sábado, 25 de maio de 2013

Deus concede-nos todos os socorros necessários para a santificação e a salvação de nossa alma.


Confiança

Deus concede-nos todos os socorros necessários para a santificação e a salvação de nossa alma.



Certas almas angustiadas duvidam da própria salva­ção. Lembram-se demasiado de faltas passadas; pensam nas tentações tão violentas que, por vezes, nos assaltam a todos; esquecem a bondade misericordiosa de Deus. Essa angústia pode tornar-se uma verdadeira tentação de de­sespero.

Em moço, São Francisco de Sales conheceu uma pro­vação dessas: tremia de não ser um predestinado ao Céu. Passou vários meses nesse martírio interior. Uma ora­ção heróica o libertou: O Santo prosternou-se diante de um altar de Maria; suplicou à Virgem que o ensinasse a amar seu Filho com uma caridade tanto mais ardente sobre a terra, quanto ele temia não poder amá-Lo na eter­nidade.

Nesse gênero de sofrimento, há uma verdade de fé que nos deve consolar imensamente. Só nos perdemos pelo pe­cado mortal.

Ora, sempre o podemos evitar, e, quando tivermos tido a desgraça de cometê-lo, poderemos sempre nos reconciliar com Deus. Um ato de contrição sincera, feito logo, sem de­mora, nos purificará, enquanto esperamos a confissão obrigatória, que convém se faça sem detença.

Certamente a pobre vontade humana deve sempre des­confiar da sua fraqueza. Mas o Salvador nunca nos recusará as graças de que carecemos. Fará também todo o possível para ajudar-nos na empresa, soberanamente importante, da nossa salvação.

Eis a grande verdade que Jesus Cristo escreveu com o seu Sangue e que vamos agora reler juntos na história da sua
Paixão.

Já tereis algum dia refletido como puderam os judeus apoderar-se de Nosso Senhor? Acreditareis, por acaso, que isso conseguiram pela astúcia ou pela força? Podeis imagi­nar que, na grande tormenta, Jesus foi vencido porque era o mais fraco?!

Seguramente não. Os inimigos nada podiam contra Ele. Mais de uma vez, nos três anos de suas pregações, haviam tentado matá-Lo. Em Nazaré, queriam jogá-Lo num precipício; por várias vezes tinham apanhado pedras para lapidá-Lo. Sempre, porém, a sabedoria divina des­fez os planos dessa ímpia cólera; a força soberana de Deus reteve-lhes o braço; e Jesus afastou-Se sempre tranqüila­mente, sem que ninguém tivesse conseguido fazer-Lhe o
menor mal.


Em Getsêmani, ao dizer Ele simplesmente seu nome aos soldados do Templo vindos para assenhorearem-se da sua pessoa sagrada, toda a tropa cai por terra tocada de estranho pavor. Os soldados só se podem levantar pela per­missão que Ele lhes dá.

Se Jesus foi preso, se foi crucificado, se foi imolado, é que assim o quis, na plenitude da sua liberdade e do seu amor por nós. "Oblatus est guia voluit".

Se o Mestre derramou, sem hesitar, o Sangue todo por nós, se morreu por nós, como poderia recusar-nos graças que nos são absolutamente necessárias e que Ele próprio nos mereceu pelas suas dores?


Essas graças, Jesus as ofereceu misericordiosamente às almas mais culpadas durante a Paixão dolorosa. Dois Apóstolos haviam cometido um crime enorme: a ambos ofereceu o perdão.

Judas O atraiçoa e Lhe dá um beijo hipócrita. Jesus fala-lhe com doçura tocante; chama-lhe seu amigo; procura à força de carinho tocar esse coração endurecido pela avareza. "Meu amigo, por que vieste ? — Judas, tu trais o Filho do homem com um beijo?...". É esta a última graça do Mestre ao ingrato.

Graça de tal força, que jamais lhe mediremos bem a in­tensidade. Judas, porém, a repele: perde-se, porque assim formalmente o prefere.

Pedro cria-se muito forte... Tinha jurado acompanhar o Mestre até a morte, e O abandona, quando O vê às mãos dos soldados. Só O segue então de longe. Entra tremendo no pátio do palácio do Sumo Sacerdote. Por três vezes renega o seu Senhor -- porque receia os motejos de uma criada. Com juramento afirma que não co­nhece "esse homem". Canta o galo... Jesus volta-Se e fixa sobre o Apóstolo os olhos cheios de misericordio­sas e doces censuras. Cruzam-se os olhares... Era a gra­ça, uma graça fulminante que esse olhar levava a Pedro. O Apóstolo não a repeliu: saiu imediatamente e chorou com amargura a sua falta.

Assim como a Judas, como a Pedro, Jesus nos oferece sempre graças de arrependimento e conversão. Podemos aceitá-las ou recusá-las. Somos livres! A nós compete deci­dir entre o bem e o mal, entre o Céu e o inferno. A salvação está em nossas mãos.

O Salvador não só nos oferece as suas graças, como faz mais: intercede por nós junto ao Pai celestial. Lembra-Lhe as dores sofridas pela nossa Redenção. Toma a nossa defesa diante dEle; desculpa-nos as faltas: "Pai, exclama nas angústias da agonia, Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!".

O Mestre, durante a Paixão, tinha tal desejo de salvar-nos, que não cessava um instante de pensar em nós.

No Calvário dá aos pecadores o seu último olhar; pro­nuncia em favor do bom ladrão uma de suas últimas pala­vras. Estende largamente os braços na Cruz para marcar com que amor acolhe todo arrependimento em seu Coração amantíssimo.



(Livro da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent) 

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