Confiança
Este
trabalho não tem outro fim senão o de vos iniciar no conhecimento e na prática
dessa virtude. Dela, aqui, se exporá, muito simplesmente, a natureza, o objeto,
os fundamentos e os efeitos.
Leitor
piedoso, se alguma vez este modesto livrinho te cair nas mãos, não o ponhas de
parte com desdém. Não pretende ele nem encanto literário nem originalidade.
Contém, apenas, verdades consoladoras que colhi nos Livros inspirados e nos
escritos dos Santos – eis o seu único mérito.
Tenta
lê-lo devagar, com atenção, em espírito de oração. Quase diria: medita-o!
Deixa-te penetrar docemente pela sua doutrina. A seiva do Evangelho palpita
dessas páginas; haverá para as almas melhor alimento do que as palavras do
Senhor?...
Que,
ao acabar esta leitura, te possas confiar totalmente ao Mestre adorável que
tudo nos deu: os tesouros do seu Coração, o amor, a vida, até a última gota do
seu Sangue!...
A
confiança é uma firme esperança
Com
a concisão que traz o cunho de gênio, define São Tomás a confiança: “Uma
esperança fortalecida por sólida convicção”. Palavra profunda que não faremos
senão comentar neste capítulo.
Pesemos
atentamente os termos que emprega o Doutor Angélico: “A confiança, diz ele, é
uma esperança”. Não uma esperança ordinária, comum a todos os fiéis; um
qualificativo preciso a distingue: é “uma esperança fortalecida”. Notai bem, no
entanto: não há diferença de natureza, mas somente de grau de intensidade.
Os
albores incertos da aurora, tal como o esplendor do sol zênite, fazem parte do
mesmo dia... Assim a confiança e a esperança pertencem à mesma virtude: uma é,
apenas, o desabrochar completo da outra.
A
esperança comum perde-se pelo desespero; pode tolerar, no entanto, certa inquietação...
Quando , porém, atinge essa perfeição que faz trocar o seu nome pelo nome de “confiança”,
torna-se-lhe, então, mais delicada a susceptibilidade. Não suporta mais a
hesitação, por leve que se imagine. A menor dúvida a rebaixaria e a faria
voltar ao nível da simples esperança.
O
profeta Real escolhia exatamente as expressões quando chamava a confiança: “uma
superesperança”. Trata-se realmente aqui de uma virtude levada ao máximo de
intensidade.
E
o Padre Saint-Jure, autor espiritual dos mais estimados do século XVII, via
justamente nela uma esperança “extraordinária e heróica”.
Não
é, pois, a confiança flor banal. Cresce nos cumes, e não se deixa colher senão
pelos generosos.
(Livro
da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)
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