Da dignidade de São José, Esposo da Virgem Maria.
Iacob
autem genuit Ioseph, virum Mariae, de qua natus est Iesus ― "Jacob gerou a José,
esposo de Maria, da qual nasceu Jesus" (Math. 1, 16)
Sumário. Para formarmos uma idéia da
dignidade de São José, basta ponderarmos que, na qualidade de esposo de Maria e
chefe da sagrada Família, tinha verdadeiros direitos sobre a Mãe de Deus e seu
divino Filho, que assumiram a obrigação de lhe obedecer, e lhe obedeceram em
tudo. Quanto devemos, pois, honrar àquele a quem Deus honrou tanto! Quanto
devemos confiar na eficácia de sua proteção! ― E tu, és-lhe realmente
devoto?... Recorres prontamente a ele em tuas necessidades?
I.
Considera em primeiro lugar a dignidade de São José por ser esposo de Maria.
Nesta qualidade adquiriu o direito de lhe dar ordens, e Maria, na qualidade de
esposa, assumiu a obrigação de obedecer a São José. O humílimo São José nunca
se serviu de mandos para com a santa Virgem, mas somente de pedidos, por
venerar nela a grande santidade e a dignidade de Mãe de Deus. A humílima
Esposa, porém, entre todas as criaturas a mais humilde, considerava sempre
aqueles pedidos como outras tantas ordens. ― Ó Maria, ó José, ó Esposos
santíssimos, que por vossa grande humildade vos fizestes tão amados de Deus,
suplico-vos que me alcanceis o perdão de todos os meus atos de soberba, e a
graça de sofrer d’aqui por diante com paciência todos os desprezos e injúrias
que me vierem da parte dos homens, porquanto hei merecido ser pisado aos pés
dos demônios no inferno.
Considera
em segundo lugar a alta dignidade de São José por lhe ser conferido por Deus o
ofício de pai de Jesus Cristo: Et erat subditus illis (1) ― "E
era-lhes submisso". Quem é que estava submisso? O Rei do mundo, o
Filho de Deus e também verdadeiramente Deus todo-poderoso, eterno, perfeito, em
tudo igual ao Pai. Este é quem na terra quis estar submisso a São José. Por si
mesmo não tinha José autoridade sobre Jesus, por não ser o pai verdadeiro, mas tão
somente o pai putativo. Como esposo, porém, e chefe de Maria, foi o chefe
também de Jesus Cristo, enquanto homem, por ser o fruto das entranhas de Maria.
Quem é dono de uma árvore, o é também dos frutos.
Eis
porque a Beata Virgem o chamou pai de Jesus: Pater tuus et ego dolentes
quaerebamos te (2) ― "Eu e teu pai angustiados te procuramos".
Foi
portanto a São José, como chefe daquela pequena Família, que coube o ofício de
mandar, e a Jesus o de obedecer; de sorte que Jesus nada fazia, não se movia, não
tomava alimento nem repouso, senão segundo as ordens de José. Ó dignidade
inefável!
II.
Devemos honrar muito aquele a quem Deus mesmo tanto tem honrado. E grande
confiança devemos pôr na proteção de São José, que viu nesta terra o Senhor do
mundo submisso às suas ordens. Escreve Santa Teresa: "O Senhor nos quis
dar a entender que, assim como na terra quis ficar submisso a São José, assim
faz agora no céu tudo o que o Santo Lhe pede".
Meu santo
Patriarca, pela grande reverência que, como a seu esposo, vos teve Maria,
rogo-vos que me recomendeis a ela, e me alcanceis a graça de ser o seu
verdadeiro e fiel servo até à morte. E pela submissão que na terra vos mostrou
o Verbo encarnado, obtende-me a graça de Lhe obedecer e de amá-Lo
perfeitamente. No céu Jesus se compraz em conceder todas as graças que vós
pedis em favor daqueles que a vós se recomendam. Eu também, miserável como sou,
me recomendo a vós, escolho-vos por meu advogado especial e prometo honrar-vos
cada dia com algum obséquio particular. Meu Pai, São José, por piedade,
alcançai-me aquela graça que vós sabeis ser mais útil à minha alma, e
especialmente a virtude da santa pureza.
"Sim,
glorioso São José, pai e protetor das virgens, guarda fiel, a quem Deus confiou
Jesus, a mesma inocência, e Maria, a virgem das virgens, eu vos peço e conjuro
por Jesus e Maria, este duplo depósito a vós tão caro, com vosso eficaz auxílio
dai-me conservar meu coração isento de toda mancha, e que, puro e casto, sirva
constantemente a Jesus e Maria em perfeita castidade" (3). ― E vós, ó Mãe
de Deus e minha Mãe Maria, pela santa humildade e obediência com que
executastes tudo que vosso santo Esposo José vos pedia, alcançai-me de Deus a
graça da santa humildade e da perfeita obediência a seus preceitos divinos (4).
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1. Luc. 2, 51
2. Luc. 2, 48
3. Indulgência de 100 dias.
4. Esta meditação, embora não se ache nas obras completas de Santo Afonso, é todavia do santo Doutor.
(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas
do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa
inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 324-326.)
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