Não por acaso há muita gente rindo, satisfeitíssima.
O preço da harmonia.
Por Manoel Gonzaga Castro – Fratres in Unum.com |
Acabou da Jornada Mundial de Juventude. O Papa já está de volta ao Vaticano.
Tudo transcorreu na mais perfeita harmonia: COL (Comitê Organizador Local),
Prefeitura e Governo do Estado do Rio e Governo Federal. O evento foi
considerado um sucesso, apesar de problemas de infraestrutura e do “lapso”
Guaratiba, que gerou a mudança de última hora dos últimos eventos da JMJ para
Copacabana.
Os meios de comunicação fizeram
uma enorme e benevolente cobertura. Já não se ouve mais os ataques de outrora à
Igreja. Tudo é humildade e simpatia. Até as novelas foram retiradas do ar para
dar espaço aos belos gestos do Papa Francisco.
No entanto, é cristalina a
oposição entre os valores pregados pela Igreja e a agenda do governo petista
(do qual são aliados os governos municipal e estadual do Rio). Diga-se o mesmo
dos meios de comunicação, em especial, da Rede Globo de Televisão.
E é óbvio: tal harmonia não
seria gratuita. Ela tem o seu preço.
Silêncio comprometedor
Durante sua visita ao Rio de
Janeiro, o Papa Francisco repetiu por várias vezes aos jovens o apelo: “ide
contra a corrente”, sem medo.
Porém, os assuntos polêmicos –
que separam os sujeitos citados acima – foram tratados como tabu. Já
observava o respeitado vaticanista
Sandro Magister: “O êxito midiático do qual goza [Francisco] tem um
motivo e um custo: seu silêncio sobre as questões políticas cruciais do aborto,
eutanásia e casamento homossexual”.
Como muito
pertinentemente observado por Fratres in Unum, “às vésperas da legalização prática do aborto no Brasil, poucas
referências a este crime abominável, que brada ao Céu e clama a Deus por
vingança, foram feitas durante a JMJ: da boca do Santo Padre saiu o pedido de proteção à ‘vida,
que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido’. E até
agora foi só. Nenhuma outra palavra mais contundente que poderia mudar o triste
cenário em nosso país”.
A esperança de um
pronunciamento de última hora foi vã.
Contudo, a postura
contemporizadora de Francisco já era conhecida na Argentina. Quando da polêmica
envolvendo a legislação sobre o casamento gay em nosso país vizinho, o então
Cardeal Bergoglio liderava a ala “não polemizadora” da Conferência Episcopal. À
época, fora vencido por Dom Hector Aguer, arcebispo de La Plata e seu desafeto,
que estava à frente da corrente que pretendia defender abertamente os direitos
de Deus e o bem dos homens.
Trata-se, em última análise, de
uma extensão da atitude proposta por João XXIII no discurso de abertura do
Concílio Vaticano II: “A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até
os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere
usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer
melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que
renovando condenações”.
Bem… os resultados desse modus
operandi falam por si. Não à toa, a mente dos católicos tem mudado consideravelmente nas últimas décadas. A adesão aos
valores cristãos e sua defesa há tempos já não é a mesma. A passividade dos
fiéis e das autoridades, eclesiásticas e civis, chega ao ponto
de meia-dúzia de revoltados quebrarem imagens de santos confortavelmente,
diante de uma multidão (e da polícia) que assiste tudo passivamente.
Desgraçadamente, mostra-se longínqua para nós a hipótese de vermos a Arquidiocese
do Rio ou a CNBB solicitando ao Ministério Público que tome as devidas
providências para punir os delinquentes.
Todavia, os parceiros de
organização da viagem pontifícia e do espetáculo da Jornada não dormem nem se
silenciam: enquanto o governo federal caminha a passos largos para implantar na
prática o aborto no Brasil, em particular com o famigerado e nefasto PLC
3/2013, a Rede Globo fala
abertamente sobre o aborto em uma de suas novelas atualmente no ar.
Os parceiros da JMJ jogam sujo:
de um lado, bombardeiam ideologicamente os fiéis
com sua dramaturgia e artistas, os “santos” modernos e
descolados, modelos a serem imitados pela juventude, transformando os valores
do povo brasileiro. De outro, o governo implementa gradativamente sua agenda
política pró-aborto, pró-gayzismo, anti-família e amoral, com seus nefastos
projetos de lei e manobras políticas. E o contra-ataque nesta guerra, a
resposta católica? Um ensurdecedor silêncio, muita simpatia e dancinhas…
Rede Globo parceira. Uma
raríssima entrevista exclusiva.
