quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sobre os Anjos caídos: Sua natureza, ação e atuação.


Duas palavras bastam para conhecer o demônio; é um anjo decaído. É um anjo - e eis a causa de sua superioridade sobre os homens ; é decaído - eis a explicação de sua maleficência.


1° - O demônio é um anjo. Como o homem, ele tem a faculdade de pensar, de compreender e de querer, mas possui esta faculdade em grau muito superior à do homem. Sua razão é mais segura, suas luzes terrivelmente mais vivas, seus conhecimentos mais vastos, sua vontade mais forte. Não precisa, como nós, de estudar, nem de raciocinar para compreender as coisas. Sua inteligência penetra mesmo os acontecimentos futuros, que tem suas causas necessárias na natureza, por exemplo, uma tempestade, um terremoto etc. Quanto aos acontecimentos que dependem da vontade de Deus ou do homem, só pode conjeturá-los. Deus nem mesmo quis que ele conhecesse nossos pensamentos e desejos e desejos inteiramente íntimos.
Satanás, além de inteligentíssimo, é muito poderoso, porque, ontologicamente, depois da queda, ficou o mesmo que antes. É certo que os demônios podem produzir muitas coisas que superam a força do homem. Basta abrir o livro de Jó para ver que percorrem a terra com uma velocidade que sobrepuja todas as velocidades; que agitam os ventos e produzem tempestades tão violentas que derrubam casas, sepultando os habitantes sob as suas ruínas; que ferem os corpos de doenças e chagas, fazem descer do céu o fogo e o raio, como o fizeram para Jó, destruindo pelas chamas seus rebanhos; foi o demônio que mandou os Sabeus atacarem e matarem seus criados. Satanás pode mover os corpos, transportá-los pelos ares de um lugar para o outro, como o fez com o Mago Simão, como também vemos no Evangelho transportar O Salvador do deserto à cidade santa e colocá-lo no pináculo do Templo. No Evangelho, Nosso Senhor revela a Simão Pedro que Satanás reclamou os apóstolos para joeirá-los como trigo, alusão ao triunfo dos maus, que terá lugar durante a Paixão, terrificando os Apóstolos e causando sua defecção (Luc. XXII, 31).

2° - Satanás é um anjo decaído. Deus criou os anjos em um estado de justiça, isto é, isentos de qualquer mancha de pecado; em um estado de santidade, isto é, ornados de graça e, enfim, destinados à felicidade do Céu.
     Todos , porém, não perseveraram neste estado. Lúcifer, o mais belo dos anjos, revoltou-se contra o Altíssimo e arrastou na revolta milhares de outros. Mas o Arcanjo São Miguel, com os anjos fiéis, que eram o maior número, expulsaram-nos do Paraíso e os precipitaram no inferno. Não se sabe qual o numero dos anjos decaídos, talvez a terça parte, conforme uma palavra do Apocalipse que diz: ''O dragão arrastou com sua cauda a terça parte das estrelas do céu.''


3° - Qual foi a natureza do pecado dos Anjos? Há duas opiniões principais. Pesam que foi o orgulho, uma vã complacência em si próprios, que os levou a quererem ser semelhantes a Deus. Esta opinião tem seu fundamento na palavra de São Miguel exclamando, ao investir contra os anjos: ''Quem é igual a Deus?'' Grandes teólogos pensam que quando Deus revelou aos anjos o mistério da Encarnação do Filho de Deus, eles se revoltaram, ao pensar que se veriam obrigados a adorar o Homem-Deus, e a reconhecer a Santíssima Virgem Maria como a sua soberana.


