. Para exprimirem o que têm de mais caro, depois da
família, e que não é senão uma extensão dela, dizem: a pátria. Para honrarem
certos homens dentre todos os outros, deram-lhes o nome de pais da pátria, pais
do povo, pais conscritos, patriarcas A própria Religião, para glorificar ou
caracterizar o que tinha de mais grandioso e de mais sublime, não achou palavra
mais bela, e disse: pais da Fé, pais do deserto, pais dos concilies, pais da
Igreja, pais das almas, pais espirituais. Deu-se este nome ao próprio chefe da
Igreja: Papa, que significa pai.
Que
digo eu? Quando o Filho de Deus quis ensinar-nos a rezar, não achou nome mais
augusto, para colocar nos lábios, do que o de "Pai Nosso", para
mostrar ao mesmo tempo que Deus não tem prerrogativa mais sublime, e que toda a
paternidade dimana Dele: Unus Deus et Pater omnium.
Não!
Nada, sobre a terra, é mais nobre do que a paternidade humana, pois que nela encontram-se,
ao mesmo tempo, a comunicação da paternidade divina, a origem, o modelo de toda
a autoridade, de todo bem, de toda a grandeza, e como que uma expansão
misteriosa do próprio sacerdócio.
Sim!
O pai é padre em toda a extensão do termo, e só ele o era no principio: regale sacerdotium.
É por isso que a religião sempre reconheceu ao pai o direito e o poder de abençoar.
Os
pagãos não abençoavam. Enéas transporta, das ruínas de Tróia, o seu velho pai,
às costas; e seu pai, quando morre, não o abençoa. As palavras de Heitor a seu
filho, nos braços de Andrômaca, são heróicas, mas não o abençoa.
Priamo,
o mais sublime dos pais da antiguidade, não abençoara Heitor antes do combate. Mas
entre o povo de Deus, Abraão, Isaac, Jacó, e os patriarcas de todos os tempos abençoaram
seus filhos. Entre todos os povos cristãos, nos tempos de Fé, os pais abençoavam
seus filhos em ocasiões graves e solenes, pelo menos à hora da morte; como Deus
o havia feito ao primeiro homem, e Jesus Cristo aos Seus apóstolos, quando
subiu ao Céu.
Ainda
hoje se vê pais abençoarem os filhos, por exemplo, na ocasião da sua primeira comunhão,
e esta bênção, emanando do coração de um pai sobre seus filhos, volta, de novo,
ao coração paterno, e torna-se, para ele mesmo, uma bênção de Deus. É
verdadeiramente um sacerdócio, em que o pai sente uma dessas emoções poderosas,
que comovem até ao mais íntimo da alma.
A
emoção ainda é mais forte, para os que se sentem menos dignos de uma função (ao
pura. Já se viu pais recusarem obstinadamente a bênção a seus filhos e
exclamarem: Não, não! Não posso! Em seguida, cederem, e tendo dado a bênção,
derramarem lágrimas, que depois não podiam estancar.
Ah!
Meus senhores, qualquer que seja o estado de um homem, por mais baixo que tenha
descido, há alguma coisa que o eleva, e se torna, para ele mesmo, a fonte
inesgotável dos mais nobres sentimentos - a consciência de ser pai.
Tem-se
visto pais recuperarem, em presença dos filhos e num instante, toda a dignidade
e respeito de si mesmos, que o mal lhes havia feito perder, e tornarem-se bons,
castos, justos, crentes e cristãos!
E
se acontece - pois, na humanidade, que é livre, dá-se o contraste espantoso de
havei santos e de haver miseráveis, - se acontece, repito, que um homem calque
aos pés o seu dever de pai e volva contra seu próprio filho esse poder de amor,
de proteção física c mora l, levanta-se um grito de indignação e de espanto!
Este pai desnaturado, que assim procede, e incluído, por unanimidade, na classe
dos monstros... A grandeza de sua queda, ainda mostra melhor a altura de que caiu, e qual é a
nobreza o sacerdócio real do pai que não pode recusar o seu diadema sem cair
completamente e causar horror!...
Há
perdão para tudo; e a alegria do padre é apagar tais iniquidades; mas é preciso
o poder infinito do Sangue redentor, para lavar tais manchas e levantar de tais
quedas!...
(Livro O marido, o pai e o apóstolo – Escravas
de Maria)
Nenhum comentário:
Postar um comentário