Mas um episódio exporia ainda
mais nitidamente o que falamos sobre o relacionamento dos homens da Igreja e
seus parceiros de Jornada Mundial da Juventude.
Desde sua época em Buenos
Aires, Papa Bergoglio é muito conhecido por sua aversão a jornalistas e
entrevistas. No avião que o trouxe ao Brasil, rompeu com a tradição de seus predecessores ao não ter o momento de
perguntas e respostas com jornalistas do mundo inteiro. O Pontífice
então declarou: “Não dou entrevistas, porque… não sei…, não posso. É assim para
mim. É cansativo fazê-lo”.
Cansaço superado, ao custo da
tradicional sesta após o almoço, para atender ao articulado Gerson Camarotti, da Rede Globo, por quase
meia hora.
Que Camarotti se beneficia das
indiscrições dos cardeais brasileiros (a cobertura do conclave que o diga) e
goza de trânsito livre nos corredores de suas cúrias não é nenhuma novidade.
Mas conseguir uma entrevista
exclusiva com um Papa, enquanto veículos do mundo inteiro chupam dedo, é algo
curiosíssimo. Seria o preço cobrado por uma cobertura amplamente positiva da
viagem papal? Ou dos artistas, coreógrafos e diretores cedidos pela Globo para
as cerimônias da Jornada (algumas das quais, notaram vários leitores do Fratres,
com a cara do Criança Esperança)?
Queremos crer que nossos homens
da Igreja não se sujeitam a esse tipo de maquinação.
PS.: Enquanto concluíamos a
redação deste artigo, foi divulgada a entrevista que o Papa concedeu aos demais
jornalistas, provavelmente constrangido pela exclusiva dada à Globo, em seu
avião. Não há o que comentar. A íntegra publicamos a seguir:
Pergunta – Nestes quatro meses,
o senhor criou várias comissões. Que tipo de reforma tem em mente? O sr. quer
suprimir o banco do Vaticano?
Papa Francisco - Os passos que eu fui dando nestes quatro meses e meio vão em duas vertentes. O conteúdo do que quero fazer vem da congregação dos cardeais. Eu me lembro que os cardeais pediam muitas coisas para o novo papa, antes do conclave. Eu me lembro de que tinha muita coisa. Por exemplo, a comissão de oito cardeais, a importância de ter uma consulta externa, e não uma consulta apenas interna.
Isso vai na linha do amadurecimento da sinodalidade e do primado. Os vários episcopados do mundo vão se expressando em muitas propostas que foram feitas, como a reforma da secretaria dos sínodos, que a comissão sinodal tenha característica de consultas, como o consistório cardinalício com temáticas específicas, como a canonização.
A vertente dos conteúdos vem daí. A segunda é a oportunidade. A formação da primeira comissão não me custou pouco mais de um mês. Pensava em tratar a parte econômica no ano que vem, porque não é a mais importante. Mas a agenda mudou devido a circunstâncias que vocês conhecem.
O primeiro é o problema do IOR [banco do Vaticano], como encaminhá-lo, como reformá-lo, como sanear o que há de ser sanado. E essa foi então a primeira comissão.
Depois, tivemos a comissão dos 15 cardeais que se ocupam dos assuntos econômicos da Santa Sé. E por isso decidimos fazer uma comissão para toda a economia da Santa Sé, uma única comissão de referência. Notou-se que o problema econômico estava fora da agenda. Mas essas coisas atendem.
Quando estamos no governo, vamos por um lado, mas, se chutam e fazem um golaço por outro lado, temos de atacar. A vida é assim. Eu não sei como o IOR vai ficar. Alguns acham melhor que seja um banco, outros que seja um fundo, uma instituição de ajuda. Eu não sei. Eu confio no trabalho das pessoas que estão trabalhando sobre isso.
O presidente do IOR permanence, o tesoureiro também, enquanto o diretor e o vice-diretor pediram demissão. Não sei como vai terminar essa história. E isso é bom. Não somos máquinas. Temos de achar o melhor. A característica de, seja o que for, tem de ter transparência e honestidade.
Uma fotografia do sr. deu a
volta ao mundo, quando o sr. desceu as escadas do helicóptero, carregando sua
mala preta. Artigos de todo o mundo comentaram o papa que sai com sua própria
mala. Foram levantadas hipóteses também sobre o conteúdo da mala. Por que o sr.
saiu carregando a maleta preta, e não seus colaboradores? E o sr. poderia dizer
o que tinha dentro?
