quinta-feira, 25 de abril de 2013

A confiança é inabalável



Confiança

A confiança é inabalável



As considerações precedentes terão parecido, talvez, por demais abtratas. Era necessário, no entanto, que nelas nos firmássemos: delas deduziremos as qualidades da verdadeira confiança.

A confiança, escreve o Padre Saint-Jure, é “firme, estável e constante em grau tão eminente, que nada no mundo pode, já não digo derrubá-la, mas abalá-la sequer”.

Imaginai as extremidades mais angustiosas de ordem temporal, as dificuldades insuperáveis, em aparencia, de ordem espiritual: nada disso alterará a paz da alma confiante... Catástrofes imprevistas poderão amontoar em torno dela as ruuínas da sua felicidade; essa alma, mais senhora de si que o sábio antigo, continuará calma: “Impavidum ferient ruinae”.

Voltar-se-á simplesmente para Nosso Senhor; nEle se apoiará com certeza tanto maior quanto mais privada se sen­te de auxílio humano. Rezará com ardor mais vibrante, e, nas trevas da provação, prosseguirá o seu caminho, espe­rando em silêncio a hora de Deus.
Uma confiança assim é rara, sem dúvida; mas se não atinge esse mínimo de perfeição, não merece, então, o nome de confiança.

De resto, encontram-se exemplos sublimes dessa virtu­de nas Escrituras e na vida dos Santos. Ferido na fortuna, na família e na própria carne, Jó, reduzido à última indigência, jazia no seu monturo. Os amigos, sua mulher mesmo, au­mentavam-lhe a dor pela crueldade das suas palavras. Ele, no entanto, não se deixava abater; nenhuma murmuração se mesclava aos seus gemidos. Sustentavam-no os pensamen­tos da fé. "Quando mesmo o Senhor me tirasse a vida, dizia, ainda assim esperaria nEle!".

Confiança admirável e que Deus recompensou magnificamente. A provação cessou: Jó recuperou a saúde, ganhou de novo fortuna considerável, e teve uma existência mais próspera do que antes.

Numa das suas viagens, São Martinho caiu nas mãos de salteadores. Os bandidos o despojaram; iam trucidá-lo, quando, de repente, tocados pela graça do arrependimento ou levados por um pavor misterioso, o libertam e o soltam, contra toda a expectativa. Perguntou-se mais tarde ao ilus­tre Bispo se, nesse risco premente, não teria sentido algum medo. "Nenhum, respondeu, eu sabia que a intervenção divina era tanto mais certa quanto mais improváveis os so­corros humanos".

A maioria dos cristãos não imita, infelizmente, exem­plos destes. Nunca se aproximam tão pouco de Deus como no tempo da provação. Muitos não dão esse grito de socorro que Deus espera para lhes vir em auxílio. Funesta negligên­cia! - "A Providência, dizia Luís de Granada, quer dar so­lução, ela mesma, às dificuldades extraordinárias da vida, enquanto que deixa às causas segundas o cuidado de resol­ver as dificuldades ordinárias". Mas é preciso reclamar o auxílio divino. Essa ajuda, Deus no-la dá com prazer. "Lon­ge de ser incômoda à ama de quem suga o leite, a criança, pelo contrário, lhe traz alívio".

Outros cristãos, nas horas difíceis, rezam com fervor, mas sem constância. Se não são atendidos logo, logo, caem de uma esperança exaltada num abatimento desarrazoado. Não conhecem os caminhos da graça. Deus nos trata como crianças: faz-Se de surdo, às vezes, pelo prazer que sente ao ouvir-nos invocá-Lo... Por que desanimar tão depres­sa, quando conviria, ao contrário, rogar com maior insis­tência?...

É esta a doutrina ensinada por São Francisco de Sales: "A Providência só adia o seu socorro para provocar a nossa confiança ". "Se nosso Pai celeste não concede sem­pre o que pedimos, é para nos reter a seus pés e nos dar ocasião de insistir com amorosa violência junto dEle, como claramente mostrou aos dois discípulos de Emaús, com os quais só Se deteve ao fim do dia, e assim mesmo por eles forçado”.


(Livro da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)

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