quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Como responder a uma mentira sobre a Igreja Católica - Parte 1





Por Diane Moczar

Imagine que alguém lhe diga do nada: "Vocês, católi­cos! Queimaram pessoas durante séculos, só porque elas não concordavam com vocês." O que você diria? Caso não esteja bem informado, você, encabulado, pode se ver tentado a con­cordar, já que ouve isso com muita freqüência. No entanto, se está ciente dos fatos (como deve estar, após ler este livro), você, talvez, tenha vontade de berrar com indignação: "Não fizemos isso!"

Entretanto, isso não nos levará muito longe. Conheci­mento é essencial, mas precisa ser corretamente apresenta­do. A única maneira de demonstrar que uma mentira i uma mentira é ter uma discussão racional com o acusador. Isso não é tão simples como parece, pois poucas pessoas hoje em dia parecem dispostas (ou capazes) de raciocinar ou acompanhar a demonstração de um argumento - particularmente, se este for contra os preconceitos adquiridos. Você pode tentar dizer algo como: "Há um assunto interessante; estava lendo outro dia sobre a queima de hereges. Vamos tomar um café amanhã e conversar sobre isso?"

Isso pode ter como resultado a abertura de um diálogo frutífero com uma pessoa mal informada, embora nem sempre funcione. Já aconteceu comigo várias vezes de um estudante me perguntar algo sobre uma mentira ou algum tema histó­rico. Como eu queria estar certa sobre os fatos, antes de res­ponder, eu me propus a pesquisar e disse a ele que responderia na próxima aula. Várias vezes, passei um bom tempo pesqui­sando sobre o tema e planejando minha apresentação para a próxima aula e, então, o estudante havia perdido o interesse ou não comparecera para ouvir a explicação para a pergunta que me havia feito.

Tenhamos a esperança de que o seu interlocutor apare­ça na cafeteria. Uma das melhores maneiras de proceder é agir como Sócrates: questione o questionador e deixe-o explicar porque ele acha que os católicos sempre queimaram pessoas. Quais fatos ele pode citar? (Geralmente ele não tem nada con­creto em mente; estudantes e jovens irão com freqüência citar filmes, tomando-os como autoridades; isso mostra (e assusta) que, muitas vezes, eles não sabem distinguir fato de ficção.) Explique-lhe porque "tolerância" - na conotação moderna de que "tudo é válido e não importa no que se acredita"- não existia nos tempos cristãos. Ao contrário, as pessoas acredi­tavam que era de grande importância saber o que é verdadei­ro e o que traria a vida eterna. Considerava-se crime matar o corpo de uma pessoa, crime cuja pena geralmente era a morte, porém julgava-se crime muito mais grave "matar" a alma - através da destruição das virtudes da fé, esperança e caridade -, o que afetaria o destino eterno da pessoa. O povo zelava pelo bem comum, exigindo que o herege, propagador de fal­sas doutrinas, fosse proibido de corromper as almas. A melhor maneira de fazer isso era lhe mostrar que estava errado. Caso não funcionasse, o herege deveria, ao menos, ser coibido de espalhar seu veneno espiritual; e, em casos extremos, como o da promoção do suicídio pelos cátaros, poderia ser executa­do. Isso é absurdo? Atualmente, o que fazemos com pessoas que defendem crimes? O católico dessa conversa certamente não irá omitir os casos verdadeiros de injustiça e crueldade que ocorreram. Houve alguns inquisidores cruéis e outros que mereceram punição. Em todas as ações humanas, não importa quão boa seja a causa, os seres humanos falíveis envolvidos são capazes de pecar e errar. Soldados envolvidos em uma guerra perfeitamente justa, em defesa de seu país contra a agressão despropositada, podem ser culpados de crime de guerra sem que isso desonre a guerra.

Até aí você talvez consiga algum consentimento em alguns dos pontos levantados, mas seu interrogador é hábil o suficiente para perguntar: por que você acha que a Igreja Católica tem o direito de reprimir a heresia? Ele pode objetar que essa postura implica que a Igreja Católica é a única igre­ja verdadeira entre milhares, e ninguém acredita mais nisso. Hoje em dia, todos defendem que qualquer um tem o direi­to de praticar o que lhe agrada. Nesse momento, você estará longe de discutir meramente eventos históricos; na verdade, estará em apologética.

Contudo, a refutação de mentiras históricas precisa sem­pre conduzir para a verdade da Igreja? Examinemos essa ques­tão, ao olhar para outras mentiras. As Cruzadas? Elas também levantam a questão do relativismo: por que os muçulmanos não podem ter a Terra Santa? Afinal, eles veneram os locais sagrados, assim como fazem os cristãos, e eles têm o direito de ter e difundir sua própria religião. A condenação de Gali-leu? Que autoridade tem a Igreja para decidir se um cientista deve ser restringido sobre como apresentar suas descobertas? A suposta corrupção católica do período pré-Reforma? Que diferença isso faz, se existiu ou não, já que os protestantes cer­tamente devem ter o direito de criar sua própria religião; eles não o fizeram, sendo a Igreja Católica corrupta ou não?

Felizmente ou infelizmente, quase todas as mentiras discutidas neste livro, que são mentiras sobre História, nos levam de volta à questão básica sobre a fé católica. Isso deve nos dar uma indicação de que a maioria das mentiras foi ori­ginalmente dita por pessoas que se opunham à Igreja, e não a mera interpretação de um acontecimento histórico. Quando discutimos mentiras históricas, portanto, precisamos estar preparados para lidar com pressuposições sobre Deus e a fé. Isso não é fácil, mas há uma riqueza de recursos apologéticos disponíveis (ver Apêndice 2para alguns deles).

Em muitos casos, portanto, não parece ser possível li­dar exclusivamente com fatos históricos - seja porque as menti­ras sobre eles são motivadas por preconceitos contra a Igreja, ou porque as mentiras, no final das contas, levantam questões básicas sobre a Igreja. O historiador católico (e até mesmo o historiador amador) deve estar preparado para ser um apolo­gista - um defensor, e não para pedir desculpas. É, claro, parte da nossa vocação católica ser capaz de defender a fé; então, isso não nos deve causar surpresa.

(Extraído do livro Sete Mentiras Sobre a Igreja Católica)


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