Não tinha a chave da bomba atômica. Eu sempre fiz isso, Quando viajo, levo minhas coisas. E dentro o que tem? Um barbeador, um breviário (livro de liturgia), uma agenda, tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Sou devoto de Santa Terezinha. Eu sempre levei a minha maleta. É normal. Temos de ser normais. É um pouco estranho isso que você me diz que a foto deu a volta ao mundo. Mas temos de nos habituar a sermos normais, à normalidade da vida.
Por que o senhor pede tanto
para que rezem pelo senhor? Não é habitual ouvir de um papa que peça que rezem
por ele.
Sempre pedi isso. Quando era padre, pedia, mas nem tanto nem tão frequentemente. Comecei a pedir mais frequentemente quando passei a bispo. Porque eu sinto que, se o Senhor não ajuda nesse trabalho de ajudar aos outros, não se pode. Preciso da ajuda do Senhor. Eu de verdade me sinto com tantos limites, tantos problemas, e também pecador. Peço a Nossa Senhora que reze por mim. É um hábito, mas que vem da necessidade. Sinto que devo pedir. Não sei
Na busca por fazer essas
mudanças, o sr. disse que existem muitos santos que trabalham no Vaticano e
outros um pouco menos santos. O sr. enfrenta resistências a essa sua vontade de
mudar as coisas no Vaticano? O sr. vive num ambiente muito austero, de Santa
Marta. Os seus colaboradores também vivem essa austeridade? Isso é algo apenas
do sr. ou da comunidade?
As mudanças vêm de duas vertentes: do que pediram os cardeais e também o que vem da minha personalidade. Você falou que eu fico na Santa Marta. Eu não poderia viver sozinho no palácio, que não é luxuoso. O apartamento pontifício é grande, mas não é luxuoso. Mas eu não posso viver sozinho. Preciso de gente, falar com gente. Trabalhar com as pessoas. Porque, quando os meninos da escola jesuíta me perguntaram se eu estava aqui pela austeridade e pobreza, eu respondi: “Não, por motivos psiquiátricos.”
Psicologicamente, não posso. Cada um deve levar adiante sua vida, seguir seu modo de vida. Os cardeais que trabalham na Cúria não vivem como ricos. Têm apartamentos pequenos. São austeros. Os que eu conheço têm apartamentos pequenos.
Cada um tem de viver como o Senhor disse que tem de viver. A austeridade é necessária para todos. Trabalhamos a serviço da igreja. É verdade que há santos, sacerdotes, padres, gente que prega, que trabalha tanto, que vai aos pobres, se preocupa de fazer comer os pobres. Têm santos na Cúria. Também têm alguns que não têm muitos santos. E são estes que fazem mais barulho. Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que nasce. Isso me dói. Porque são alguns que causam escândalos. São escândalos que fazem mal. Uma coisa que nunca disse: a Cúria deveria ter o nível que tinha dos velhos padres, pessoas que trabalham. Os velhos membros da Cúria. Precisamos deles. Precisamos o perfil do velho da Cúria.
Sobre resistência, se tem, ainda não vi. É verdade que aconteceram muitas coisas. Mas eu preciso dizer: eu encontrei ajuda, encontrei pessoas leais. Por exemplo, eu gosto quando alguém me diz :”Eu não estou de acordo”. Esse é um verdadeiro colaborador. Mas, quando vejo aqueles que dizem “ah, que belo, que belo” e depois dizem o contrario por trás, isso não ajuda.
O mundo mudou, os jovens mudaram.
Temos no Brasil muitos jovens, mas o senhor não falou de aborto, sobre a
posição do Vaticano em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. No
Brasil foram aprovadas leis que ampliam os direitos para estes casamentos em
relação ao aborto. Por que o senhor não falou sobre isso?
A igreja já se expressou perfeitamente sobre isso. Eu não queria voltar sobre isso. Não era necessário voltar sobre isso, como também não era necessário falar sobre outros assuntos. Eu também não falei sobre o roubo, sobre a mentira. Para isso, a igreja tem uma doutrina clara. Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual a posição da igreja.
E a do papa?
É a da Igreja, eu sou filho da Igreja.
É a da Igreja, eu sou filho da Igreja.
Qual o sentido mais profundo de
se apresentar como o bispo de Roma?
Não se deve andar mais adiante do que o que se fala. O papa é bispo de Roma e por isso é papa, o sucessor de Pedro. Não é o caso pensar que isso quer dizer que é o primeiro. Não é esse o sentido. O primeiro sentido do papa é ser o bispo de Roma.
O sr. teve sua primeira
experiência multidinária no Rio. Como se sente como papa, é um trabalho duro?
