O Marido
Os seus deveres
O matrimônio não ensina só a
conhecer-se, ajuda a vencer-se, o que é bem preciso. Se não se quiser renunciar
a felicidade, vê-la desfazer em fumaça, transformar num estado miserável de
hostilidade surda e permanente, que torna a vida insuportável, é preciso renunciar
a si mesmo. A renúncia não é somente o fundamento da vida cristã, porém da
felicidade conjugai; de sorte que, por um desígnio providencial, a mesma causa
conduz-nos, ao mesmo tempo, à virtude e à felicidade.
Na vida conjugai, as ocasiões de
renúncia são diárias, e, portanto, assim também as ocasiões de aumentar, de
receber o aperfeiçoamento, que é o fim do matrimônio.
O egoísmo é o nosso inimigo
mortal; vivermos em nós, de nós, para nós, é o nosso mal. A nossa educação
moral consiste em sairmos de nós mesmos; e o matrimônio é a instituição divina,
para obrigar dois seres humanos a saírem de si mesmos, para vencerem o seu egoísmo
mútuo, e fazerem o aprendizado da virtude.
Nos primeiros dias nada custava;
agora, tudo pesa, e vive-se como sob a pressão, de uma cadeia pesadíssima.
Outrora era o sopro vernal de uma afeição, radiante; agora, é o vento da
tempestade. O homem só via em sua mulher um ser atraente, encantador; agora começa
a descobrir nela um ser, por vezes, terrível na sua doçura, horrível mesmo nos
seus atrativos. É o momento da renúncia, de elevar-se ao desinteresse sublime:
é a educação moral que se faz.
Que digo eu? É a educação
divina, pois, não é só um ideal humano que deveis realizar no matrimônio, meus
senhores, mas um ideal divino, a união de Cristo com a Sua Igreja.
Que fez Cristo por Sua Igreja? non
sibiplacuit diz São Paulo, não se orgulhou de Si mesmo. Humilhou-Se,
renunciou-Se, despojou-Se, crucificou-Se. Sacrificou a glória de que gozava no
seio de Seu Pai, e a glória humana, de que poderia ter-Se revestido. Sacrificou
o Seu repouso, o Seu Corpo, o Seu Sangue, a Sua Alma, a Sua Vida. Não há um só sacrifício
perante o qual haja recuado. Eis o modelo que São Paulo não receia propor-vos,
maridos cristãos!
É que a moral cristã, na
decadência humana, é a moral essencialmente do sacrifício e da renunciação. É,
aí, que ela nos descobre o remédio para todos os nossos males e a fonte de
todos os bens: tantum proficies quantum tibi ipsi vim intuleris, diz a
Imitação, aproveitareis na proporção das contrariedades que vos impuserdes.
Nada é mais necessário na
sociedade conjugai. Sem a abnegação, cedo ou tarde, virá a divisão, em seguida
a incompatibilidade de humor, enfim a destruição do lar.
Se desejais a união, a fusão das
vossas duas vidas em uma só, é à abnegação que deveis recorrer. Só com ela, o
matrimônio atinge o seu fim: a educação do homem e do cristão.
Ora, a fonte inesgotável da
abnegação acha-se no Evangelho, na força moral de que dispõe o cristianismo,
nos sacramentos, e aqui, especialmente, no sacramento do matrimônio e em todas
as graças de que é a fonte inexaurível.
Qual não é, pois, a infelicidade
e a culpa daqueles, que, aproximando-se do sacramento do matrimônio sem
preparação, se privam das graças mais preciosas? Mas a infelicidade maior, a
culpa maior é dos que se aproximam dele sem confissão séria, em estado de
pecado mortal, dos que profanam este grande sacramento, e constituem a família,
- causa horror só em pensá-lo - por um sacrilégio!
Que vossos filhos e vossas
filhas, meus senhores, se preparem seriamente para 'O matrimônio; que o não
realizem senão em estado de graça e com disposições sérias e cristãs!
Só assim se encontrará o remédio
para os sofrimentos da vida conjugai, e, com a virtude, a verdadeira
felicidade.
Procurá-lo em outra parte;
queixar-se das leis do Evangelho, que parecem esmagadoras, é um engano. Não são
as leis que se devem modificar, são os costumes. E em vez de dizer como os
decadentes: "Alargai a moral, não posso", é preciso dizer como os
fortes, como os enérgicos, como os cristãos: Restaurai a moral, e com ela a
felicidade: "Com Deus, que me fortifica, tudo posso!"
Receber o complemento de si
mesmo, o seu aperfeiçoamento moral e divino no sacrifício mútuo, eis o fim
essencial da sociedade conjugai, e o primeiro dever do marido.
O objeto da sociedade conjugai é
dar. E dar o que, meus senhores? - O que há nela de maior, de mais completo, de
mais universal: - a pessoa humana, isto é, o corpo e a alma, a matéria e o
espírito, a liberdade e a vontade, a inteligência, as crenças e idéias, as
virtudes, as aflições e alegrias, as provações e esperanças, os bens e a vida,
em uma palavra, tudo.
É o dom mais absoluto que se
pode conceder. É o sentido profundo da palavra do Evangelho: eruntduo in carne
uma...fam non suntduo. Serão dois na mesma carne... já não são dois, para serem
um, e para sempre.
É a união indissolúvel de dois
espíritos, de dois corações, de duas vontades, de dois caracteres, de dois
corpos e de duas almas, uma fusão de duas existências numa só, sustentando-se e
ajudando-se mutuamente, tanto nos deveres como nos prazeres, tanto nas alegrias
como nas dores; sacrificando um ao outro a paciência, e dedicação de todos os
dias, na liberdade santa de um amor puro, fiel, inviolável; achando ambos o
sentimento da mesma natureza, e amando-se com toda a firmeza e com toda a força
do seu ser e da sua vida: eis o matrimônio cristão de todo o coração, por
impossível, a outro.
Vedes, digamo-lo de passagem,
como é conveniente para esta unidade profunda, total, indissolúvel, que haja
harmonia entre as naturezas, as inteligência, as idéias, os gostos, os caracteres,
temperamentos, sentimentos religiosos; e o que acontecerá de tantos matrimônios,
onde não se faz muito caso de tudo isto?
Nesta união tão perfeita, qual
será a forma da dádiva que deve fazer o marido? Qual será, para ele, o objeto
do contrato? Qual o seu papel a desempenhar?
A Escritura Sagrada o diz em uma
palavra: caput. E a cabeça, o chefe; é ele que tem a autoridade, o poder, a
direção. Donde concluo: l ° que o deve usar; 2° que o deve usar na ordem e para
os fins do matrimônio.
(Livro O marido, o pai e o apóstolo - Escravas de Maria)
Nenhum comentário:
Postar um comentário