Meditação das Dores de
Nossa Senhora de Santo Afonso Maria Ligório
Frutos da meditação das
dores de Maria Santíssima.
Sicut qui thesaurizat, ita et qui honorat matrem
suam ― "Como quem ajunta um tesouro, assim se porta o que honra sua
mãe" (Eclo 3, 5).
Sumário. Por causa do imenso amor com que Jesus
Cristo ama sua querida Mãe, são-Lhe muito agradáveis os que com devoção meditam
nas dores de Maria Santíssima e inúmeras são as graças que lhes comunica. Mas
infelizmente, quão poucos são os que praticam tão bela devoção! Muitos
cristãos, em vez de se compadecerem das dores de Maria, lh’as renovam com seus
pecados ou sua tibieza. Irmão meu, serás tu também um destes ingratos?
I. Para compreender quanto agrada à Bem-Aventurada
Virgem que nos lembremos de suas dores, bastaria somente saber que ela, no ano
de 1239, apareceu a sete devotos seus (que depois foram os fundadores da Ordem
dos Servos de Maria), com um hábito negro na mão e ordenou-lhes que, desejando
fazer-lhe causa agradável, meditassem com freqüência em suas dores. Por isso
queria que em memória delas trouxessem daí em diante aquele hábito lúgubre.
Jesus Cristo mesmo revelou à Bem-aventurada Verônica de Binasco, que quase Lhe
agrada mais ver compadecida sua Mãe que Ele mesmo, pois que lhe disse assim:
Filha, são-me caras as lágrimas derramadas pela minha Paixão; mas como eu amo
com amor imenso a minha Mãe, me é mais cara a meditação das dores que ela
padeceu na minha morte.
Por isso são muito grandes as graças que Jesus
prometeu aos devotos das dores de Maria. Refere o Padre Pelbarto ter sido
revelado a Santa Isabel, que São João Evangelista, depois que a Santíssima
Virgem foi assunta ao céu, desejava vê-la mais uma vez. Foi-lhe concedida a
graça e apareceu-lhe sua cara Mãe e juntamente com ela também Jesus Cristo. Ouviu
depois, que Maria pediu ao Filho alguma graça especial para os devotos das suas
dores e que Jesus lhe prometeu para eles quatro graças especiais: 1º. Que o que
invocar a divina Mãe pelos merecimentos de suas dores merecerá fazer, antes da
morte, verdadeira penitência de todos os seus pecados. 2º. Que ele defenderá
aqueles devotos nas tribulações em que se acharem, especialmente na hora da
morte, 3º. Que imprimirá neles a memória de sua Paixão e que no céu lhes dará
depois o competente prêmio. 4º. Que entregará os tais devotos nas mãos de
Maria, afim de que deles disponha à sua vontade e lhes obtenha todas as graças
que quiser. Em comprovação de tudo isto encontram-se nos livros inúmeros
exemplos.
II. Se é tão agradável a Maria Santíssima que nos
lembremos das suas dores e se são tão grandes as graças que Jesus Cristo
prometeu a quem pratica esta devoção, claro está que, juntamente com a devoção
à Paixão do Redentor, devia ser a de todos os cristãos. Mas infelizmente,
quantos não há que, especialmente nestes dias de carnaval, em vez de honrarem a
Virgem dolorosa, ainda lhe aumentam as penas e pela sua tibieza e pelos seus
pecados lhe traspassam o coração com novas espadas?
É isso que, como conta o Padre Roviglione, a
divina Mãe quis ensinar a um jovem seu devoto. Tendo este caído em pecado
mortal e ido na manhã seguinte visitar uma imagem da Virgem que tinha sete
espadas no peito, viu não sete, mas oito espadas. Ouviu então uma voz que lhe
disse que aquele seu pecado tinha acrescentado a oitava espada no coração de
Maria.
Ah, minha bendita Mãe! Não só uma espada, mas
tantas espadas quantos têm sido os meus pecados acrescentei ao vosso coração.
Ah Senhora! Não a vós, que sois inocente, mas a mim, réu de tantos delitos, se
devem as penas. Mas já que vós quisestes padecer tanto por mim, ah! pelos
vossos merecimentos impetrai-me uma grande dor dos meus pecados e paciência
para sofrer os trabalhos desta vida, que serão sempre leves em comparação com
os meus deméritos, pois que tantas vezes tenho merecido o inferno. Impetrai-me
também, ó minha Mãe, uma devoção constante e terna à Paixão de Jesus Cristo e
às vossas dores, afim de que, depois de Vos ter acompanhado na terra em vossas
penas, mereça participar da vossa glória no céu. (*I 230.)
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(Santo Afonso Maria de
Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o
primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder &
Cia, 1921, p. 277-279.)
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