As
colunas de tua casa
um
plano para a felicidade da família
pelo
Vigário
José Sommer, 1938
Que se arqueia sobre todas as colunas, que
as une todas umas às outras, é a caridade, o amor.
Que significam as colunas sem a abobada? Seriam apenas um torso.
Assim a família sem o amor mútuo. Sem ela o matrimônio e a casa seriam
facilmente um inferno na terra. Daí a exortação do Apóstolo: “Maridos, amai
vossas mulheres como Cristo amou sua Igreja e se entregou por ela”. Que poderia
fora disso conservá-los unidos: a paixão e a embriaguez dos sentidos? Como a
teia de aranha em meio da tempestade, se despedaça esse laço, quando vem a
enfermidade ou uma dura provação.
O verdadeiro amar baseia-se na estima mútua. É o primeiro requisito do amor! —
A palavrinha “eu” escreve-a pequenina, a palavrinha “Tu”, ao contrário, grande
e de preferência tão bela como as letras iniciais douradas e adornadas dos
antigos livros conventuais. Tal amor duradouro e sólido só é possível quando
não se prende a exterioridades apenas, mais penetra até a alma e lá nas
profundezas ocultas contempla a imagem da eterna beleza de Deus. Tal beleza não
diminui, antes pode e deve com a idade aumentar e só é verdadeiro o amor quando
cada um quer consegui-la para o outro. Então é verdadeiro e santo e digno de um
Sacramento especial. Então fulgura em breve a cúpula de ouro do edifício do templo
da família, sob os raios da luz solar.
O verdadeiro amor sabe respeitar-se a si mesmo. Jamais, para agradar aos
outros, sacrifica princípios sagrados ou consente na violação de santos
deveres. Pois acima de tudo no mundo está para ele a vontade de Deus: “Deveis
obedecer mais a Deus do que aos homens” é o cuidado de sua própria e única
alma. — Assim a soube avaliar o Papa Bento XII. Quando o Rei de França Philippe
formulou em Avignon uma injusta pretensão, respondeu-lhe o Sumo Pontífice com
as belas palavras: “Se eu tivesse duas almas, de bom grado sacrificaria uma
para consentir no que Vossa Majestade deseja. Como, porém, só tenho uma e quero
salvá-la, queira Vossa Majestade restringir suas súplicas, de modo a que nada
apresentem que possa ofender a Deus e prejudicar minh'alma”. Era o respeito de
si mesmo
Falta de respeito de si mesmo revela tolerar alguém pretensões indignas ou
tornar-se infiel a sua fé católica, a seus mandamentos, por amor de outrem.
Será realmente tão rara acaso essa falta de respeito de si mesmo? —Prouvesse a
Deus!
Então não haverá tantas queixas, especialmente em casamentos mistos, de
apostasia e educação acatólica dos filhos! Então viveriam mais santamente
muitos casais e seriam — mais felizes!
O verdadeiro amor vive do sacrifício. Como da cálida corrente do golf-stream,
dele mana sempre de novo ardor, força e alimento. O espírito de sacrifício é a
forja em que o amor se fortalece, a chama na qual se torna firme e duradouro.
Quem não tem coragem e força para um sacrifício, devia desistir da fundação de
uma família, pois, continuará sempre a ser um egoísta, um inútil, um solitário.
O verdadeiro amor sabe o que deve aos outros, sobretudo às crianças. É
inesgotável como o mar, mais jamais cego e fraco. Os filhos são de Deus, — para
Deus! A Ele pertencem suas almas. Por isso Ele exige disciplina e estrita
obediência. Estas são a prima e o fundamento de toda a ciência da educação. Num
tempo em que a autoridade para tantos nada mais vale, em que se considera a
desobediência como grandeza e virtude e se faz passar a teimosia e obstinação
por fortaleza de caráter, é duplamente necessária uma demonstração a respeito;
pois sem respeito à autoridade todo o edifício do templo da felicidade da
família rui estrondosamente.