Ser bispo é belo. O problema é quando alguém busca ter esse trabalho, assim não é tão belo. Mas, quando o Senhor chama para ser biso, isso é belo. Tem sempre o perigo e o pecado de pensar com superioridade, como se fosse um príncipe. Mas o trabalho é belo. Ajudar o irmão a ir adiante. Têm o filtro da estrada.
O bispo tem de indicar o caminho. Eu gosto de ser bispo. Em Buenos Aires, eu era tão feliz. Como padre, era feliz. Como bispo, era feliz e isso me faz bem.
E ser papa?
Se você faz o que o Senhor quer, é feliz. Esse é meu sentimento.
Se você faz o que o Senhor quer, é feliz. Esse é meu sentimento.
Igreja no Brasil está perdendo
fieis. A Renovação Carismática é uma possibilidade para evitar que eles sigam
para as igrejas pentecostais?
É verdade, as estatísticas mostram. Falamos sobre isso ontem com os bispos brasileiros. E isso é um problema que incomoda os bispos brasileiros.
Eu vou dizer uma coisa: nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez, falando sobre eles, disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma escola de samba.
Eu me arrependi. Vi que os movimentos bem assessorados trilharam um bom caminho. Agora, vejo que esse movimento faz muito bem à igreja em geral. Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano, na catedral. Vi o bem que eles faziam.
Neste momento da igreja, creio que os movimentos são necessários. Esses movimentos são uma graça para a igreja. A Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais. Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova.
A igreja sem a mulher perde a
fecundidade? Quais as medidas concretas? O senhor disse que está cansado. Há
algum tratamento especial neste voo?
Vamos começar pelo fim. Não há nenhum tratamento especial neste voo. Na frente, tem uma bela poltrona. Escrevi para dizer que não queria tratamento especial.
Segundo, as mulheres. Uma igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papal da mulher na igreja não é só maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a igreja a crescer. E pensar que a Nossa Senhora é mais importante do que os apóstolos! A igreja é feminina, esposa, mãe.
O papel da mulher na igreja não deve ser só o de mãe e com um trabalho limitado. Não, tem outra coisa. O papa Paulo 6° escreveu uma coisa belíssima sobre as mulheres. Creio que se deva ir adiante esse papel. Não se pode entender uma igreja sem uma mulher ativa.
Um exemplo histórico: para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da América Latina. Sobraram, depois da guerra (1864-1870), oito mulheres para cada homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua.
Na igreja, se deve pensar nas mulheres sob essa perspectiva. Escolhas de risco, mas como mulher. Acredito que, até agora, não fizemos uma profunda teologia sobre a mulher. Somente um pouco aqui, um pouco lá. Tem a que faz a leitura, a presidente da Cáritas, mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. Isso é o que eu penso.
Queremos saber qual a sua
relação de trabalho com Bento 16, não a amistosa, a de colaboração. Não houve
antes uma circunstância assim. Os contatos são frequentes?
A última vez que houve dois ou três papa, eles não se falavam. Estavam brigando entre si, para ver quem era o verdadeiro. Eu fiquei muito feliz quando se tornou papa. Também, quando renunciou, foi, pra mim, um exemplo muito grande. É um homem de Deus, de reza. Hoje, ele mora no Vaticano.
Alguns me perguntam: como dois papas podem viver no Vaticano? Eu achei uma frase para explicar isso. É como ter um avô em casa. Um avô sábio. Na família, um avô é amado, admirado. Ele é um homem com prudência. Eu o convidei para vir comigo em algumas ocasiões. Ele prefere ficar reservado. Se eu tenho alguma dificuldade, não entendo alguma coisa, posso ir até ele.
Sobre o problema grave do Vatileaks [vazamento de documentos secretos], ele me disse tudo com simplicidade. Tem uma coisa que não sei se vocês sabem: Em 8 de fevereiro, no discurso, ele falou: “Entre vocês está o próximo papa. Eu prometo obediência”. Isso é grande.
O sr. falou com os bispos
brasileiros sobre a participação das mulheres na igreja. Gostaria de entender
melhor como deve ser essa participação. O que sr. pensa sobre a ordenação das
mulheres?
Sobre a participação das mulheres na igreja, não se pode limitar a alguns cargos: a catequista, a presidente da Cáritas. Deve ser mais, muito mais. Sobre a ordenação, a igreja já falou e disse que não. João Paulo 2° disse com uma formulação definitiva. Essa porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais importante que os apóstolos. A mulher na igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falte uma especificação teológica.
