"Amei a justiça e odiei a iniquidade, eis porque morro no exílio".
São
Gregório não só foi uma das figuras mais importantes entre os Papas da Igreja
Católica, bem como foi extremamente caluniado e perseguido durante seu
pontificado. É uma das figuras que mais defendeu os direitos da esposa de
Cristo. O Século XI foi para a Igreja um período de grande humilhação. Não
fosse ela uma instituição divina, edificada sobre a rocha, os próprios filhos
tê-la-iam destruído.
O Clero superior e inferior, em sua maioria, tinha
esquecido de sua alta missão. A simonia (tráfico ou venda ilícita de coisas
sagradas), corrupção e indisciplina, tinham tomado conta dos altos e baixos
setores da Igreja. Frequentíssimos escândalos, e os príncipes seculares, quais
lobos famintos, invadiam o aprisco do Senhor. Os reis Filipe e Augusto I da
França, Boleslau II da Polônia, Henrique IV, imperador da Alemanha, eram
verdadeiros monstros de crueldade e imoralidade. A palma, porém, coube ao
imperador, que em crueldade, devassidão e ambição não achava semelhante. Deus
se amerciou de sua Igreja e deu-lhe um Papa, como as circunstâncias o exigiam.
Foi no ano de 1073 que Hildebrando (depois cognominado Gregório VII), assumiu a
suprema dignidade papal. Ao receber essa notícia, São Pedro Damião,
contentíssimo exclamou: "Agora será calcada a cabeça miliforme da serpente
peçonhenta, e será posto um termo aos negócios torpes; o falsário Simeão Mago
não mais cunhará moedas na Igreja; voltará ao tempo áureo dos Apóstolos,
revigorará a disciplina eclesiástica, serão derrubadas as mesas dos
vendilhões..." Gregório convocou o Concílio Lateranense e renovou as
antigas leis da Igreja, que existiam, sobre o celibato dos sacerdotes, contra a
simonia, e fez incorrer nas censuras eclesiásticas os bispos da França, que
tinham rejeitado os decretos pontifícios, como impraticáveis e irrazoáveis. Dos
bispos da Alemanha, só dois tiveram a coragem de aceitar e por em execução as
determinações do Papa. O mais descontente de todos foi o imperador da Alemanha,
que pelas proibições do Papa, se via prejudicado no negócio mais rentosos. Wiberto,
arcebispo de Ravenna, ex-chanceler do imperador na Itália, promoveu uma
conspiração contra o Papa. Na estação da Missa da meia noite de Natal os
conspiradores, chefiados por Cencio, invadiram a Igreja e apoderaram-se da
pessoa do Papa, para levá-lo à prisão. O povo, porém, libertou seu Pastor e
Cencio teria sido apedrejado, se Gregório não lhe tivesse generosamente
perdoado.
Um segundo Concílio foi realizado em 1075, confirmou as determinações
anteriores e fez intimação ao imperador para que respondesse pelos seus crimes,
sob pena de excomunhão. Henrique respondeu com um decreto elaborado por bispos
alemães: "Falso monge, carregado de maldição de todos os bispos e
condenado pelo nosso tribunal, desce e renuncia à cadeia apostólica,
indignamente usurpada".Gregório, em vez de descer, lançou excomunhão
contra Henrique e os Prelados rebeldes. Os príncipes da Alemanha, há muito
cansados da tirania e arbitrariedade do imperador, reunidos na Dieta de Tribur
(1076), declararam-no deposto pelo prazo de um ano, caso não procurasse ser
absolvido da excomunhão, tendo-lhe sido decretado que comparecesse à grande
Dieta de Augsburgo, na qual devia justificar-se diante do Papa e da nação, com
audiência marcada para 02 de fevereiro de 1077. Proibiram-no que se ausentasse da
Alemanha antes da celebração da Dieta. Para evitar a humilhação de ser deposto,
onde às claras iriam lhe expor seus crimes, tratou de clandestinamente obter a
absolvição da excomunhão, dirigindo-se ao castelo da princesa Matilde, em
Canossa, onde estava o Papa Gregório. Em traje penitente, permaneceu descalço
por três dias em período de rigoroso inverno, esperando obter audiência do
Papa, que negou-se a recebê-lo por saber que deveria apresentar-se à Dieta.
Entretanto, graças às instâncias da condessa Matilde, acabou cedendo e recebeu
Henrique, que aceitou as condições impostas mediante juramento, motivo pelo
qual foi absolvido e recebeu a Sagrada Comunhão.
Mal saíra de Canossa,
esquecendo-se das promessas, aliou-se aos príncipes e bispos inimigos do Papa e,
uma vez na Alemanha, moveu guerra contra seus adversários. Reuniu um concílio
de bispos rebeldes em Mogúncia (1080), os quais elegeram papa o bispo Wiberto
de Ravenna, que tomou o nome de Clemente III. Rodolfo de Suábia, pereceu na
batalha de Volksheim e Henrique marchou sobre Roma, para tirar vingança do
Papa. Só depois de um assédio de dois anos, tomou a cidade, onde recebeu a
corôa imperial das mãos do antipapa. Gregório retirou-se para Salermo, onde
morreu em 25 de maio de 1085. As últimas palavras foram: "Amei a Justiça e
odiei a iniquidade, eis porque morro no exílio".
Henrique
não foi feliz com as conquistas. Graves distúrbios chamaram-no para a Alemanha
onde achou os filhos em franca rebelião contra o pai. Perseguido e amaldiçoado
pelos filhos, Henrique teve um fim triste, ao passo que Deus glorificou por
estupendos milagres o túmulo do seu fiel servo Gregório.
Fonte: Escravas de Maria
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