O amor não se amua e não se carrega de voluntária nudez, mas é sempre afável e
bondoso. — Como brilham os olhos do marido quando à tarde volta do penoso
trabalho e vê a mesa elegantemente posta, o aposento a brilhar de limpeza e
arranjo e, sobretudo, o que lhe é mais caro, o olhar jubiloso da esposa, que
lhe diz: “Agora deixa lá fora todas as preocupações, entra e alegraste, pois
estás em casa”.
Mas também como se lhe oprime o coração semelhante ao nevoeiro, que dias a fio
abafa toda alegria e jovialidade, quando o aguarda um silêncio amuado. Então,
como dizem os maometanos, a mulher se torna o desespero do justo. — Annette von
Droste conta de uma mulher da Westiphalia que durante 20 anos se conservou em
silêncio, não somente para com o marido, como para com todos, de modo que
estavam convencidos que ficara muda, até que, após a morte do marido, começou
de novo a falar, com grande admiração geral. Havia, porém, uma razão especial,
ela era extremamente colérica e o marido ainda mais. Assim não se podiam falar
sem que se zangassem e brigarem. Como todos os bons propósitos de conter-se de
nada valessem, recorrera a esse recurso extremo; mais sem rancor. Fazia um
semblante satisfeito e conseguia assim conservar uma paz perfeita. Foi neste
caso uma virtude heróica. Em outros casos seria a morte do amor e o túmulo das
alegrias conjugais.
Com toda a boa vontade poderiam hoje ou amanhã sobrevir perturbações e
provações para o amor. Onde haveria também um sol eternamente risonho, um céu
sem nuvens; um mar que o vento e as ondas jamais encrespassem?
São Paulo, o grande Apóstolo das nações, que conhecia sua gente, indicou para
estes casos aos cônjuges um bom remédio caseiro. Deviam usá-lo sempre, logo que
os ânimos esquentassem e a mostarda lhe subisse ao nariz. O remédio é o
seguinte: “Não deixeis o sol baixar sobre a vossa desavença!” É uma palavra de
ouro e uma bebida mágica do matrimônio. Em cada família que se fundasse, deviam
os jovens cônjuges prometer-se mutuamente fazê-lo e reservar um prêmio, no mais
belo cofre para quem primeiro pudesse dizer: “Meu marido, minha mulher, façamos
as pazes.” Este teria merecido o prêmio, ainda que não fosse senão um justo e
verdadeiro ósculo de paz. Com isto se alegrariam os Anjos no céu e em breve
também na mais mísera choupana de novo brilharia mais claro e mais ardente o
sol da felicidade doméstica, exatamente como lá fora, após urna tempestade, o
verdadeiro sol fulgura mais belo é mais dourado.
Mulheres que além da habilidade nos arranjos caseiros, procuram alimentar ainda
um terno sentimento, que querem ser realmente a luz do sol de seu lar, sabem
facilmente achar caminho para o coração do esposo. Para elas mesmo os
acontecimentos de cada dia e as pequenas coisas, como a arte culinária,
tornam-se meios hábeis e industriosas finezas para granjear o amor do marido,
se acaso faltar.
Mas mesmo a melhor e mais radiosa mulher terá de desistir, se o marido não lhe
pagar, com a mesma moeda.
Se nenhum olhar afável, nenhuma palavra de reconhecimento recompensar o
sacrifício da mãe de família, de onde lhe virá a alegria, que faz do lar um
remanso feliz? Quanto coração amante de mulher resfria diante da falta de
amabilidade do marido! Quanto homem só no túmulo da esposa fiel sente o bem que
Deus lhe doou, dando-lhe a companheira que agora repousa na terra fria!
“Leve cada um a carga do outro!” A recompensa deste sacrifício é a conservação
do amor e a felicidade da vida doméstica.
Fonte: A Grande Guerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário