Necessidade da intercessão de Maria
Para nossa salvação.
(Santo Afonso de Maria Ligório)
3. Uma segunda objeção
Mas, replica o citado autor moderno (Muratori), se todas as graças passam por Maria, a ela hão de recorrer os santos que invocamos, a fim de nos obterem as graças que lhes pedimos. Mas isto, diz ele, ninguém crê, nem o sonhou. Enquanto a crê-lo, respondo que nisso não pode haver erro, ou incoveniente algum. Para honrar a Mãe, constituiu-a Deus Rainha dos santos e quer que por suas mãos sejam dispensadas todas as graças. Que incoveniente então pode haver que também os santos a ela se dirijam para obtenção das graças solicitadas por seus devotos? Enquanto a dizer que isso ninguém o sonhou, eu acho que tal asseveram explicitamente S. Bernardo, S. Anselmo, o Padre Suárez e outros mais. Em vão pedir-se-iam graças aos santos, se Maria não se empenhasse em obtê-las, diz S. Bernardo.
Um escritor interpreta no mesmo sentido as palavras do Salmo (44, 13): Todos os ricos do povo suplicarão teu olhar. Os ricos dos grande povo de Deus, diz ele, são os santos. Quando querem obter qualquer graça a algum de seus devotos, se encomendam a Maria para que ela as obtenha. Com razão, portanto, pedimos aos santos que sejam nossos intercessores junto a Maria, que lhes é Rainha e Senhora, diz o Padre Suárez.
Justamente isso, como relata o padre Marchese, pro-meleu S. Bento a S. Francisca Romana. Aparecendo-lhe um dia, prometeu-lhe que a protegeria sempre como advogado junto à Mãe de Deus. Com o exposto concordam as palavras de S. Anselmo: Senhora, o que a intercessão de todos os santos pode obter unida convosco, pode obtê-lo a vossa sozinha sem o auxilio deles. E por que é assim tão grande vosso poder? pergunta o Santo. Porque sois a Mãe do nosso Salvador, a Esposa de Deus, a Rainha do céu e da terra. Santo algum pedirá por nós e nos ajudará, se não falais em nosso favor. Mas no que o dignardes fazer, empenhar-se-ão todos os santos em pedir por nós e nos socorrer.
As palavras do Eclesiástico (24, 8): "Eu sozinha rodeei o giro do céu" — são aplicadas a Maria pela Igreja, e Ségneri assim as comenta: Assim como a primeira esfera1 com o seu movimento faz que todas as outras esferas se movam, assim também o paraíso inteiro reza com Maria, quando ela se põe a pedir por uma alma.Pacciucchelli diz até que a Virgem, como Rainha, ordena aos anjos e santos que a acompanhem, e junto com ela dirijam sua preces ao Altíssimo.
Entendemos assim finalmente o motivo por que a Santa Igreja nos manda invocar e saudar a Divina Mãe com o grande título de "Esperança nossa". Afirmava o ímpio Lutero não poder suportar que a Igreja Romana chamasse Maria, uma criatura, nossa esperança. Que só Deus e Jesus Cristo, como nosso medianeiro, são nossa esperança; que, ao contrário, Deus amaldiçoa a quem põe
sua esperança nas criaturas — era o que o ln-n>',c »h/i;i. Mas a Igreja ensina-nos a invocar constanlemeiile Mana <• a saudá-la como nossa esperança. Aquele c|iie por sua esperança na criatura, independentemente de Deus,e sem dúvida amaldiçoado pelo Senhor. Pois tão sonu-nie de e ,i única fonte e distribuidor de todo o bem. Semeie nada tem e nada pode dar a criatura. Mas, como temos provado conforme a determinação de Deus, todas as graças devem chegar até nós por meio de Maria, como por um canal de misericórdia. Por conseguinte, não só podemos como de vemos confessar que ela é nossa esperança, porquanto recebemos as graças por seu intermédio. Daí o título que lhe dá S. Bernardo "de toda a razão de sua esperança". O mesmo diz S. Damasceno dirigindo-se à Santíssima Virgem com estas palavras: Em vós, Senhora, tendo colocado toda a minha esperança e de vós espero minha salvação. Também S. Tomás sustenta que Maria é toda a esperança de nossa salvação. Virgem Santíssima, exclama S. Efrém, acolhei-nos sob a vossa proteção se salvos nos quereis ver; pois só por vosso intermédio esperamos a salvação.
Concluamos então com as palavras de S. Bernardo: Procuremos venerar com todos os afetos do coração Maria, Mãe de Deus, porque é vontade do Senhor que de suas mãos recebamos todos os bens da graça. Sempre, portanto, que desejarmos ou solicitarmos uma graça, tratemos, segundo o conselho do Santo, de recomendar-nos a Maria e tenhamos confiança de obtê-la por sua intercessão. E continua ele: Se tu não mereces a graça solicitada, bem a merece Maria, que por ela se empenhará. Pelo que também nos aconselha que recomendemos a Maria todas as boas obras e orações que oferecemos a Deus, se queremos que ele as aceite.2
1) Na idéia dos antigos o universo compunha-se de bolas de cristal, cujo centro era a terra. Davam-lhes o nome de esferas celestes (Nota do tradutor).
2) A doutrina sobre a mediação de Nossa Senhora está hoje fora de
toda dúvida. Os quatro últimos Papas manifestaram-se com toda a cla
reza sobre ela, quer reproduzindo as opiniões dos Santos Doutores, quer
publicando as suas próprias. Temos agora Ofício e Festa de Nossa
Senhora, Medianeira das graças. Por isso, escreve Bainvel, S. J.: A dupla
cooperação de Maria na obra da redenção, primeiro na tenra por sua vida,
sofrimentos e preces, e depois no céu pela oração tão somente, é doutrina
católica, segura, indiscutível e definível, isto é, pode ser declarada como
verdade de fé. — Mais uma vez, S. Afonso teve razão; bateu-se por um
futuro dogma, na sua visão de profeta (Nota do tradutor).
toda dúvida. Os quatro últimos Papas manifestaram-se com toda a cla
reza sobre ela, quer reproduzindo as opiniões dos Santos Doutores, quer
publicando as suas próprias. Temos agora Ofício e Festa de Nossa
Senhora, Medianeira das graças. Por isso, escreve Bainvel, S. J.: A dupla
cooperação de Maria na obra da redenção, primeiro na tenra por sua vida,
sofrimentos e preces, e depois no céu pela oração tão somente, é doutrina
católica, segura, indiscutível e definível, isto é, pode ser declarada como
verdade de fé. — Mais uma vez, S. Afonso teve razão; bateu-se por um
futuro dogma, na sua visão de profeta (Nota do tradutor).
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