Os
santos padres chamam a humildade de base de todas as virtudes. De todas as
virtudes, a humildade é o fundamento e a guarda. Sem humildade, não há virtude
que possa existir numa alma. Possua embora todas as virtudes, fugiriam todas ao
lhe fugir a humildade. Diz S. Francisco de Sales e S. Joana Chantal que Deus é
tão amante da humildade, que se apressa em correr onde a vê.
I.
HUMILDADE DE MARIA
No
mundo era desconhecida essa virtude tão bela e necessária. Mas, para ensiná-la,
veio a terra o próprio filho de Deus, exigindo que, principalmente nesse
particular, lhe procurássemos imitar o exemplo: “Aprendei de mim que sou manso
e humilde de coração” (MT 11,29) E assim como em todas as virtudes foi Maria
Santíssima a primeira e a mais perfeita discípula de Jesus Cristo o foi também
na humildade. Pela humildade ela mereceu ser exaltada sobre todas as criaturas.
1.
O primeiro traço da humildade é o modesto conceito de si mesmo.
O
humilde conceito de sim mesma foi o encanto com que Maria prendeu o coração de
Deus. Não podia, é claro, a Santíssima Virgem julgar-se uma pecadora, pois, na
frase de S. Tereza, a humildade é a verdade, e Maria tinha consciência de nunca
haver ofendido a Deus.
Vendo-se
uma mendiga revestida de custosas vestes, que lhe foram dadas, não se
envaidece, mas antes se humilha ao contemplá-las diante de seu benfeitor. A
Santíssima Virgem quanto mais enriquecida se via, mais se humilhava.
Lembrava-se sem cessar, de que tudo aquilo era dom de Deus. Dai a sua palavra a
S. Isabel de Turíngia: Creia-me filha, sempre me tive pela última das criaturas
e indigna das graças de Deus.
2.
Também é efeito da humildade ocultar os dons celestes.
Nem
a São José quis Nossa Senhora revelar a graça de se haver tornado Mãe de Deus.
O pobre esposo viu como ela ia ser mãe, e necessitava de esclarecimentos que o
libertassem de cruciantes suspeitas da honestidade da esposa, e dele afastasse
vexames e confusões. De uma lado, José não podia duvidar de Maria e de outro
ignorava o mistério da Encarnação. Resolveu por isso deixá-la ocultamente, para
sair de tão embaraçosa situação. Tê-lo-ia feito certamente, se o anjo não lhe
houvesse revelado que sua esposa se tornara Mãe por obra do Espírito Santo.(MT
1,18-23).
3.
Os humildes recusa os louvores referindo-se todos a Deus.
Tal
foi o procedimento de Nossa Senhora, ao perturbar-se diante dos louvores que
lhe dirigia o arcanjo S. Gabriel. Assim foi o seu procedimento, quando Isabel a
chamou de bendita entre todas as mulheres e a Mãe do Senhor. Imediatamente
Maria atribui toda a glória a Deus, respondendo no seu humilde cântico: “Minha
alma engrandece ao Senhor”. É como se disse: Isabel tu me louvas, porém eu louvo
ao Senhor a quem unicamente é devida toda a honra. Tu te admiras de vir eu a
ti, mas eu admiro a bondade divina, na qual tão somente, meu espírito se
alegra. Louvas-me porque eu acreditei, mas eu louvo a meu Deus que quis exaltar
o meu nada, na baixeza de sua serva pôs seus olhos. É esse o motivo que Maria
disse a Santa Brígida: Porque me humilhei tanto ou por que mereci, minha filha
tão extraordinária graça? Só porque estava plenamente convencida de não valer nada,
de não possuir algo de mim mesma.
4.
É próprio do humilde prestar serviços.
Maria
não se negou a servir Isabel durante três meses. Escreve S. Bernardo:
Admirou-se Isabel da vinda de Maria, porém mais admirável ainda era o motivo de
sua vinda: vinha para servir e não para ser servida.
5.
O humilde gosta de uma vida retirada e despercebida.
Lembra-nos
São Bernardo, quando Jesus pregava numa casa e ela desejava falar com ele. Não
se animou a entrar. Ficou de fora e não confiou no prestígio de mãe, mas evitou
de interromper a pregação do filho. (MT 12,46). Quis também tomar o último
lugar, quando estava no cenáculo com os apóstolos. “Todos perseveravam de comum
acordo em oração com as mulheres, e Maria, Mãe de Jesus” (At 1,14). Bem conhecia
São Lucas qual o mérito da Divina Mãe, devendo nomeá-la antes de todos. Porém,
de fato Maria tinha tomado o último lugar, depois dos apóstolos e das santas
mulheres. São Lucas, na opinião de um autor, os nomeou a todos e por último a
Virgem, segundo o lugar que ocupava. Diz São Bernardo: Com razão tornou-se a
primeira a que era a última porque, sendo a primeira se fizera a última.
6.
Os humildes amam finalmente os desprezos.
Eis
porque não se lê que Nossa Senhora aparecesse em Jerusalém ao domingo de Ramos,
quando o seu Filho foi recebido com tanta pompa pelo povo. Mas, por ocasião da
morte de Jesus, não receou comparecer em público no Calvário, aceitando assim a
desonra de se dar a conhecer por mãe de um sentenciado, que ia sofrer a morte de
um criminoso. Ela mesma disse uma vez a S. Brígida: que há de mais humilde, do
que ser chamado de louco, sofrer privação de tudo e ter a si mesmo por último
de todos? Ó filha, era assim a minha humildade, na qual estava minha alegria e
todo desejo de meu coração; pois minha única preocupação era ser em tudo
semelhante a meu Filho.
O
Senhor mostrou um dia a S. Brígida duas mulheres: uma toda luxo e
vaidade. Esta – disse Ele – é a soberba. Contempla essa que
tem a cabeça baixa, que é serviçal para com todos, pensando em Deus unicamente
e convencida do seu nada: é a Humildade e chama-se Maria.
Diz
S. Bernardo: “Se
não podes imitar a humilde Virgem em sua pureza, imita ao menos a pura Virgem
em sua humildade”. Ela
aborrece os soberbos e só chama a si os humildes diz o Santo Ricardo de S.
Lourenço: “Maria protege-nos sob o manto da humildade”. O mesmo quis
dizer ela a Santa Brígida quando falou: “Vem também tu minha filha,
esconde-te debaixo do meu manto, que é a humildade”. Acrescentando que a
meditação de sua humildade era um manto bom e aquecedor. Um manto aquece só
quem o traz, não em pensamento, mas em realidade. Assim também minha humildade
aproveita só aqueles que se esforçam por imitá-la.
Martinho
d’Alberto, jesuita, costumava
varrer a casa e ajuntar o lixo por amor da Virgem, apareceu-lhe um dia a Mãe de
Deus, refere o Padre Nieremberg, agradeceu-lhe esse obéquio, dizendo: “Como
me é agradável a humilde ação que praticas por amor de mim”.
Oração:
Ó
minha Rainha, não poderei ser vosso filho, se não for humilde. Não vedes,
porém, que meus pecados, depois de me terem tornado ingrato(a) ao meu Senhor,
me tornaram também soberbo(a)? Ó minha Mãe, remediai a este mal e, pelos
merecimentos de vossa humildade, impetrai-me a graça de ser humilde e tornar-me
vosso(a) filho(a). Amém
(Tirado do Livro Glorias de Maria de Santo
Afonso de Ligório)
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