VII - O Viático e a
Procissão
O Viático
é o sexto mistério da vida da adorável Hóstia; e quem poderia dizer até aonde
vai o seu poder? Com efeito, o Viático torna o homem no fim da sua carreira;
condu-lo além do túmulo; é como um laço que prende a vida a morte, o tempo a
eternidade e os sofrimentos deste mundo as alegrias imortais. Morremos fortificados pelo
Viático, cuja influência benéfica nos suaviza a severidade do julgamento e
tempera o ardor das chamas do purgatório, ao passo que sua poderosa energia não
se debilita até que nos tenha deposto, qual mão de Juiz tutelar, ao pé do trono
da Divindade.
Esta vida
que se escapa; esta grande viagem que se aproxima; este combate interior e
invisível de inumeráveis peripécias; enfim, esta morte cujos aspectos variam ao
infinito, todas estas coisas encontram misteriosa realização na plenitude do
Viático. A carne volta ao pó e é restituída pela decomposição aos elementos,
que a constituem; levando consigo esta força invisível, este gérmen misterioso,
incomensurável e indivisível que um dia haverá de reclamá-la a vida,
restabelecê-la no seu estado primitivo, espalhando sobre ela o vivo fulgor da
imortal beleza em gloriosa ressurreição.
O sétimo
mistério do Santíssimo Sacramento é a Procissão, o ponto mais elevado, aonde é
dado ao culto eclesiástico e as cerimônias católicas atingir. Como já disse no
Prólogo, a Procissão exprime uma idéia de triunfo. O nosso Deus, velado sob as
espécies sacramentais, adianta-Se sob as abobadas da igreja, como o
conquistador da raça humana, com toda a pompa que o amor do homem, reduzido aos
seus sós recursos, pode reunir em torno de si.
Então é
que sentimos que Ele é nosso e que os Anjos têm menos que nós direito de O
reclamar. A Procissão é a função da Fé, que arde no nosso
coração, que refulge no nosso rosto e que faz a nossa voz tremer de emoção,
quando o nosso Lauda Sion parece proclamar um desafio ao
mundo dos incrédulos. É a função da esperança, pois que levamos conosco Aquele
que fez da terra uma morada semelhante ao céu; Jesus que há de ser o nosso
Recompensador eterno, colocou-se-nos entre as mãos, como para nos dar penhor
das nossas promessas; e assim faremos tremer as potências infernais,
dizendo-lhes pelos nossos gritos e cantos de alegria quanto seguros estamos de
possuir o céu.
Entretanto,
o adorável Sacramento, radioso de glória, despede relâmpagos que enchem de
terror aos nossos inimigos invisíveis. É função, enfim, de amor, pois que,
então, com o coração palpitando de alegria e reconhecimento, nos aventuramos a
fazer o uso que Ele mesmo nos deu de nos tornarmos familiares com Ele.
Demais, a
Procissão representa de um modo tocante aos olhos de Deus toda espécie de vida,
privada, social, política e eclesiástica; com efeito, que são todas as
existências dos homens e das famílias, senão outras tantas procissões de
exilados que procuram através de escolhos e perigos deste tempestuoso mar, que
se chama o mundo, alcançar a borda da pátria celeste, onde Jesus os espera?
E graças
a este adorável mistério, não é somente para Ele que eles se dirigem, mas é em
companhia do seu Deus que se dirigem para o Céu.
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