Santo
Tomás de Vilanova nasceu em Fuenllana (Espanha) no ano de 1488, mas foi criado
em Villanueva (Vilanova, em português) de los Infantes, de onde tomou seu nome
ao entrar na Ordem dos Agostinianos. Seus pais, Alonso Tomás Garcia e Lucia
Martinez de Castellanos, praticavam obras de caridade, socorrendo a toda
espécie de necessitados. Tomás herdou dos pais esta virtude. Dava a seus
coleguinhas mais necessitados tudo o que podia, inclusive suas próprias vestes
e calçados. Um dia em que os pais não estavam em casa, chegaram seis pobres
pedindo esmola. O menino, não encontrando nada para dar-lhes, foi ao galinheiro
e pegou seis franguinhos, dando a cada um dos pobres um destes. E disse à mãe
que, se houvesse mais um pobre, ter-lhe-ia dado também a galinha. Seguindo o
exemplo da mãe, desde muito cedo começou a jejuar, não só nos dias prescritos
pela Igreja mas também em outros de sua devoção. Flagelava-se e fazia outras
sortes de penitências como se fosse já um adulto. Estudante modelar na
universidade de Alcalá Quando tinha 15 anos seus pais enviaram-lhe à famosa
Universidade de Alcalá para cursar humanidades, retórica, filosofia e teologia.
Seu sucesso foi tanto que nos nove anos de estudos naquela instituição ele foi
aclamado por todo mundo. No entanto, sua virtude era ainda mais notável que sua
ciência. Apesar do seu sucesso, jamais perdeu a modéstia e a humildade: ele
aceitava os elogios como se não fosse ele que estivesse em foco. Aos 17 anos a
morte de seu pai obrigou-o a voltar temporariamente para casa a fim de pôr em
ordem os assuntos domésticos. Ele recebeu de herança uma grande residência que
transformou em hospital para os pobres. Sua mãe cumpriu sua vontade,
encerrando-se ela mesma no hospital para passar os seus anos de viuvez a
serviço dos pobres. De professor de filosofia a frade agostiniano Voltando para
Alcalá passou a ensinar filosofia na Universidade. Ele tinha então 26 anos. Mas
outras eram suas preocupações. Havia muito vinha ele pensando em consagrar-se
inteiramente a Deus mediante a vida religiosa. Por isso, deixou as glórias do
mundo pelo hábito agostiniano. Tomás fez sua profissão solene em 25 de novembro
de 1517. Ordenado sacerdote algum tempo depois, celebrou sua primeira missa no
dia de Natal. Ele entrou em êxtase ao cantar o Glória. Tomás conservaria para
sempre uma terna devoção à Divina Infância e ao Santo Sacrifício do altar. Ele
costumava dizer que é péssimo sinal para um sacerdote quando ele é visto
celebrar a Missa todos os dias sem se tornar cada vez melhor. Não perdia um
minuto durante o dia. Os lugares que mais frequentava eram o altar, o coro
(para as orações), sua cela (uma cela em um mosteiro é o aposento de um membro
da comunidade; a cela é utilizada para estudar e meditação, também), a
bilbioteca (para os estudos) e a enfermaria (para cuidar dos doentes). O santo
não podia ver um religioso ocioso e inútil que já o comparava a um soldado sem
armas e exposto ao ataque de seus inimigos. Dizia que ter ciência e grande
erudição sem a piedade é como uma espada na mão de uma criança: é uma arma que
pode ferir pois não tira proveito daqueles dons de ciência para ninguém. Ele
criticava também os religiosos que, sob pretexto de devoção, não se aplicavam
suficientemente ao estudo. Outro São Paulo ou Elias Designado à pregação ele a
fazia com tanto empenho que o consideravam um outro São Paulo (pela
profundidade de sua doutrina) ou um outro Elias
da nova Lei (por causa do zelo que demonstrava em seus sermões). Tomás
reformou de tal maneira Salamanca que a cidade “se havia tornado um mosteiro”.
