Confiança
Rogozija-se
até com a privação de socorros humanos
Não
desanimar quando se dissipa a miragem das esperanças humanas... não contar senão
com o auxilio do Céu, não será já altíssima?...
A
sãs vigorosa da verdadeira confiança atira-se, no entanto, para regiões ainda
mais sublimes. A elas chega por uma espécie de requinte de heroísmo; atinge então
o mais alto grau de perfeição.
Esse
grau consiste em regozijar-se a alma quando se vê balda de todo apoio humano,
abandonada de parentes, de amigos, de todas as criaturas que não querem ou nao podem
socorrê-la: que não podem dar-lhe conselho nem servi-la com o seu talento ou o
seu crédito; a quem nenhum meio resta vir-lhe em auxílio... Que sabedoria
profunda denota semelhante alegria em circunstancias tão cruéis!...
Para
poder entoar o cântico de Aleluia sob
golpes que, naturalmente, deveriam quebrar a nossa energia, é preciso conhecer
a fundo o Coração de Nosso Senhor; é preciso crer perdidamente na sua piedade
misericordiosa e na sua bondade onipotente, é preciso ter a absoluta certeza de
que Ele escolhe, para sua intervenção, a hora das situações desesperadoras...
Depois
de convertido, São Francisco de Assis desprezou os sonhos de glória que antes o
haviam deslumbrado. Fugia às reuniões mundanas, retirava-se na floresta para
aí, entregar-se longamente à oração; dava esmolas generosamente... Esta mudança
desagradou a seu pai, que arrastou o filho ante a autoridade diocesana,
acusando-o de dissipar-lhe os bens. Então, em presença do Bispo maravilhado,
Francisco renuncia à herança paterna; tira até as roupas que lhe vinham da
família; despoja-se de tudo!... E, vibrando de uma felicidade sobre-humana,
exclama: “Agora sim, ó meu Deus, poderei chamar-Vos mais verdadeiramente do que
nunca: Nosso Pai que estais no Céu!”
Eis
aí como agem os santos.
Almas
feridas pelo infortúnio, não murmureis no abandono a que vos achais reduzidas.
Deus não vos pede uma alegria sensível, impossível à nossa fraqueza. Somente,
reanimai a vossa fé, tende coragem, e, segundo a expressão cara a São Francisco
de Sales, na “fina ponta da alma” esforçai-vos por ter alegria.
A
Providencia acaba de vos dar o sinal certo, pelo qual se reconhece a sua hora:
ela vos privou de todo apoio. É o momento de resistir à inquietação da natureza. Chegaste ao ponto do ofício interior em que
se deve cantar o Magnificat e fazer fumegar o incenso... “Regozijai-vos no
Senhor; eu repito, regozijai-vos: o Senhor está perto!”
Segui
este conselho e vos dareis bem. Se o Mestre Divino não Se deixasse tocar por
tamanha confiança, não seria Aquele que os Evangelhos nos mostram tão
compassivo, Aquele que a visão dos nossos sofrimentos fazia estremecer de
dolorosa emoção.
Nosso
Senhor dizia a uma alma privilegiada: “Se sou bom para todos, sou muito bom
para os que confiam em Mim. Sabes quais são as almas que mais aproveitam de
minha bondade? As que mais me esperam... As almas confiantes roubam as minhas
graças..."
(Livro
da Confiança, Padre Thomas de Saint-Laurent)
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