quinta-feira, 11 de abril de 2013

Com sua descida aos infernos, Cristo libertou as almas do purgatório?



(Cristo libertando os justos do seio de Abraão)


Parece que Cristo, com sua descida aos infernos, libertou as almas do purgatório:

1. Na verdade, diz Agostinho: “Como evidentes testemunhos fazem menção dos infernos e de suas dores, nenhum motivo existe que nos leve a acreditar que o Salvador para lá tenha descido senão de o livrar dessas dores não sei se todos os que lá encontrou ou se alguns que considerou dignos desse benefício. Não tenho dúvidas, porém, de que Cristo desceu aos infernos e concedeu esse benefício aos que sofriam com suas dores”. Mas não concedeu o benefício da libertação aos condenados, como foi dito acima (a. 6). Ora, além deles não há mais ninguém a suportar as dores da pena senão os que estão no purgatório. Logo, Cristo libertou as almas do purgatório.

2. Além disso, a própria presença da alma de Cristo não teve um efeito menor que o de seus sacramentos. Ora, pelos sacramentos de Cristo, libertam-se as almas do purgatório, principalmente pelo sacramento da Eucaristia. Logo, com mais razão, as almas foram libertadas do purgatório pela presença de Cristo, que desceu aos infernos.

3. Ademais, diz Agostinho que Cristo curou de modo completo todos os que curou nesta vida. E diz também o Senhor no Evangelho de João: “Curei completamente um homem num dia de sábado” (7, 23). Ora, aqueles que estavam no purgatório, Cristo os livrou da dívida da pena do dano, que os excluía da glória. Logo, também os livrou da dívida da pena do purgatório.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz Gregório: “Uma vez que nosso Criador e Redentor, ao penetrar nos claustros infernais, de lá retirou as almas dos eleitos, não permite ele que nós vamos para o lugar de onde, com sua descida, já libertou outros”. Ora, ele permite que nós vamos para o purgatório. Portanto, ao descer aos infernos, não libertou as almas do purgatório.

Como já se disse, a descida de Cristo aos infernos teve caráter libertador pelo poder de sua paixão. Ora, a paixão dele não tem um poder temporal e transitório, mas para sempre, conforme diz a Carta aos Hebreus: “Por uma única oblação levou para sempre à perfeição os que santificou” (10, 14). Fica claro, assim, que a paixão de Cristo não teve então maior eficácia do que tem agora. Logo, aqueles que eram iguais aos que agora estão no purgatório não foram libertados do purgatório pela descida de Cristo aos infernos. Mas se se encontrassem alguns iguais aos que agora são libertados do purgatório pela força da paixão de Cristo, então nada impediria que pela descida de Cristo aos infernos eles fossem libertados do purgatório.

Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:

1. Não se pode concluir da passagem de Agostinho que todos os que estavam no purgatório foram libertados de lá; mas que esse benefício foi concedido a alguns, ou seja, aos que já estavam suficientemente purificados, ou também aos que, ainda em vida, mereceram, pela fé, amor e devoção em relação à morte de Cristo, ser libertados da pena temporal do purgatório, quando Cristo para lá desceu.

2. O poder de Cristo age nos sacramentos, sarando e expiando. Por isso, o sacramento da Eucaristia livra o homem do purgatório, porquanto é um sacrifício satisfatório pelo pecado. Ora, a descida de Cristo aos infernos não foi satisfatória. Operava, porém, por força da paixão, que foi satisfatória, mas era satisfatória em geral, pois seu poder tinha de ser aplicado a cada um por algo especialmente pessoal. Portanto, não havia necessidade de que, pela descida de Cristo aos infernos, todos fossem libertados do purgatório.

3. As deficiências de que Cristo livrava ao mesmo tempo os homens neste mundo eram pessoais, próprias de cada indivíduo. Ora, a exclusão da glória de Deus era uma deficiência geral comum a toda a natureza humana. Por isso, nada impede que os que estavam no purgatório fossem, por Cristo, libertados da exclusão da glória, mas não da dívida da pena do purgatório, que diz respeito a defeitos pessoais. De outro lado, os santos patriarcas, antes da chegada de Cristo, foram libertados das próprias deficiências, mas não da deficiência comum a todos.

(Suma Teológica III, 52, 8)

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