Muitos jovens renunciaram ao mundo para seguir a Deus. O próprio Imperador
Carlos V quis ouví-lo e acabou escolhendo-o para seu pregador. Quando Tomás
pregava fora do palácio, o Rei ia disfarçado para ouví-lo. O santo não aprovava
os pregadores que, para dar mostras de erudição, faziam longos e prolixos
sermões. Por uma visão interior ele conhecia as necessidades espirituais de
seus ouvintes e o mais admirável era
que, por mais diferentes que fossem seus interlocutores, todos saíam com maior
piedade após ouvir seu sermão. Preguiça e ociosidade: inimigas da virtude Tomás
foi eleito prior de Burgos e Valladolid e duas vezes foi provincial da
Andaluzia e uma vez de Castela. No governo de seus súditos sua mansidão de
coração e o atrativo de sua pessoa constituíam poderosas armas para exercer sua
autoridade. Nos seus governos, ele desejava primeiro que os oficios divinos
fossem celebrados com toda a reverência e atenção possíveis; em segundo lugar,
que os religiosos considerassem a meditação e a leitura espiritual como coisas
invioláveis; terceiro, que a paz e a união na caridade fraterna fossem
guardadas sem nenhuma alteração; e, finalmente, que ninguém fosse dominado pela preguiça ou
pelo ócio, vícios que são os maiores inimigos da virtude, a ruina da alma, o
destruidor da castidade e a fonte de todas as desordens. Com tais normas, ele
fez florescer a observância em todas as casas sob sua jurisdição. Ou seja:
promoveu uma verdadeira reforma no sentido católico do termo. Arcebispo de
Valência por inspiração divina Frei Tomás relutou em aceitar ser bispo, ele
teve que curvar a cabeça e conformar-se com os desígnios da Providência. Tinha
então ele 56 anos. Foi nomeado no dia 10 de outubro de 1544. Conservou como
arcebispo seu hábito religioso que ele mesmo remendava. O cabido da
arquidiocese, pensando que ele não tivesse dinheiro para comprar roupas
melhores, deu de presente quatro mil ducados para que comprasse trajes mais
condizentes com seu posto. Imediatamente Tomás doou o dinheiro ao hospital,
agradeceu muito ao cabido dizendo que o bem que era feito aos doentes ele o
tomava como para si próprio. Começou sua administração pela visita pastoral à
sua circunscrição eclesiástica pregando por toda parte, resolvendo litígios,
reformando conventos e extirpando os vícios. Promoveu um sínodo para acabar com
muitos abusos e reformar o clero. Extraordinária caridade e milagres. A
caridade do então Dom Tomás era insuperável. Atendia diretamente no palácio
inúmeros pobres. Não importava a hora do dia ou da noite em que os necessitados
pediam seu auxílio. Freqüentemente acompanhava seus atos de caridade com
milagres. A um paralítico que lhe pedia esmola, perguntou se preferia trabalhar
e ganhar seu sustento com as próprias mãos. À resposta afirmativa, ele lhe
disse: “em nome de Jesus Crucificado, deixa tuas muletas e anda.” No mesmo
instante o pobre começou a andar e a agradecer. Santo Tomás de Vilanova tinha
êxtases em público, o que contribuia para aumentar a veneração que por ele
sentiam. Seus milagres também eram conhecidos por todo mundo. Entretanto, como
ele mesmo dizia, nunca temera tanto salvar-se como desde o momento em que se
tornou arcebispo. Isso, devido às responsabilidades que lhe cabiam, pelo bem
das almas de todos seus diocesanos. Por essa razão, aspirava ardentemente
renunciar ao cargo e voltar para sua cela de religioso. Enfim, quando ele
suplicava com lágrimas a Nosso Senhor que o livrasse desse pesado fardo, o
Crucificado lhe respondeu: “Tenha ânimo, que no dia do nascimento de minha Mãe
virás descansar.” No dia 8 de setembro de 1555, Tomás de Vilanova recebeu o
prêmio demasiadamente grande de sua fidelidade.
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