Por Diane
Moczar
Imagine
que alguém lhe diga do nada: "Vocês, católicos! Queimaram pessoas durante
séculos, só porque elas não concordavam com vocês." O que você diria? Caso
não esteja bem informado, você, encabulado, pode se ver tentado a concordar,
já que ouve isso com muita freqüência. No entanto, se está ciente dos fatos
(como deve estar, após ler este livro), você, talvez, tenha vontade de berrar
com indignação: "Não fizemos isso!"
Entretanto,
isso não nos levará muito longe. Conhecimento é essencial, mas precisa ser
corretamente apresentado. A única maneira de demonstrar que uma mentira i uma mentira
é ter uma discussão racional com o acusador. Isso não é tão simples como
parece, pois poucas pessoas hoje em dia parecem dispostas (ou capazes) de
raciocinar ou acompanhar a demonstração de um argumento - particularmente, se
este for contra os preconceitos adquiridos. Você pode tentar dizer algo como:
"Há um assunto interessante; estava lendo outro dia sobre a queima de
hereges. Vamos tomar um café amanhã e conversar sobre isso?"
Isso pode
ter como resultado a abertura de um diálogo frutífero com uma pessoa mal
informada, embora nem sempre funcione. Já aconteceu comigo várias vezes de um
estudante me perguntar algo sobre uma mentira ou algum tema histórico. Como eu
queria estar certa sobre os fatos, antes de responder, eu me propus a
pesquisar e disse a ele que responderia na próxima aula. Várias vezes, passei
um bom tempo pesquisando sobre o tema e planejando minha apresentação para a próxima
aula e, então, o estudante havia perdido o interesse ou não comparecera para
ouvir a explicação para a pergunta que me havia feito.
Tenhamos a
esperança de que o seu interlocutor apareça na cafeteria. Uma das melhores
maneiras de proceder é agir como Sócrates: questione o questionador e deixe-o
explicar porque ele acha que os católicos sempre queimaram pessoas. Quais fatos
ele pode citar? (Geralmente ele não tem nada concreto em mente; estudantes e
jovens irão com freqüência citar filmes, tomando-os como autoridades; isso
mostra (e assusta) que, muitas vezes, eles não sabem distinguir fato de
ficção.) Explique-lhe porque "tolerância" - na conotação moderna de
que "tudo é válido e não importa no que se acredita"- não existia nos
tempos cristãos. Ao contrário, as pessoas acreditavam que era de grande
importância saber o que é verdadeiro e o que traria a vida eterna.
Considerava-se crime matar o corpo de uma pessoa, crime cuja pena geralmente
era a morte, porém julgava-se crime muito mais grave "matar" a alma -
através da destruição das virtudes da fé, esperança e caridade -, o que
afetaria o destino eterno da pessoa. O povo zelava pelo bem comum, exigindo que
o herege, propagador de falsas doutrinas, fosse proibido de corromper as
almas. A melhor maneira de fazer isso era lhe mostrar que estava errado. Caso não
funcionasse, o herege deveria, ao menos, ser coibido de espalhar seu veneno
espiritual; e, em casos extremos, como o da promoção do suicídio pelos cátaros,
poderia ser executado. Isso é absurdo? Atualmente, o que fazemos com pessoas que
defendem crimes? O católico dessa conversa certamente não irá omitir os casos
verdadeiros de injustiça e crueldade que ocorreram. Houve alguns inquisidores
cruéis e outros que mereceram punição. Em todas as ações humanas, não importa quão
boa seja a causa, os seres humanos falíveis envolvidos são capazes de pecar e
errar. Soldados envolvidos em uma guerra perfeitamente justa, em defesa de seu
país contra a agressão despropositada, podem ser culpados de crime de guerra
sem que isso desonre a guerra.
Até aí
você talvez consiga algum consentimento em alguns dos pontos levantados, mas
seu interrogador é hábil o suficiente para perguntar: por que você acha que a
Igreja Católica tem o direito de reprimir a heresia? Ele pode objetar que essa
postura implica que a Igreja Católica é a única igreja verdadeira entre
milhares, e ninguém acredita mais nisso. Hoje em dia, todos defendem que
qualquer um tem o direito de praticar o que lhe agrada. Nesse momento, você
estará longe de discutir meramente eventos históricos; na verdade, estará em
apologética.
Contudo, a
refutação de mentiras históricas precisa sempre conduzir para a verdade da
Igreja? Examinemos essa questão, ao olhar para outras mentiras. As Cruzadas?
Elas também levantam a questão do relativismo: por que os muçulmanos não podem
ter a Terra Santa? Afinal, eles veneram os locais sagrados, assim como fazem os
cristãos, e eles têm o direito de ter e difundir sua própria religião. A
condenação de Gali-leu? Que autoridade tem a Igreja para decidir se um
cientista deve ser restringido sobre como apresentar suas descobertas? A
suposta corrupção católica do período pré-Reforma? Que diferença isso faz, se
existiu ou não, já que os protestantes certamente devem ter o direito de criar
sua própria religião; eles não o fizeram, sendo a Igreja Católica corrupta ou
não?
Felizmente
ou infelizmente, quase todas as mentiras discutidas neste livro, que são
mentiras sobre História, nos levam de volta à questão básica sobre a fé
católica. Isso deve nos dar uma indicação de que a maioria das mentiras foi originalmente
dita por pessoas que se opunham à Igreja, e não a mera interpretação de um
acontecimento histórico. Quando discutimos mentiras históricas, portanto,
precisamos estar preparados para lidar com pressuposições sobre Deus e a fé. Isso
não é fácil, mas há uma riqueza de recursos apologéticos disponíveis (ver
Apêndice 2para alguns deles).
Em muitos
casos, portanto, não parece ser possível lidar exclusivamente com fatos
históricos - seja porque as mentiras sobre eles são motivadas por preconceitos
contra a Igreja, ou porque as mentiras, no final das contas, levantam questões básicas
sobre a Igreja. O historiador católico (e até mesmo o historiador amador) deve
estar preparado para ser um apologista - um defensor, e não para pedir
desculpas. É, claro, parte da nossa vocação católica ser capaz de defender a
fé; então, isso não nos deve causar surpresa.
(Extraído
do livro Sete Mentiras Sobre a Igreja Católica)
Nenhum comentário:
Postar um comentário