(O nascimento de Jesus, , Agnolo Bronzino, 1535-1540) |
Por que
Jesus deveria nascer em Belém, e não em Jerusalém, Nazaré ou mesmo Roma? Há
motivos para pensar assim:
1. Com
efeito, Isaías diz: “A lei virá
de Sião e a palavra de Deus de Jerusalém” (2, 3). Ora, Cristo é a
verdadeira Palavra de Deus. Logo, tinha de vir ao mundo em Jerusalém.
2. Além
disso, está escrito a respeito de Cristo, no Evangelho de Mateus, que “será chamado nazareno” (2, 23).
Isto está tomado da profecia de Isaías: “uma
flor nascerá de sua raiz” (11, 1). Ora, ‘Nazaré’ quer dizer flor. Mas alguém é denominado
sobretudo do lugar em que nasceu. Logo, parece que
deveria ter nascido em Nazaré,
onde também foi concebido e criado.
3.
Ademais, o Senhor veio ao mundo para anunciar a fé na verdade, como diz o
Evangelho de João: “Eu nasci e
vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (18, 37). Ora, tal
missão teria resultado mais fácil se tivesse nascido na cidade de Roma, que então dominava o
mundo. Por isso Paulo, na Carta aos Romanos, diz: “No mundo inteiro se proclama a vossa fé” (1, 8).
Logo, parece que não deveria nascer em Belém.
SOLUÇÃO: Cristo quis nascer em Belém por dois
motivos. Primeiro, porque “é da
descendência de Davi segundo a carne”, como se diz na Carta aos
Romanos (1, 3). É a Davi que foi feita uma promessa especial a respeito de
Cristo, segundo o livro dos Reis: “Oráculo
do homem posto no alto, do Messias do Deus de Jacó” (23, 1). Por
isso quis nascer em Belém, onde nascera também Davi, para que, pelo mesmo lugar
do nascimento, aparecesse a realização da promessa que lhe ytinha sido feita. É
o que mostra o evangelista ao dizer: “Porque
era da casa e da família de Davi”.
E, em
segundo lugar porque, como diz Gregório: “Belém
quer dizer ‘casa do pão’. E o próprio Cristo afirma: ‘Eu sou o pão vivo, que
desceu do céu’”.
Quanto
às objeções acima, deve-se, portanto, responder que:
1.
Deve-se dizer que Davi nasceu em Belém, mas escolheu Jerusalém para estabelecer
nela a sede de seu reino e ali edificar o templo de Deus. Assim, Jerusalém
viria a ser ao mesmo tempo a cidade real e sacerdotal. Mas o sacerdócio de
Cristo, e o seu reino, se realizaram principalmente em sua paixão. Por isso era
conveniente que, para nascer, escolhesse Belém e para a paixão Jerusalém.
Além
disso, desmascarava assim a glória dos homens que se orgulham de ter nascido em
cidades famosas, nas quais querem principalmente ser honrados. Cristo, pelo
contrário, quis nascer numa cidade sem nome e padecer opróbrios numa cidade
famosa.
2.
Cristo quis distinguir-se por um modo de ser virtuoso, não por sua origem
carnal. Por isso quis ser criado e educado em Nazaré; e em Belém quis nascer
como um estrangeiro. Pois, como diz Gregório: “Pela humanidade que tinha assumido nasceu como em terra
estranha; não segundo o poder, mas segundo a natureza”. E Beda
acrescenta: “Por estar
necessitado de um lugar na hospedaria, estava a nos preparar muitas moradas na
casa de seu Pai”.
3. Como
se lê num sermão do Concílio de Éfeso: “Se
tivesse escolhido a ilustre cidade de Roma, teriam pensado que a conversão do
orbe terrestre se devia ao prestígio de seus cidadãos; se fosse filho do
Imperador, teriam atribuído as vantagens ao poder. Mas para que fosse
reconhecido que a divindade transformara o orbe terrestre, escolheu uma mãe
pobrezinha e uma pátria mais pobre ainda”.
“Pois Deus escolheu o que é fraco no mundo
para confundir o que é forte”, como se diz na primeira Carta aos
Coríntios (1, 27). Por isso, para manifestar mais o seu poder, estabeleceu em
Roma, que era a capital do universo, a cabeça de sua Igreja, em sinal de
perfeita vitória e para que dali se estendesse a fé ao mundo inteiro, segundo
as palavras de Isaías: “Abateu a
cidade inacessível; pisá-la-ão os pés dos pobres”, isto é, de
Cristo, “e os passos dos
desvalidos” (26, 5-6), isto é, dos Apóstolos Pedro e Paulo.
(Suma
Teológica, III, q. 35,a. 7)
Nenhum comentário:
Postar um comentário