quinta-feira, 19 de abril de 2012

Será Verdade mesmo que a Juventude não Gosta de Ler?


Frederico de Castro

É muito comum que se escute em vários lugares que a juventude de hoje escreve mal e o faz porque não gosta de ler.
Essa afirmação não parece ser verdadeira. Dizer antecipadamente que o ser humano não gosta daquilo que ele seguramente sabe que lhe poderia fazer bem não parece ter qualquer lógica.
Com efeito, a juventude atual realmente escreve mal e não tem hábito de leitura, mas muito provavelmente não o faz por falta de gosto ou de interesse; pelo menos em sua grande maioria. Note-se: há certa falácia no valor absoluto dos livros, da leitura e da própria educação, quando nos deparamos com a falsidade de frases feitas tais como “não há livro ruim, o que há é falta de leitura” ou “o que falta ao Brasil é educação”. Isso só pode ser verdade em um ambiente liberal no qual existe a falta da noção do que possa ser o erro, e, sobretudo, o erro moral e ético.

Na verdade, os jovens estão com seu espírito crítico no auge e detectam, ainda que de maneira imprecisa, esse tipo de falsidade. A lógica comum do homem mediano não permite que ele admita uma vida sem a noção do certo e do errado e os livros fazem parte desse contexto. Não é sem mais que no passado a Santa Igreja havia editado o Index Librorum.
Isso é curioso, pois não é um fato que se restringe ao Brasil, mas no mundo afora, há essa mesmíssima reclamação. E por quê? Bem; a julgar pelo que a sociedade contemporânea exige poder-se-á compreender os motivos.
Hoje em dia uma pessoa tem um tempo de vida muito curto em que normalmente tem algum respeito social: para os homens, até cerca dos trinta e dois anos se é novo demais, depois dos 45 se é velho demais; para as mulheres até os 17 se é nova demais e depois dos 27 já se é velha demais. Com efeito, a sociedade diz esperar que o jovem saiba falar e escrever muitíssimo bem o idioma pátrio, mas em outras instâncias tem horror a qualquer espécie de erudição. Quando se ainda é jovem, mas não criança, se diz jocosamente que a pessoa está um “aborrecente” mas mal se chega a idade adulta e à maturidade, já se é um “velho caquético”.
Isso tudo lança uma série de contradições que vão de encontro ao gosto pela leitura, pois tais circunstâncias se refletem no mercado literário que vai ao sabor dos desejos sociais, sendo que os títulos dos “best Sellers” não nos desmentem quanto a isso.
Títulos tais como “Comer, Beber e Rezar” ou “Como Água para Elefantes” expressam a superficialidade que se espera de seus leitores e o jovem capta isso muito facilmente. Ora se os bons livros – a julgar pelo discurso social - seriam os chamados “clássicos literários” por qual razão os mais vendidos seriam justamente os livros mais superficiais e contraditórios?
O jovem não quer perder seu tempo; sua rebeldia naqueles socialmente ajustáveis é meramente limitada à crítica. Ele quer desempenhar a finalidade que a sociedade dele se espera. Se o discurso social é contrário ao exemplo que se dá a experiência comum do quotidiano demonstra que será a segunda situação aquela que se segue.
Nesse sentido, não basta dizer que o jovem escreve mal porque não gosta de ler, mas é preciso verificar que a profunda crise ética e moral em que vivemos produz má literatura baseada em um estilo de vida hipócrita. Má literatura não é a melhor saída para despertar o gosto pela leitura em ninguém; nem nos jovens e nem nos adultos.

 Fonte: SPES

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