quinta-feira, 4 de abril de 2013

A ressurreição dos corpos no Juízo Universal.





Canet tuba, et mortui resurgent incorrupti; et nos immutabimur“A trombeta soará, e os mortos ressucitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Cor. 15, 52).

Sumário. É um ponto da nossa fé que todos nós ressurgiremos; porém não todos de maneira igual, mas cada um segundo a vida que tiver levado em terra. Felizes de nós, se agora nos aplicarmos à mortificação do nosso corpo, afim de guardá-lo submisso ao espírito. Retomá-lo-emos ressurgido segundo a medida da idade plena de Cristo e dotado de dons perfeitíssimos. Excederá o sol em claridade, na agilidade os ventos, e em sutileza e impassibilidade será igual aos anjos.

I. Porque o último fim do homem é a beatitude e esta não se pode gozar na vida presente, o Senhor dispôs que se possa obter na outra, onde será eterna. O homem porém, no dizer de Santo Tomás, não seria plenamente feliz, se a alma não se unisse ao corpo, porquanto, sendo o corpo parte natural da natureza humana, a alma dele separada seria apenas uma parte do homem e não o homem inteiro. Por isso é que no derradeiro dia haverá a ressurreição universal: Canet tuba, et mortui resurgent – “A trombeta soará, e os mortos ressuscitarão”.

Ao som da trombeta as almas formosas dos bem-aventurados descerão do céu, para se unirem a seus corpos, com os quais serviram a Deus. Ressuscitarão, como diz São Paulo, em estado de homem perfeito, segundo a medida da idade plena de Cristo (1). Além de serem dotados de sentidos perfeitíssimos, os quais terão cada qual a sua recompensa particular, serão ornados de quatro qualidades ou dotes.

Em primeiro lugar, os corpos dos bem-aventurados serão impassíveis; por isso não somente estarão livres da morte e da corrupção, mas também de qualquer lesão, de sorte que, se fossem enviados ao inferno, nenhuma pena poderiam padecer. – Em segundo lugar serão sutis, isto é, como que espiritualizados, de forma que a alma governará o corpo à maneira de espírito, porque este lhe obedecerá perfeitamente. – Em terceiro lugar os corpos dos bem-aventurados serão ágeis, podendo ser movidos e levados pela alma para qualquer parte, sem obstáculo, com máxima e quase imperceptível ligeireza. – O quarto dote finalmente será a claridade, em virtude da qual o corpo glorificado despedirá de si uma luz admirável, muito mais brilhante do que a do sol, mas sem deslumbrar a vista. – Se, além disso, alguém tiver dado a vida por Jesus Cristo, ou conservado intacta a açucena da pureza, ou pela pregação tiver sido para outros mestres da salvação, receberá a auréola de Mártir, de Virgem ou de Doutor. – Feliz daquele que, mortificando-se na vida presente, for digno de receber um dia em seu corpo todos esses dons, que agora nem sabemos avaliar devidamente!

II. Ecce mysterium vobis dico: omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur (2) – “Eis que vos digo um mistério: todos nós ressuscitaremos, mas nem todos seremos mudados”. Palavras terríveis, mas verdadeiras! Porquanto, como Jesus Cristo mesmo disse, posto que todos os que estiverem nos sepulcros tenham de ressuscitar ao ouvir a voz do Filho de Deus, todavia haverá entre eles grande diferença. Os que obraram o bem, sairão para a ressurreição da vida; mas os que obraram o mal, sairão ressuscitados para a condenação (3).

Minha alma, é certo que naquele dia tu também ressuscitarás; mas qual será a tua sorte?... achar-te-ás no número dos escolhidos ou dos réprobos?... Se queres estar entre os primeiros, é mister, como diz o Apóstolo, que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós andemos em novidade de vida (4). Esta ressurreição espiritual se deve manifestar na reforma de nossa conduta. – Por isso o espírito deve ocupar-se só com o pensamento da eternidade; os olhos só se devem abrir para as coisas celestiais; as mãos só devem servir para praticar o bem, e os nossos afetos devem seguir alegremente o caminho dos mandamentos divinos. Numa palavra, como diz o mesmo Apóstolo: Si consurrexistis cum Christo, quae sursum sunt, quaerite... quae sursum sunt sapite, non quae super terram (5) – “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá do alto... tende gosto pelas coisas que são lá do alto, não pelas que estão na terra”.

Meu amabilíssimo Jesus, creio na ressurreição da carne no último dia, porque Vós revelastes; e porque a creio, bem como as demais verdades que a Igreja me propõe para crer, quisera dar por ela o meu sangue e a minha vida. Ah, Senhor, pela vossa santa ressurreição, dai-me a graça de mortificar aqui na terra o meu corpo; fazei que viva casto e longe de todos os prazeres proibidos, afim de ter um dia parte na ressurreição gloriosa dos escolhidos. Amo-Vos, Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, de todo o coração. Pesa-me de Vos haver ofendido. Não permitais que Vos torne a ofender; fazei que Vos ame sempre, e depois, disponde de mim segundo o vosso agrado. Doce Coração de Maria, sede minha salvação. (*VIII 1043.)

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1. Eph. 4, 13.
2. I Cor. 15, 51.
3. Io. 5, 29.
4. Rom. 6, 4.
5. Col. 3, 1.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 3 - 6.)

Fonte: São Pio V

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