4° - Seja como for o castigo foi repentino e terrível. Precipitados do alto do céu no fundo do inferno, de anjos, feito demônios; em lugar de deslumbre e beleza, horrível fealdade; em lugar de amor, ódio; em vez de beatitude celeste, a maldição de Deus, eis o que ganharam. Sofrem a pena do dano e do fogo, por toda a eternidade. ''Como caíste do céu, o astro brilhante!" exclama estupefato o profeta Isaías (Isaias, XIV, 12). De agora em diante, sua ocupação será lutarem contra Deus e contra os homens. Contra Deus, para roubar-lhe a sua glória e, contra os homens, para impedi-los de ocuparem no céu o trono que eles perderam. Infatigável em seu ódio e inveja, Satanás enche o ar, com a multidão de seus companheiros que, na frase da Igreja, ''andam pelo mundo para perder as almas''.

5° - Mas porque Deus permite que esses anjos decaídos nos tentem? Deus permite as tentações por desígnios dignos de sua sabedoria. É para nos provar, santificar e coroar. Quer provar-nos e, por meio da provação, mostrar-nos o que somos e o que podemos. A provação, com efeito, nos faz ver a nossa própria fraqueza e a necessidade do socorro Divino, manifesta a covardia dos maus, faz brilhar a virtude dos bons. Deus permite a tentação para nos santificar, para purificar-nos ''como o ouro na fornalha'' (Sab. III, 6), para exercer-nos na virtude. A virtude solida se adquire pelo exercício.
   Deus, enfim permite a tentação para nos coroar, isto é, para nos fazer conquistar um trono mais alto e brilhante. A tentação é ocasião de merecimentos: ''Ninguém, diz São Paulo, será coroado se não combater segundo as regras''.(II Tim., II, 2-5).
   Tentar seduzir os homens para arrastá-los consigo para o abismo, é a ocupação única do demônio, que por isso, merece o nome de tentador. Ele tem muitos outros nomes como, Satanás, que significa sedutor, diabo, Lúcifer - que faz alusão ao seu estado primitivo, isto é portador da luz.

6° - Como tem diversos nomes, tem diversas formas para manifestar-se. O sábio Cardeal Bona, as enumera: ''Como os bons anjos, os maus espíritos revestem, as vezes, corpos para mais facilmente enganar os sentidos por meio dos seus prestígios. Mas o que os anjos bons fazem para a nossa salvação, eles o fazem para nos perder. As formas sobre as quais uns e outros aparecem não são menos diferentes. Os anjos não costumam empregar senão a forma humana; os demônios, porém usam formas quer de homens, quer de animais. Evitam entretanto, adotar a forma de pomba e de cordeiro, não só porque são símbolos místicos do Espírito Santo, mas ainda porque estes animais não tem fel, não convém as violências ordinárias de Satanás. Usam não somente a semelhança dos brutos como também fingem fantasmas desconhecidos e monstruosos para incutir terror. Consta também, por experiência, que tomam as vezes, corpos mortos, cadáveres de réprobos, porque não e crível que Deus permita que possam servir-se dos corpos dos justos. Transformam-se ainda em aparência de pessoas vivas; oferecem aos olhos ou à imaginação espectros, simulacros de pessoas ou coisas. Enfim, como os poetas o contam de Proteu, eles tomam toda a especíe de forma para enganar e perder os pobres mortais. Felizmente como o diz Santo Agostinho, ''os demônios não podem desenvolver suas forças naturais (que são imensas) senão segundo a permissão de Deus, cujos juizos na maioria nos são ocultos, mas que são todos justos'' (De Disc. Spir. Pág 308.).


     Eis Satanás, tal qual a Sagrada Escritura, a teologia e a tradição o representam. A existência do demônio é uma realidade.
A célebre convertida Eva Lavallière, um dia, em palestra com o sacerdote que foi o instrumento de Deus na sua conversão, perguntou: 


                - Existe o diabo?
                - Cuidado, diz o padre, de modo brusco, pois a Sra. pode muito bem encontrar-se com ele.
A artista refletiu, meditou e voltou a Deus, trocando o teatro pelo convento. Ela poderia dizer, como Adolfo Retté, que foi do diabo para Deus.

Fonte: Blog Ipsa Conteret

Nenhum comentário:

Postar um comentário