terça-feira, 13 de março de 2012

A subida do Calvário



“Levanta-se... ruídos de passos fazem-se ouvir... tilintar de armas, murmúrios abafados. Clarões avermelhados e indecisos de archotes que caminham perturbam a sombra e o silêncio opressivo daqueles lugares. O Mestre aproxima-se dos seus, mal despertos ainda do pesado sono. O horto e a estrada que o atravessa são subitamente invadidos. Um homem destacou-se um pouco para frente do grupo de soldados e criados. Era Judas. Presa da paixão, já tendo vendido o Mestre, sentindo, aliás, que toda fuga era impossível, toda demora inútil, mais provável é que tivesse tomado sem constrangimento o seu partido de ser julgado pelos Apóstolos pelo que era. É, pois, rapidamente, eu ia dizer desassombradamente, que ele se adianta: “Mestre, eu Vos saúdo”. E beijou Jesus. Jesus, este tem duas palavras: a primeira é ainda uma delicadeza do Seu amor: “Amigo, diz com simplicidade, que vindes fazer? Que quereis? Por que viestes?”. Depois acrescenta logo, com esse tom pungente do amigo profundamente magoado: “Oh como, Judas... Tu me entregas com um beijo?!...”A ingratidão e a traição assombram, transtornam-nos a alma, custa-nos dar-lhes crédito... Será possível? Ele? que Eu distinguira, que Eu chamara! Ele que compartilhava a minha vida, os meus segredos; ele, a quem Eu reservava a mais alta dignidade do mundo: Apóstolo, fundamento da Igreja! Ah! Se fosse um dos meus inimigos, no mínimo um indiferente; porém tu, Judas, meu amigo, ad qui venisti? A que viste? Quando, ao clarão das tochas, no meio do horto, cercado pela criadagem e pelos soldados, Jesus sentiu se abaterem sobre Ele os lábios de Judas, aceitou o beijo porque sentiu neste beijo todas as traições secretas ou públicas daqueles a quem mais havia de amar no decorrer dos tempos, os Seus sacerdotes e os Seus religiosos. Judas era um e outro.”                                   
                                          ( Trecho do livro: A subida do Calvário)

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