segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Santíssimo Sacramento Ou As obras e vias de Deus - III


III - COMUNHÃO
A Comunhão é o segundo dos mistérios do Santíssimo Sacramento. Com toda a razão, os teólogos afirmam que a maior homenagem que possa ser prestada ao Criador está em O receber e dEle se nutrir neste mistério formidável. Quando por isso refletimos que a comunhão é para os homens na ordem espiritual o que é o alimento na ordem temporal, compreendemos facilmente o império que ele de continuo exerce sobre toda a raça humana.
Se percorrermos a vida de um Santo onde o autor tenha se estendido em longos e minuciosos detalhes, ficaremos por vezes estupefatos em presença do que foi necessário para terminar o edifício desta santidade. Foi-lhe preciso atravessar verdadeiros oceanos de tentações e vencer inúmeros obstáculos acumulados. Por quantos cruéis momentos de abandono, por quantos penosos labores, por quantas espantosas mortificações, por quantas provas de toda casta houve que passar para atingir este ponto culminante! E parece que não seria ele o santo que realmente é, se uma destas provas lhe tivesse sido poupada!

Pois bem! uma só comunhão encerra em si bastantes graças para fazer-nos santos; bastaria, para a consecução deste resultado, bebesse copiosamente nesta fonte inesgotável!

A misericórdia de Deus, que nos tirou do nada e nos deu o livre arbítrio, por isso mesmo nos expôs ao risco de perdemo-nos eternamente; risco, porém, que o homem não se arreceia de correr, com a esperança de alcançar a Visão Beatífica de Deus. Este risco implica inalterável perseverança no meio dos cuidados, pesares, calamidades, trabalhos, decepções e descontentamentos de toda a sorte. Todavia, tivemos um grande privilégio, um benefício digno de Deus, qual o de ser-nos permitido correr tal risco na eventualidade de uma só comunhão.

Recolhamos todos os atos humanos, que se têm realizado neste mundo; e se os resumíssemos em um só que encerrasse tudo quanto há de nobre, de generoso, de heróico, de amável e de tocante em cada um deles e se o puséssemos ao lado do que faz o homem pelo ato de receber a Santa Comunhão, seria ele menos que nada, a sombra de uma sombra. A Comunhão é mais brilhante que todas as glórias reunidas, mais profunda que todas as ciências juntas, mais magnífica que todas as pompas de realeza.

Mas tão fracos meios de avaliar a sublime dignidade da Comunhão não se assemelham as folhas da floresta, aos grãos de areia das praias e a todas estas comparações pueris, por meio das quais nos esforçamos por dar a um menino uma idéia da eternidade, idéia que, aliás, somos incapazes, como ele, de compreender? Não devemos, tão pouco, entre pensamentos mais elevados e exclusivamente espirituais, não devemos esquecer de meditar com santo terror sobre os juízos temporais que Deus pronuncia contra os profanadores do Santíssimo Sacramento.

O Espírito Santo ordenou a São Paulo revelasse a Igreja que, em razão das comunhões sacrílegas, muitos fiéis haviam sido flagelados por cruéis moléstias e alguns até pela morte temporal. Dir-se-ia que a indignação divina, que nos tempos antigos se interpunha para proteger a arca do Senhor, se preme agora em volta do adorável Sacramento dos nossos altares. Durand, no seu Rationale, nos ensina que na época da Páscoa as mortes súbitas se reproduziam de tal modo em Roma, que este fenômeno abalou a atenção pública, tanto mais quanto nenhuma razão aparente, dado o curso ordinário das coisas, parecia justificar tão considerável recrudescência nas proximidades de uma festa móbil.

Enfim, o papa recebeu a luz do alto, pela qual foi levado a concluir que este aumento de mortandade era infringida as numerosas comunhões sacrílegas cometidas por aqueles que estavam preenchendo o seu dever pascal. Em consequência, mandou acrescentar ao hino pascal a seguinte estrofe:

Quaesumus, Auctor omnium,
In hoc, paschali gaudio,
Ab omni mortis impetu
Tuum defende populum

Dignai-Vos, Autor de todas as coisas,
no meio da Festa da Páscoa,
de preservar o Vosso Povo
de todos os assaltos da morte.

Corrigidos os hinos, a estrofe foi substituída pela seguinte:

Ut sis perenne mentibus
Paschale, Jesu, gaudium,
A morte dira criminum
Vitae renatos libera.

Para perpetuar em nossas almas
a alegria que lhes trazeis nesta solenidade,
dignai-Vos, ó Jesus livrar da morte do pecado
os que ora renasceram para a vida.

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