Nesta viagem, o sr. falou de
misericórdia Sobre o acesso aos sacramentos dos divorciados, existe a
possibilidade de mudar alguma coisa na disciplina da igreja?
Essa é uma pergunta que sempre se faz. A misericórdia é maior do que o exemplo que você deu. Essa mudança de época e també tantos problemas na igreja, como alguns testemunhos de alguns padres, problemas de corrupção, do clericalismo A igreja é mãe. Ela cura os feridos. Ela não se cansa de perdoar.
Os divorciados podem fazer a comunhão. Não podem quando estão na segunda união. Esse problema deve ser estudado pela pastoral matrimonial. Há 15 dias, esteve comigo o secretário do sínodo dos bispos, para discutir o tema do próximo sínodo. E posso dizer que estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda. O cardeal Guarantino disse ao meu antecessor que a metade dos matrimônios é nula. Porque as pessoas se casam sem maturidade ou porque socialmente devem se casar. Isso também entra na Pastoral do Matrimônio.
A questão da anulação do casamento deve ser revisada. É complexa a questão pastoral do matrimônio.
Em quatro meses de Pontificado,
pode nos fazer um pequeno balanço e dizer o que foi o pior e o melhor de ser
Papa? O que mais lhe surpreendeu neste período?
Não sei como responder isso, de verdade. Coisas ruins, ruins, não aconteceram. Coisas belas, sim. Por exemplo, o encontro com os bispos italianos, que foi tão bonito. Como bispo da capital da Itália, me senti em casa com eles. Uma coisa dolorosa foi a visita a Lampeduse [ilha que recebe imigrantes africanos], me fez chorar. Me fez bem. Quando chegam estes barcos, que os deixam a algumas milhas de distância da costa e eles têm de chegar (à costa) sozinhos, isso me dói porque penso que essas pessoas são vítimas do sistema sócio-econômico mundial.
Mas a coisa pior é o nervo ciático, é verdade, tive isso no primeiro mês. É verdade! Para uma entrevista, tive de me acomodar numa poltrona e isso me fez mal, era dolorosíssimo, não desejo isso a ninguém. O encontro com os seminaristas religiosos foi belíssimo. Também o encontro com os alunos do colégio jesuíta foi belíssimo. As pessoas conheci tantas pessoas boas no Vaticano. Isso é verdade, eu faço justiça. Tantas pessoas boas, mas boas, boas, boas.
Tem a esperança de que esta
viagem ao Brasil contribua para trazer de volta os fiéis? Os argentinos se
perguntam: não sente falta de estar em Buenos Aires, pegar um ônibus?
Uma viagem do papa sempre faz bem. E creio que a viagem ao Brasil fará bem, não apenas a presença do Papa. Eles (os brasileiros) se mobilizaram e vão ajudar muito a igreja. Tantos fiéis que foram se sentem felizes. Acho que será positivo não só pela viagem, mas pela jornada, um evento maravilhoso. Buenos Aires, sim, sinto falta. Mas é uma saudade serena.
O que o senhor pretende fazer
em relação ao monsenhor Ricca e como pretende enfrentar toda esta questão do
lobby gay?
Sobre monsenhor Ricca, fiz o que o direito canônico manda fazer, a investigação prévia. E nessa investigação não tem nada do que o acusam. Não achamos nada. É a minha resposta.
Quero acrescentar uma coisa a mais sobre isso. Tenho visto que muitas vezes na igreja se buscam os pecados da juventude, por exemplo. E se publica.
Abuso de menores é diferente. Mas, se uma pessoa, seja laica ou padre ou freira, pecou e esconde, o Senhor perdoa. Quando o Senhor perdoa, o Senhor esquece.
E isso é importante para a nossa vida. Quando vamos confessar e nós dizemos que pecamos, o senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer. Isso é um perigo.
O que é importante é uma teologia do pecado. Tantas vezes penso em São Pedro, que cometeu tantos pecados e venerava Cristo. E esse pecador foi transformado em Papa.
Vocês vêm muita coisa escrita sobre o lobby gay. Eu ainda não vi ninguém no Vaticano com um cartão de identidade dizendo que é gay. Dizem que há alguns. Acho que, quando alguém se vê com uma pessoa assim, devemos distinguir entre o fato de que uma pessoa é gay e formar um lobby gay, porque nem todos os lobbys são bons. Isso é o que é ruim.
Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-lo? O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessa tendência, da tendência de pessoas gananciosas: lobby político, de maçons, tantos lobbies. Esse é o pior problema.
Fonte: Fratres in Unum
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