Sacramento da Eucaristia pela Santa Missa Tridentina |
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Parece que um mau sacerdote não pode celebrar a Eucaristia:
1. Com efeito, Jerônimo diz: “Os sacerdotes que são ministros da Eucaristia e distribuem o sangue do Senhor, agem de modo ímpio contra a lei de Cristo, ao pensarem que a Eucaristia se realiza pelas palavras de quem as recita e não pela sua vida, e que basta a oração solene e não os méritos do sacerdote. Destes sacerdotes, se diz: O sacerdote que se contaminar de alguma mancha, não se aproxime para apresentar as oferendas ao Senhor”. Ora, o sacerdote pecador, manchado pelo pecado, não tem vida nem méritos condizentes com este sacramento. Logo, o sacerdote pecador não pode celebrar a Eucaristia.
2. Além disso, Damasceno diz: “O pão e o vinho, pela vinda do Espírito Santo, se convertem de maneira sobrenatural no corpo e sangue do Senhor”. Ora, o papa Gregório observa e consta nos Decretos: “Como virá o Espírito celeste invocado para a consagração do mistério divino, se o sacerdote que o invoca está comprovadamente cheio de ações pecaminosas?”. Logo, um sacerdote mau não pode celebrar a Eucaristia.
3. Ademais, este sacramento se consagra pela bênção do sacerdote. Ora, a bênção de um sacerdote pecador não é eficaz para a consagração deste sacramento, já que está escrito: “maldirei vossas bênçãos”. Também Dionísio escreve: “Aquele que não é iluminado, decaiu plenamente da ordem sacerdotal. Parece-me uma audácia que alguém estenda a mão sobre os mistérios sacerdotais e ouse pronunciar em nome de Cristo, não digo orações, mas infâmias imundas sobre os símbolos divinos”.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, Agostinho escreve: “Na Igreja Católica, o mistério do corpo e do sangue do Senhor não se realiza mais pelo bom sacerdote, nem menos pelo mau sacerdote. Pois, ele se realiza, não pelo mérito do consagrante, mas pela virtude do Espírito Santo”.
O sacerdote consagra este sacramento não por poder próprio mas enquanto ministro de Cristo, em cuja pessoa celebra. Pelo fato de alguém ser mau não deixa de ser ministro de Cristo. O Senhor tem bons e maus ministros ou servos. Por isso, o Senhor diz: “Qual é, pois, o servo fiel e prudente” e depois acrescenta: “Mas se este mau servo disser em seu coração” etc. E o Apóstolo também diz: “Considere-nos o homem como servos do Cristo”. Mas, no entanto, ajunta em seguida: “A minha consciência, por certo, de nada me acusa, mas não é isso que me justifica”. Ele tinha certeza de ser ministro de Cristo, mas não de ser justo. Pode alguém, portanto, ser ministro de Cristo, mesmo que não seja justo. Pertence à grandeza de Cristo que tanto os bons quanto os maus o sirvam, como a verdadeiro Deus, e que, pela sua providência, sejam ordenados para a sua glória. Por isso, é claro que os sacerdotes, embora não sejam justos, mas pecadores, possam celebrar a Eucaristia.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Jerônimo condena o erro de sacerdotes que pensavam poder celebrar a Eucaristia dignamente pelo simples fato de serem sacerdotes, mesmo que pecadores. É isto que ele reprova, ao citar que os manchados estão proibidos de se aproximar do altar. Isto não impede, porém, que, se eles se aproximarem do altar, o sacrifício oferecido seja verdadeiro.
2. Antes daquelas palavras, o papa Gelásio tinha dito: “O culto sagrado conforme a disciplina católica exige tanto respeito que ninguém ouse aproximar-se dele a não ser com consciência pura”. Aí aparece claramente a intenção de que o sacerdote pecador não deve aproximar-se deste sacramento. Por isso, o que se segue “como o espírito celeste invocado virá” deve ser entendido que ele não vem pelo mérito do sacerdote, mas pelo poder de Cristo, cujas palavras o sacerdote pronuncia.
3. Uma mesma ação, feita pela intenção perversa do servo, pode ser má, torna-se, no entanto, boa, pela boa intenção do senhor que a faz. Assim também, a bênção do sacerdote pecador, enquanto é feita por ele indignamente é digana de maldição e merece o nome de infâmia ou blasfêmia e não de oração. Ao invés, enquanto é pronunciada na pessoa de Cristo, é santa e eficaz. Por isso, diz-se expressamente: “maldirei vossas bênçãos”.
Suma Teológica III, q.82, a.5
O texto é importante. Uma coisa é certa: rezemos pela santificação do clero.
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