sábado, 4 de maio de 2013

Ele o faz segundo a situação de cada um


Confiança


Ele o faz segundo a situação de cada um



Deveremos tomar essas palavras ao pé da letra, e compreendê-las no seu mais restrito? Dar-nos-á Deus somente o estrito necessário: o pedaço de pão seco, o copo d´água, a nesga de tecido de que a nossa miséria precisa urgentemente? Não, o Pai celeste não trata os filhos com avarenta parcimônia. Pensar assim, seria blasfemar contra a Divina Bondade; seria, se assim posso dizer, desconhecer os seus hábitos. No exercício da sua providência, como na sua obra criadora, Deus usa, com efeito, de grande prodigalidade.

Quando lança os mundos através dos espaços, tira do nada milhares de astros. Na Via Láctea, essa plaga imensa das noites luminosas, cada grão de areia não é um mundo?

Quando alimenta os pássaros, convida-os à mesa opulentíssima da natureza. Oferece-lhes o trigo que enche as espigas, os grãos de todas as espécies que nas plantas ama­durecem, os frutos que o outono doura nos bosques, as se­mentes que o lavrador deita nos sulcos da charrua. Que lista variada ao infinito para a alimentação desses humildes bi­chinhos!...
Quando cria os vegetais, com que graça enfeita as suas flores! Lavra-lhes a corola como se fossem jóias preciosas, em seus cálices lança deliciosos perfumes, tece-lhes as péta­las de uma seda tão brilhante e delicada, que os artifícios da indústria nunca lhes igualarão a beleza.
E, então, tratando-se do homem, a sua obra-prima, o irmão adotivo do seu Verbo encarnado, não haveria Deus de Se mostrar de generosidade ainda maior?...
Consideremos, pois, como verdade indiscutível que a Providência prove largamente às necessidades temporais do homem.
Sem dúvida, haverá sempre na terra ricos e pobres.
Enquanto uns vivem na abundância, outros devem tra­balhar e observar uma sábia economia. O Pai celeste, po­rém, fornece, a todos, meios de viver com certo bem estar, segundo a condição em que os colocou.
Voltemos à comparação que Jesus emprega. Deus ves­tiu o lírio esplendidamente, mas essa veste branca e perfu­mada era reclamada pela natureza do lírio. Mais modesta­mente foi trajada a violeta; Deus deu-lhe, porém, o que convinha à sua natureza particular. E essas duas flores desabrocham docemente ao sol, sem que nada lhes falte.
Assim Deus faz com os homens. Colocou a uns nas clas­ses mais altas da sociedade; pôs outros em condições menos brilhantes: a uns e a outros dá, no entanto, o necessário para dignamente manterem a sua posição.
Levanta-se aí uma objeção, a respeito da instabilidade das condições sociais. Na crise presente, não será mais fácil decair do que elevar-se ou mesmo manter-se no mesmo ní­vel social?
Sem dúvida. Mas a Providência proporciona exatamen­te o auxílio às necessidades de cada um: para os grandes inales manda os grandes remédios. O que as catástrofes econômicas nos tiram, podemos readquirir com a nossa in­dústria ou trabalho. Nos casos muito raros em que a ativi­dade própria se vê de todo reduzida à impossibilidade, te­mos, então, o direito de esperar de Deus uma intervenção excepcional.
Geralmente, pelo menos assim penso eu, Deus não Ia/, decaídos. Ele quer, pelo contrário, que nos desenvol­vamos, que subamos, que cresçamos com prudência. Se, as vezes, permite uma decadência de nível social, não a quer senão por uma vontade posterior à ação do nosso livre arbítrio. O mais freqüente é provir tal decadência de faltas nossas, pessoais ou hereditárias. É comumente con­seqüência natural da preguiça, da prodigalidade, de pai­xões várias.
E, ainda assim, pode o homem, mesmo decaído, levantar-se e, com o auxílio da Providência, reconquistar, pelos seus esforços, a situação perdida.

(Livro da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)

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