A
Escritura Sagrada nos ensina que o castigo da mulher foi mais severo que o do
homem: tinha ela chamado sobre si mais anátemas e sofrimentos. Jesus, o
Salvador do mundo, a reabilitou. Se, pois, o reconhecimento deve ser
proporcional ao benefício, a mulher cristã, sem dúvida, tem imensas ações de
graças a render. Que era a mulher antes do cristianismo? Que é ela ainda hoje
nas regiões onde o Evangelho não triunfou? Votada a servidão e profundamente
degradada, parecia-se duvidar outrora que ela tivesse uma alma. Em parte alguma
se lhe reconheciam direitos, nem categoria, nem dignidade.
O
Evangelho mudou radicalmente esta situação lastimável. A abjeção de Eva
desapareceu ao aspecto de Maria, como ao despontar da aurora se dissipam as trevas.
– “Uma mulher, diz Santo Irineu, tinha oferecido ao homem o fruto da morte,
outra mulher lhe ofereceu o fruto da vida”. Desde a era da renovação, dois
caminhos se acham abertos em frente da mulher: o caminho de Maria e o caminho
de Eva.
Entre
estes dois caminhos não há meio termo: ou descer, a exemplo da mãe do pecado, a
ladeira fatal da vergonha, ou seguir os passos da mulher imaculada, elevando-se
ela ao mais alto cume da perfeição. A mulher, ou perpetua a vida de Eva,
exercendo sobre os que a cercam uma influência perniciosa, ou imita e propaga a
vida de Maria pelo ascendente das suas virtudes.
Se
fosse preciso corroborar com fatos esta última asserção, bastaria lembrar as
mulheres do Evangelho, primeiras companheiras de Maria.
Elas
constituem um núcleo sagrado de um apostolado íntimo e são as mais ativas
colaboradoras da obra da Redenção. Um doutor da Igreja não hesita em lhes
conferir o título de evangelista dos evangelistas, por quanto a estas
intrépidas e generosas mulheres, reunidas em torno de Maria ao pé da cruz, foi
com efeito dado o inefável privilégio de anunciarem a ressurreição de Jesus
Cristo aos apóstolos e ao próprio São Pedro.
Ora,
este núcleo de santas mulheres existe sempre na Igreja. Elas conservam em
depósito no seu coração, a exemplo de Maria, as sementes da piedade cristã e
rivalizam em magnanimidade com os mártires, em zelo com os apóstolos, em
abnegação com os eremitas e em caridade com os anjos.
Sem
dúvida o seu ministério não se exerce na vida pública; ele é obscuro e
misterioso, mas é também persistente, e a sua ação penetrante acaba sempre por
triunfar de todas as resistências.
A
história atesta esta verdade: “Há sempre uma mulher no fundo de todos os
acontecimentos” – dizia José de Maistre.
E
para não citar aqui senão nomes geralmente conhecidos, relembremos a missão de
Santa Helena, que restaura os muros de Jerusalém e comunica o ardor de sua fé
ao grande Constantino.
No
campo de batalha de Tolbiac, Clóvis invoca o Deus de Clotilde, o que foi o
sinal das conquistas do cristianismo nas Galias e a consagração do valor dos
Francos. Quase pela mesma época, uma outra mulher, uma mãe cristã, a célebre
Mônica, dava a luz, pelas suas orações e pelas suas lágrimas, esse grande
oráculo de teologia – Santo Agostinho.
Nós
vemos aparecer, nos sombrios dias da Igreja, o doce vulto de Genoveva, anjo
visível que só pelo ascendente da sua santidade detém Atila as portas de Paris
e dispersa o exercito dos bárbaros. Conhece-se a missão da grande condessa
Matilde: foi ela que dilatou o augusto domínio temporal que a Providência quis
constituir para o vigário de Jesus Cristo, e a sua ativa piedade ilumina todo o
pontificado de São Gregório VII. Branca de Castella, a mãe de São Luiz, uniu em
seu coração o gênio político às mais ternas solicitudes maternais.
Joana
d´Arc, humilde pastora, salva miraculosamente a França.
Isabel
d´Espanha, a rainha católica por excelência, preside a descoberta do novo
mundo.
Mas
onde iríamos parar, se interrogássemos os anais da vida monástica? Que
maravilha se ofereceriam a nossa imaginação, se o véu que oculta os santuários
da virtude nos deixasse perceber as grandes almas consagradas a Deus! O mundo
quase nada sabe acerca dessas humildes existências e quase nunca lhes é
reconhecido. E, todavia, que benéfica influência não exercem elas sobre a terra
pelas comunicações incessantes que entretêm com o céu! Os reis, os pontífices,
os príncipes da ciência e da palavra não se dedignavam de recorrer outrora a
uma Catarina, a uma Hildegarda ou a uma Isabel, para escutarem as lições da
Divina Sabedoria. Santa Teresa, toda abrasada no fogo apostólico, tornou-se
luzeiro mesmo para os que tem missão sublime iluminar o mundo. A santa viúva de
Chantal, filha espiritual de São Francisco de Salles, dá as mulheres de seu
século o exemplo da mais eminente perfeição.
Uma
outra mãe, a bem-aventurada Acaria, deixa por sua vez iluminosos traços nas
diferentes condições que podem pertencer à mulher cristã. Luiza Marillac é
auxiliadora de São Vicente de Paulo, e a respeito desta basta dizer isto: O
impulso que ela imprimiu a caridade nunca mais afrouxou e as obras por ela
inauguradas se desenvolvem ainda hoje com inesgotável fecundez.
Quantas
mulheres mais, ignoradas sobre a terra, mas bem conhecidas de Deus, se ligam
como anéis de ouro a esta cadeia viva que remonta a Maria!
Uma
observação que a história justifica é que todos os homens chamados a dirigir o
movimento do mundo tiveram por auxiliares algumas mulheres superiores.
Nada
de grande se tem feito jamais no decurso dos séculos sem a cooperação das
mulheres.
Deus
tornou a dedicação uma necessidade para elas e deu-lhes a inteligência da
caridade: Virtudes sublimes estas, que o sopro do Evangelho fez desabrochar no
coração das mulheres evangélicas ao mesmo tempo que no coração dos apóstolos, e
que se encontram na origem de todas as grandes obras da Igreja como junto ao
berço de todas as crianças.
A
Divina Providência quis que Maria fosse ao mesmo tempo virgem, esposa e mãe, a
fim de que ela pudesse servir de modelo em todas as situações da mulher cristã.
Que a donzela aprenda, pois, com a Rainha das virgens, a permanecer casta e
vigilante! Que as esposas imitem a sua paciência e a sua doçura! Que as mães
sejam, a maneira dela, mulheres fortes, caritativas e magnânimas! Que as que
são de idade avançadas deixem cair sem pesar sobre a terra as flores efêmeras
da vida presente e produzam frutos para a eterna vida!
É
assim que, em todas as fases de sua existência a mulher cumprirá sua missão
admirável. E se neste mundo seu nome ficar sem brilho, a sua memória será
imortal, pois ela se terá inscrito no Livro da Vida e transmitirá a seus
descendentes as bênçãos divinas que edificam as famílias e consolidam a
sociedade.
Fonte: A Grande Guerra
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