sábado, 27 de julho de 2013

Exercícios Espirituais para Crianças - O Filho Pródigo (final)




Fr. Manuel Sancho, 
Exercícios Espirituais para Crianças
1955

PARTE PRIMEIRA
A conversão da vida do pecado à vida da graça
(Vida Purgativa. — 1.ª semana)


4. — Entre os santos em que trasborda a Igreja, e que antes de serem grandes santos foram grandes pecadores, um deles é S. Pedro Armengol. Este santo era da família dos Condes de Urgel, pertencentes à melhor nobreza catalã. Seus pais eram honrados e mui cristãos, e criavam seu filho no santo temor de Deus, coisa de que o santo deu pro­vas desde menino. Mais tarde, esquecido de tão bons começos, começou a entregar-se ao vício, e, à medida que sua juventude avan­çava, sua vida tornava-se mais perdida.


Um dia, caçando, matou um javali sobre o qual alegava direitos outro caçador que também dizia havê-lo morto. Discutiram, acenderam-se os ânimos, vieram às mãos, separaram-nos à viva força. Armengol retirou-se da caça ardendo em desejos de vingança.

Desse acontecimento veio a sua total ruína. Reuniu gente perdida e constituiu-se chefe de uma quadrilha de bandidos. Praticou cri­mes, consumou vinganças, praticou vários malfeitos.

O pai, que estava pesarosíssimo com aquela vida desastrosa de seu filho, foi enviado pelo rei à montanha para perseguir os bandos de malfeitores que infestavam o país. Numa das batidas que Arnaldo, que assim se chamava o pai de Armengol, deu pela montanha, topou com o bando comandado por seu filho. Viram-se frente a frente o filho e o pai, de espadas desembainhadas. Pedro Armengol, ferido por um raio da graça divina, qual novo filho pródigo, disse atirando fora a espada e atirando-se ele mesmo aos pés de Arnaldo:

Pai, perdão!

O pai abraçou chorando o chefe de bandidos e levou-o para Barcelona. Pleiteou do rei o perdão para seu filho, perdão que o Monarca concedeu de bom grado.



Mas não parou nisto a conversão desse pródigo. O chefe de bandidos meditava na sua alma uma conversão mais profunda. Um dia entrou no templo das Mercês de Barcelona. Um religioso mercedário, Frei Raimundo de Coebera, que morreu em fama de santidade, pregava fervorosamente quando Pedro Armengol entrou no templo. Como setas inflamadas, as palavras do santo religioso penetraram no coração de Pedro, e ali, diante da Virgem das Mercês, prometeu entregar-se como seu filho e começar deveras uma vida exemplar de santificação e de penitência.

Como o prometeu o cumpriu. Pediu o hábito branco ao Mestre Geral das Mercês, e entrou para aquela sagrada Ordem.

Uma vez religioso, deu-se à penitência, e ao domínio das suas paixões, e à aquisição das virtudes mais heróicas, merecendo ser enforcado por Cristo e ser sustentado na forca, para que não morresse, pela própria Rainha do Céu. Os anos que ele sobreviveu ao seu martírio foram mais de anjo do que de homem, pela vida contemplativa que levava, morrendo afinal santamente e operando Deus por sua intercessão muitos milagres.

Já vedes, meus filhos, como de um bandoleiro pode Deus Nosso Senhor fazer um santo. E já vedes como há na Igreja filhos pródigos que, depois de viverem mal, entregues aos maiores excessos, se converteram e dis­seram como o filho pródigo do Evangelho: “Levantar-me-ei e irei para a casa de meu Pai”.

Se por desgraça houver entre vós algum réu de pecado grave, que diga também de coração: “Levantar-me-ei e irei para a casa de meu pai”. E, se temerdes a justiça de Deus, recorrei à Virgem Santíssima, que só sabe perdoar, e dizei-lhe:

— Minha Mãe, penso em fazer uma boa confissão e empreender uma vida nova, como São Pedro Armengol. Senhora, ajudai-me a fazer um bom ato de contrição, e depois uma confissão tal que, se eu morresse depois dela e de receber vosso Filho na comunhão, eu fosse direitinho para o céu, a gozar convosco de Deus por todos os séculos.

Pedi a Ela esta mercê, rezando comigo três Ave-Marias.



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