VIII – CONCLUSÃO
COMUNHÃO ESPIRITUAL
Tais são as sete maneiras de considerar a Eucaristia, como Vida da Igreja e como força vivificante. Mas o que acima de tudo realça maravilhosamente a sua grandeza é que uma coisa, que não é mais que sombra do Santíssimo Sacramento, constitua por si só um dos grandes poderes da terra. Refiro-me à Comunhão espiritual que é, propriamente falando, a comunhão dos Anjos. Nada mostra mais admiravelmente falando, a comunhão dos Anjos. Nada mostra mais admiravelmente a influência que esta última exerce junto a Jesus, do que as numerosas ocasiões, nas quais desejo o de comungar se permite à alma de realmente receber a Santa Comunhão, por virtude de algum espantoso milagre. Exemplos de tal já citamos, falando de Santa Catarina de Sena, de outros santos e, principalmente, de Santa Juliana Falconieri, que comungou sem manducarão, tendo-lhe sido a hóstia posta através do peito; sua comunhão foi real, sem ter sido inteiramente espiritual, nem propriamente sacramental; porquanto, para que esta se dê, os Teólogos fazem da manducação a indispensável condição. O Concílio de Trento recomenda aos fiéis a prática da comunhão espiritual e Santo Thomas a explica assim:
“Aqueles
são considerados haver comungado espiritualmente, que tenham vivo desejo de
receber a Santa Eucaristia e comam espiritualmente o corpo de Jesus Cristo, sob
as espécies sacramentais”.
De sorte que, segundo faz observar Scaramelli, recebem eles não só Jesus
espiritualmente, mas ainda secretamente de um modo espiritual. É assim que o
mártir Santo Inácio disse aos Romanos: “Não desejo os prazeres do mundo,
mas desejo o pão de Deus, o pão de Deus, o pão do céu, o pão da vida, a carne
de Jesus Cristo, Filho do Deus vivo. Anseio por saciar-me desta bebida que é o
Seu sangue e que acende em nós um amor incorruptível, dando-nos o penhor da
vida eterna”.
Santo Afonso, em seu encantador tratadinho sobre as Visitas ao
Santíssimo Sacramento, refere que Nosso Senhor fez ver à Irmã Paula Maresca
dois vasos preciosos, um de ouro e outro de prata: no primeiro, se conservavam
todas as comunhões sacramentais; e no outro, todas as comunhões espirituais.
Joana da Cruz afirmava que recebia muitas vezes na comunhão espiritual as
mesmas graças, das quais era cumulada na comunhão sacramental; e, com um
suspiro, exclamava:
“Ó raro e
precioso método de comungar, para o qual não é de necessidade a permissão de um
Diretor ou de qualquer outro superior; mas só a Vossa, meu Deus, basta.”
A bem-aventurada Ágata da Cruz era animada de tanto amor pelo SS.
Sacramentado, que morreria, segundo se diz, se o seu confessor não lhe tivesse
ensinado a prática da comunhão espiritual; e, quando ela a possui, tinha
costume de a repetir duzentas vezes em um dia. Surin e Scaramelli afirmam ambos
que certas almas recebem graças mais abundantes nas comunhões espirituais do que
teriam recebido se houvessem comungado sacramentalmente; sem dúvida, caso como
este apresenta-se raramente e, quando acontece, é preciso atribuir-se, como
razão, não a ineficiência do Sacramento, mas a falta de fervor entre os homens.
Surin, na relação dos favores que ele recebeu após a famosa possessão de
Loudum, consagra ás graças que recebeu pelo canal da Eucaristia um capítulo, no
qual se encontra a seguinte passagem:
“Muitas
vezes há acontecido que minha alma tem necessidade tão viva de comer o pão da
vida que, em não comungando, a necessidade se tornava tão pungente a tal ponto,
não só de comunicar um desânimo ao meu coração, como de me inabilitar para
tomar qualquer espécie de alimento. Como o pão e o vinho haviam cessado de ser
para mim refresco, via-me forçado a tomar o pão que havia à minha vista e orar
a Nosso Senhor de dar-lhe a virtude de me fortificar. Comia então o pão nesta
intenção, e notei que tinha ele o mesmo gosto sobrenatural que eu achava na
hóstia; e este gosto era tão distinto e tão sensível que não podia duvidar pela
força que ele me infundia que fosse Nosso Senhor que, em Sua divina bondade,
houvesse atendido ao meu extremo desejo de comungar e que assim nutrisse e
satisfizesse minha alma pela virtude do Seu divino corpo, que eu recebia em meu
desejo com a mesma plenitude que se tivesse comungado pela mão de um padre”.
“Este
alimento, diz Santa Catarina de Sena, falando
do corpo e do sangue de Nosso Senhor, comunica-nos mais ou menos força, segundo
a intensidade do desejo com que o recebemos, qualquer que seja a natureza da
nossa comunhão, sacramental ou virtual”.
