terça-feira, 23 de julho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 13




CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

CAPÍTULO III 
COMO CORRESPONDER À VOCAÇÃO

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937 


65. — Estareis com a alma em paz, jovem amigo, depois de receber o aviso de vosso diretor. A palavra dele, que vossa fé há de considerar como a própria palavra de Deus, acabará com toda a indecisão e vos fixará as idéias. Se ele vos dissesse: «Meu menino, procurai uma carreira no mundo, porque o estado religioso está acima de vossas forças;» não deveríeis hesitar um só instante em sacrificar vossas primeiras esperanças. Mas se ele vos respondeu: Tenho fé que Deus vos chama, meu menino: preparai-vos para segui-lO;» não hesiteis tão pouco e considerai esta decisão como um oráculo do céu. Então não tendes mais dúvida alguma; sereis sacerdote ou religioso; estais vendo o caminho que Deus vos abre. Novas obrigações vos aguardam agora. Uma vez conhecida a vocação devemos nos tornar dignos dela; quando se sabe claramente o desejo de Deus, é preciso corresponder a ele; quando o caminho está traçado, é preciso andar por ele. Tudo isso se chama corresponder à vocação.

Para corresponder à vossa vocação tendes três coisas a fazer: separar-vos, formar-vos, conservar-vos. É o que devo ainda explicar-vos com alguns pormenores.



I. A SEPARAÇÃO


66. — Pois que Deus vos escolheu e vos marcou com o sinal da vocação, é justo que lhe pertençais. Para lhe pertencer é necessário romper todos os vínculos: vínculos do pecado em primeiro lugar, depois os vínculos do mundo, enfim os vínculos da própria família.

1.º Renunciar ao pecado.

67. — O grande inimigo de Deus é o pecado. O pecado grave, com efeito, expulsa Deus da alma para se apoderar dela. Que injúria seria para Deus, se, depois de resolver dar-vos a ele na religião, deixásseis ainda o pecado dominar em vós! Por isso é que vosso primeiro dever é combater energicamente para defender vossa alma contra os assaltos do demônio.

Talvez, até agora, tenhais conservado a inocência batismal. Como teríeis a ousadia de perdê-la, no momento em que desejais dedicar a Deus vossa alma como um templo sagrado?

Mas pode ser que tenhais perdido a primeira inocência. Surpreendido pelas primeiras perturbações da adolescência, arrastado pelos exemplos de companheiros perversos, pecastes. É uma desgraça muito grande, da qual as almas religiosas nunca se consolam. Mas, graças a Deus, as devastações do pecado não são irreparáveis: no sacramento de Penitência, as lágrimas de vosso arrependimento, misturadas com o sangue de Jesus Cristo, apagaram todas as nódoas e vos restituíram a vida. A inocência foi recuperada.

Conservada ou recuperada, dora em diante esta inocência deve permanecer intacta em vosso coração. Estais com firme vontade de não pecar mais. Mas a vontade não basta: é preciso tomar os meios.

68. — Com efeito, rudes assaltos hão de fazer-se contra vossa virtude: vossa inocência será o prêmio de vossos combates. Inimigos terríveis hão de nascer dentro de vós mesmo e persuadir-vos de vos deixar escorregar no abismo dos maus prazeres. Se cederdes um pouquinho diante das primeiras tentações, se quiserdes provar, por pouco que seja, a taça envenenada, em breve tereis a morte espiritual: portanto é preciso resistir logo, desde as primeiras instigações do mal.

A estas inclinações da natureza sensual, unir-se-ão os atrativos exteriores: o mundo esforçar-se-á por seduzir-vos por meio de suas falsas máximas e seus prazeres enganadores; o exemplo de companheiros corruptos vos deixará acreditar, em certos momentos, que o mal talvez não seja o mal, que a virtude talvez não esteja ao alcance do homem; certa vergonha mal entendida de que sejais o único menino recatado e puro no meio de uma sociedade pervertida, talvez vos enfraqueça a coragem. Oh! como é difícil manter-se firme no bem, quando tantas correntes arrastam para o mal!Para vencer, nesta guerra encarniçada, três coisas são necessárias: o auxílio de um bom diretor, orações fervorosas, esforços de vontade.

69. — Um diretor prudente vos indicará o que é mau, mostrar-vos-á onde está o perigo, prevenir-vos-á contra as surpresas. Revelar-lhe-eis o fundo de vosso coração, vossas perturbações, desânimos, se houver. Na luta, é ele que vos indicará a tática e o modo de manejar as armas. Nada lhe escondais: a menor dissimulação tornar-se-ia para vós uma causa de ruína moral. Se ele parecer severo, não vos espanteis: porque sua severidade se dirige toda contra o pecado e não contra vós; para vossa alma, possui apenas ternura e dedicação.

A oração há de atrair-vos a graça de Deus. Rezar é absolutamente necessário; porque não triunfareis senão pela graça; e a graça, na sua plenitude, não é dada senão à alma que reza. Sede um menino piedoso e nunca haveis de pecar. Recomendo-vos, de modo especial, a santíssima comunhão, a devoção a Nossa Senhora: o divino corpo de Jesus Cristo purifica e fortifica as almas; Nossa Senhora mostrou-Se sempre a protetora dos corações puros.

Contudo, para alguém que é mole e inativo, os socorros mais poderosos de nada servem. Apesar de tudo, permaneceis livre de ser bom ou mau. Deus vos entrega várias armas que vosso diretor espiritual vos ensina a manejar. Mas se vossos braços, preguiçosos e sem vigor, não tiverem a coragem de mover-se, sereis um vencido, não há a menor dúvida. O esforço que se exige de vossa parte, é que fujais das sociedades perigosas, nunca permaneçais desocupado, eviteis as leituras suspeitas, nunca fiqueis complacente e impassível diante da tentação e peçais o auxílio de Deus cada vez que o demônio vos ataca.

Todavia, se viésseis a sucumbir, oh! não hesiteis em recorrer a vosso confessor. Deus é bom pai e pastor condescende. Entende que uma ovelha erre o caminho e receba ferimentos; logo corre-lhe atrás e apresenta-lhe os braços e não quer que ela fuja diante de Suas misericordiosas carícias. Quem não gostará muito desta bela palavra de S. João, o apóstolo que Jesus amava particularmente: «Meus filhinhos, escrevo-vos isto para que não pequeis; mas se por acaso pecardes, não vos esqueçais de que temos perante o Pai um advogado omnipotente, Jesus o Santo!»

2.º Separar-vos do mundo.



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