sábado, 1 de dezembro de 2012

Só em Deus se acha a verdadeira felicidade.



Quatro franciscanos em meio ao mundo não se preocupam com nada mais além do que agradar a Virgem Maria, e assim também a Deus, rezando o santo Rosário

Todos os bens e prazeres do mundo não podem contentar o coração do homem. Quem o pode, pois, contentar? Só Deus. Deleita-te no Senhor, e ele te outorgará as petições de teu coração. O coração do homem anda sempre à procura de um bem que o possa saciar. Desfrute riquezas, prazeres, honras; não estará contente, porque estes bens são finitos e ele foi criado para um bem infinito. Encontre-se com Deus, una-se a Deus, e ei-lo contente sem mais outro desejo.

Santo Agostinho nunca achou a paz enquanto passou a vida nos prazeres dos sentidos. Mas, quando se deu a Deus, então confessou e disse ao Senhor: Inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te – “Nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós”. Meu Deus, dizia, agora vejo que todas as criaturas são vaidade e aflição, e só Vós sois a verdadeira paz da alma. Instruído assim à sua custa, escreveu: “Ó homem, criatura mesquinha, porque andas à procura dos bens deste mundo? Procura o único bem que encerra todos os outros.”

Como Deus sabe tornar felizes as almas fiéis que o amam! Quando São Francisco de Assis deixou tudo por amor de Deus, posto que andasse descalço, coberto apenas com uns farrapos, morto de frio e fome, experimentava um gozo celestial ao pronunciar estas palavras: Deus meus et omnia – “Meu Deus e meu tudo”. Quando São Francisco de Borja, depois de religioso, devia em viagem dormir sobre a palha, sentia tamanha consolação que nem conseguia conciliar o sono. Da mesma forma São Filipe Neri, tendo deixado tudo, recebia de Deus consolação tão viva, que, ao deitar-se, exclamava: “Meu Jesus, deixai-me dormir.” No meio de seus árduos trabalhos nas Índias, São Francisco Xavier descobria o peito, exclamando: “Basta, Senhor, de consolações; já não me cabem no peito.” Santa Teresa costumava dizer que uma só gota de consolação celeste dá mais contentamento que todas as doçuras e divertimentos do mundo. – Além disso, não podem falhar as promessas que Deus fez de recompensar o que por seu amor renuncia aos bens do mundo, dando-lhe ainda nesta vida o cêntuplo de paz e de felicidade. Centuplum accipiet et vitam aeternam possidebit (1) – “Receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna”.

Que é que estamos procurando? Vamos a Jesus Cristo, que nos convida, dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais carregados e fatigados e eu vos aliviarei”(2) – É verdade que nesta vida os próprios santos têm que sofrer, porque a terra é um lugar de merecimentos e não se pode merecer sem sofrer. Diz contudo São Boaventura que o amor divino é semelhante ao mel que adoça e torna agradáveis as coisas mais amargas. O que ama a Deus, ama a vontade divina e isto lhe faz gozar uma alegria espiritual nas próprias aflições, porque sabe que, abrançando-a, agrada e contenta a seu Deus.

Grande Deus, os pecadores querem desprezar a vida espiritual, mas sem a terem saboreado! Vident crucem, sed non vidente unctionem. Eles vêem, diz São Bernardo, somente as moritificações que sofrem os amigos de Deus, e os prazeres de que se privam, mas não vêem as delícias espirituais que o Senhor lhes prodigaliza. Oh! Se os pecadores provassem a paz que goza uma alma que não quer senão Deus: Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (3) – “Gostai e vede, quão suave é o Senhor”.

Meu irmão, começa a fazer meditação todos os dias, a comungar freqüentes vezes, a entreter-te com Jesus no Santíssimo Sacramento; aplica-te a uma devoção filial para com Maria Santíssima e recorre a esta boa Mãe em todas as tuas necessidades. Em suma, começa a desligar-te do mundo e unir-te a Deus e verás que o Senhor, no pouco tempo que passares com ele, te há de dar mais consolações do que o mundo te deu com todos os seus divertimentos: “Gosta e vê, quão suave é o Senhor.”

Meu amado Redentor, como pude ser, no passado, tão cego até Vos abandonar, ó Bem infinito, a fonte de todas as consolações, em troca das miseráveis satisfações dos sentidos? Graças vos dou pelo tempo que me concedeis para reparar o mal que fiz. Meu Jesus, amo-Vos de todo o coração, e, porque Vos amo, pesa-me sobre todas as coisas de Vos ter ofendido. Não permitais que ainda me separe de Vós; fazei que sempre Vos ame e depois fazei de mim segundo a vossa vontade. Doce Coração de Maria, sêde minha salvação. (*97.)

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1. Matth. 19, 29.
2. Matth. 11, 29.
3. Ps. 33, 9.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 251- 253.)

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