Depois, ela passa a descrever esta última, que ela chama também comunhão espiritual. Santa Teresa demonstra quanto importa para a alma ficar só em presença de Nosso Senhor e não pensar senão nEle durante o tempo da ação de graças, após a comunhão; e fala da comunhão espiritual de passagem, quando se trata das disposições que havemos de entreter para dignamente recebemos a Nosso Senhor.
Depois, ela passa a descrever esta última, que ela chama também comunhão espiritual. Santa Teresa demonstra quanto importa para a alma ficar só em presença de Nosso Senhor e não pensar senão nEle durante o tempo da ação de graças, após a comunhão; e fala da comunhão espiritual de passagem, quando se trata das disposições que havemos de entreter para dignamente recebemos a Nosso Senhor.
Donde é levada a notar que estas disposições sós, sem que seja necessário receber Nosso Senhor Sacramentado, são para nós a fonte de inúmeras graças. Eis como ela se exprime: “Todas às vezes, ó minhas filhas! Que ouvirdes missa e não vos aproximeis da santa mesa, nada vos impede de fazer a comunhão espiritual. É uma prática, da qual se colhem frutos abundantes e preciosos, se vos retirardes imediatamente em vós mesmas, assim como vos aconselheis, quando comungardes sob as espécies sacramentais; pois Nosso Senhor aproveita esta ocasião para difundir o Seu amor nas almas fervorosas. Com efeito, quando nos preparamos para recebê-lO, Ele não falta nunca de se nos dar por diferentes modos, que não nos são dados a conceber”.
Lê-se na vida de Santa Maria Madalena de Pazzi que as religiosas do mosteiro submetidas à sua direção tinham o costume de fazer a comunhão espiritual todas as vezes que a moléstia do padre ou qualquer outro motivo se punha à distribuição quotidiana do Pão Eucarístico. Dava-se pela manhã o sinal do costume, chamando as irmãs à comunhão e, estando todas reunidas, oravam em comum, durante meia hora; depois faziam a comunhão espiritual. Foi numa ocasião dessas que São Maria Madalena recebeu a comunhão pelas mãos de São Alberto do Carmo, depois de haver dito oConfiteor e o Domine non sum dignus, depois de ter cumprido todas as formalidades, que eram de costume quando recebia a Santa Comunhão. Ela declarou posteriormente que havia visto o Santo, sustendo o cibório entre as mãos e indo de uma religiosa à outra e distribuindo o corpo de Jesus Cristo.
Sua larga e veemente caridade fazia-lhe desejar que outras, e principalmente as do seu mosteiro, sentissem grande fome do Pão Eucarístico, isto tanto no interesse da glória de Deus, como no interesse das suas almas.
Conta-se da mesma santa um caso que nos lembra o dom atribuído por João
d’Ávila à Santíssima Virgem. Deus, diz o biografo da Santa, concedeu-lhe a
graça de ver Jesus entre as irmãs sob várias formas. Ela O via em uma, sob
traços de um menino; em outras, Ele aparecia com a idade de doze, ou de trinta
ou trinta e três anos; em outras, enfim, sofrendo e crucificado, segundo os
desejos, o grau de perfeição ou de capacidade de cada Religiosa. Uma vez,
estando em companhia de outras Religiosas, ela relanceou as vistas sobre todas
e detendo-as sobre uma pessoa que estava perto, disse-lhe:
“Quanto
quero a estas irmãs; considero-as como outros tantos tabernáculos do Santíssimo
Sacramento, que tantas vezes elas recebem e guardam no seio”.
Uma manhã
de Páscoa, enquanto ela estava à mesa, no refeitório, iluminou-se-lhe a
fisionomia, de radiante alegria. Uma das suas noviças percebeu-o e,
aproximando-se, disse-lhe em confidência: “Minha mãe, donde lhe vem esta
alegria?” – “Da beleza da presença divina,
porque avisto Jesus, descansando no coração de todas as irmãs. – Sob que forma? - replicou a noviça. – Em
toda a glória da Ressurreição, tal como a Igreja a representa hoje.”
Diz-se de Santa Ângela Merici que, quando se lhe proibia a santa
comunhão de cada dia, ela supria-a por freqüentes comunhões espirituais na
missa, e se sentia por vezes inundada de graças semelhantes às que teria
recebido, caso tivesse comungado; por isso deixou à sua ordem como legado
precioso uma recomendação fervorosa de não desprezar esta devoção. O Padre
Squillante, do oratório de Nápoles, na sua vida da Irmã Maria de Santiago, da
Ordem Terceira de São Domingos, nos informa que tal era o amor desta piedosa
pessoa ao Santíssimo Sacramento que, afinal, chegara ao extremo de fazer uma
comunhão espiritual de cada vez que respirava, de maneira que nela se realizavam as
palavras seguintes, de Jeremias: “Sentindo de longe o que ela
amava, corria logo após ele, sem que nada a pudesse deter”.
A irmã
Francisca das Cinco-Chagas, Religiosa Napolitana da ordem de Alcântara, tinha o
hábito de visitar o Santíssimo Sacramento em espírito, quando não lhe era
possível ir à igreja. Viam-na muitas vezes elevar-se acima do solo, com os
braços estendidos e o rosto voltado para a igreja mais próxima: “Ó meu
esposo! Meu divino esposo! Ó Vós, a alegria de todo o coração! Quisera reunir
em meu peito os corações de todos os homens para Vos abençoar e Vos amar! Ó meu
doce Jesus! Como acontece que esteja eu hoje sem vós? Oh! Mil vezes felizes as
línguas que Vos receberam! Felizes as paredes desta igreja, que encerra o meu
Salvador! Quanto desejaria que fosse o meu coração uma fornalha ardente, onde
ardesse sem cessar o fogo do amor, afim de mais Vos poder amar! Oh, como é
digna de inveja a sorte dos Padres junto deste sol de Justiça, junto do meu doce
Salvador!”
E ela procurava satisfazer o seu amor por freqüentes comunhões espirituais: era a este remédio que recorria nos momentos de sequidão e desolação. Mas, não era raro que suas comunhões espirituais se transformassem em comunhões sacramentais; pois São Rafael, que era o seu Anjo da Guarda, lhe dava a comunhão, do mesmo modo que a Bem-aventurada Benevenuta a recebia de São Gabriel. Por vezes, celebrando a missa, o Padre Bianchi, Religioso Barnabita, viu que lhe arrancava o cálice uma mão invisível (era de São Rafael), que em seguida lh’o restituía.
Em certa circunstância, o precioso sangue havia mais que de metade desaparecido; e Francisca disse ao Padre: “Ó meu Pai, sem a intervenção de São Rafael que me recomendou o deixasse afim de que pudesse consumar o sacrifício, eu teria esgotado o cálice!”
E ela procurava satisfazer o seu amor por freqüentes comunhões espirituais: era a este remédio que recorria nos momentos de sequidão e desolação. Mas, não era raro que suas comunhões espirituais se transformassem em comunhões sacramentais; pois São Rafael, que era o seu Anjo da Guarda, lhe dava a comunhão, do mesmo modo que a Bem-aventurada Benevenuta a recebia de São Gabriel. Por vezes, celebrando a missa, o Padre Bianchi, Religioso Barnabita, viu que lhe arrancava o cálice uma mão invisível (era de São Rafael), que em seguida lh’o restituía.
Em certa circunstância, o precioso sangue havia mais que de metade desaparecido; e Francisca disse ao Padre: “Ó meu Pai, sem a intervenção de São Rafael que me recomendou o deixasse afim de que pudesse consumar o sacrifício, eu teria esgotado o cálice!”
Lê-se na Vida de uma Dama Romana, Maria Scholastica Muratori, pelo Padre
Gabrielli, do Oratório de Bologna, que ela se esforçava por fazer comunhão
espiritual todas as vezes que respirava ou levantava os olhos, de modo que,
dizia ela, se viesse a morrer de repente, eu morreria aspirando meu Deus. Outra
das suas práticas consistia em fazer comunhão espiritual em dada forma, quando
via na igreja alguém que recebia a comunhão.
Que deve a realidade, quando a sombra possui tal poder? Se tivéssemos estado na Galiléia com Jesus, Ele haveria de ter sido tudo para nós, em todos, quando conhecêssemos a Sua Divindade. Seria Ele o nosso primeiro pensamento, desde manhã, ao acordarmos, até à tarde, o nosso último, ao adormecermos. É o que Ele foi para a Sua Mãe; é o que é ainda para a Sua Igreja; enfim, o que deverá ser para nós, na terra; como o é para os bem-aventurados no céu.
Às vezes, parece-nos que sondamos o abismo de caridade, de que é o Santíssimo Sacramento fiel representação; e sentimo-nos inundados de alegria, de amor e de adoração.
Ficamos incapazes de orar, mas o nosso próprio silêncio já é uma prece. O louvor emudece em nossos lábios. Mas a nossa alma toda se transformou em um cântico de louvores.
Já começam a escorrer nos olhos lágrimas ardentes, ah, quando o mundo nos envia ao coração um ligeiro sussurro, o eu se recolhe todo sobre si e, de repente, apaga-se a luz. Mas no céu não será assim. Ah, se tivéssemos já alcançado aquelas margens benditas, fosse-nos permitido gozar, pela primeira vez, da vista de Jesus sem véus. Jesus, que é o penhor beatífico da nossa boa vinda na nossa verdadeira e eterna Pátria.
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