sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Marido - Os seus deveres (Parte IV)




O Marido

Os seus deveres

Primeiramente, deve usá-lo: é a condição para que a união persevere; e não é inútil lembrá-lo, porque há maridos que o não empregam; abdicam; é mais cômodo. Esquecem que o exercício da autoridade não é só um direito, mas um dever, de que lhes serão pedidas contas.

Alguns, é por fraqueza; é preciso muito trabalho, não têm coragem. - Outros, é por incapacidade; não sabem, e com receio de não acertarem, nada fazem. - Outros, é por indiferentismo; que lhes importa? as coisas irão aonde têm de chegar. - Outros, é por orgulho desdém; está abaixo do homem o ocupar-se com uma mulher, a não ser para gozá-la ou torná-la sua serventuária. Estes formam partido aparte. - Outros enfim, é por egoísmo: é bastante o pensarem em si, em seus negócios, prazeres, (quando não é, ah! em suas paixões) ia a dizer na continuação das afeições de sua mocidade, nas suas desordens de maridos libertinos, ou em seus vícios de velhos.

Os maridos que abdicam, e quebram a unidade da família e o objeto do contrato, arrebatando eles mesmos a sua coroa, cometem todos em sua multidão banal uma injustiça comum; fazem geralmente uma ideia muito clara dos deveres que o matrimônio impõe a sua mulher, e uma ideia muito vaga dos deveres que impõe a eles mesmos. Acrescentar às delícias habituais de sua vida, um acessório agradável na pessoa de uma mulher honesta e graciosa, atenta em poupar-lhes os pequenos cuidados da vida material, tornando o seu lar sempre alegre e duradouro, fazendo dele um abrigo sempre pronto para as horas de fadiga ou aborrecimento, é todo o seu sonho.

Que tenham a responsabilidade da alma, que uma grande parte da educação intelectual, moral e religiosa de sua mulher lhes incumbe, não parecem duvidar.

É, entretanto, o seu papel, o seu dever exercerem a autoridade e empregarem a sua influência na família para o primeiro e o maior de todos os bens, o de sua mulher.



A mulher tem essencialmente necessidade de ser dirigida; e quase sempre, sobretudo, a mulher francesa, o deseja e é própria para recebê-lo.

Deseja-o. Quantas vezes ouvimos as moças dizerem: "Quero um marido que me seja superior, e que me guie." Uma superioridade que lhes inspire confiança e sobre a qual se apoiem, é o seu desejo mais sincero.

É também a sua necessidade. Uma moça pouco sabe. Por mais cuidados que tenham tido na sua educação e instrução, tanto uma como outra, ainda não estão completas.

Além disso, viveu muito recatada; vai ser lançada de repente, noutra posição; é impossível que se torne assim uma mulher perfeita: tem necessidade de uma direção. E é muito apta para recebê-la. A maioria das mulheres seriam o que seus maridos  desejassem, se eles se dessem ao trabalho de prepará-las. Mesmo que até então tenha havido educação fútil, gosto de dissipação, vaidade, há raramente frivolidade incurável. Toda a mulher, ainda jovem, tem em si um grande fundo de abnegação e dedicação, que a doce autoridade do primeiro amor é onipotente para desenvolver. É o marido que deve modelar a sua vontade, formar segundo os seus desejos, elevar à dignidade dos seus sentimentos e pensamentos, esse jovem coração e esse jovem espírito que só deseja agradar-lhe. Ele deve acrescentar aos laços que unem o esposo à esposa, os que unem o discípulo ao seu mestre, ao seu guia, ao seu amigo. Há, aí, um papel muito digno de tentar os que desejam atingir, pela virtude, a felicidade verdadeira.

É o aperfeiçoamento da esposa, é a união cristã, a edificação dos filhos, é todo o bem da família.

O marido deve empregar a autoridade; é a sua função, é o seu papel.

Mas é um papel que se deve desempenhar na ordem, e para os fins do matrimônio; e há poucos maridos que saibam continuar assim a educação de sua mulher e fazer uso cristão da sua autoridade.

A primeira qualidade da autoridade e do poder que dela deriva, é a justiça: a autoridade do marido, derivando da de Deus, deve-lhe ser semelhante e o seu poder deve ser conforme ao de Deus. Quanto é triste, deplorável, e que suplício horrível, que aflição cruel para uma mulher cristã, e meiga, o ver-se presa entre seu marido e Deus! Ofender a Deus é-lhe impossível; ama-O acima de todas as coisas. Desagradar a seu marido, não se pode resolver a isso; depois de Deus, ama-o mais que tudo. Como fará? Empregará todo o seu tato, a sua delicadeza, abnegação, dedicação em conciliar os dois deveres. Mas, enfim, se a conciliação for impossível, se a vontade de Deus, clara e formal, se acha contra a do marido, será bem preciso recusar; desobedecer, afligir. A harmonia da sociedade conjugal achar-se-á momentaneamente rompida, e à custa de que sofrimento!

Falo da mulher forte, inteiramente devotada ao seu dever e a Deus. Mas que acontecerá à mulher fraca? O amor do marido vencerá o amor de Deus; capitulará; deixar-se-á arrastar para o mal por aquele que devia conduzi-la ao bem, com repugnância, primeiro, depois, talvez, com paixão, e para a perda daquele mesmo que a tal a impelira.

Quantos maridos culpados, que, abusando do que se chama tão apropriadamente "poder incrível do amor", não têm escrúpulo nenhum de associarem suas mulheres a todos os seus gostos depravados, de obrigá-las a tomarem parte em todos os seus ilícitos prazeres, irem a teatrinhos onde se dizem chistes, a ceiazinhas, depois do baile ou do teatro, em gabinetes reservados, jogo desmedido em corridas, partidas escandalosas, companhias suspeitas, livros e romances imorais; em suma, que, manchando sem piedade a imaginação mais pura e o coração mais inocente, têm por sistema que a mulher deve ser a camarada do seu marido, e levar com ele a vida de rapaz? Sistema desmoralizador, sistema criminoso!

- Culpado é também o marido que, embora não conduza sua mulher ao mal, não procura desviá-la dele, e que antes se deixa seduzir por ela, como Adão por Eva; que não ousa resistir aos seus desejos; às suas paixões, aos seus caprichos; que, pela cegueira e indulgência do amor, não sabe prevenir, reprimir, impedir e evitar as intimidades perigosas com os homens, com os rapazes, as senhoras, e, às vezes, com certas idosas; que não tem força para obrigá-las a moderar o luxo, a toillete, as despesas, os prazeres, evitar os perigos de uma vida excessivamente faustosa, frívola ou ociosa, impedir que se exponha a uma notoriedade inconveniente; proibir as apresentações ruidosas aqui e as clandestinas acolá;o de ir aos bailes de máscaras, às comédias de salão, o desvairamento da mocidade, da beleza, das fatuidades, e enfim toda esta correspondência de galantarias, verdadeiro motivo
de lautas reuniões, aonde, tanto os homens como as mulheres, procuram espontaneamente o que se chama afeto de coração, e, às vezes, o encontram sem o procurarem... ainda que o coração, geralmente, desempenhe um papel muito insignificante nestas coisas.

Criminoso, contra o dever de autoridade, é o marido que não sabe preservar sua mulher do mal; ele é que será a primeira vítima do seu erro.

Criminoso é também aquele que não quer incitá-la ao bem, destruir-lhe a frivolidade, cujo gérmen e inclinação, se bem que em graus muito diferentes, quase todas as mulheres possuem; incutir-lhe, pouco a pouco, experiência, seriedade, calma, ponderação e regularidade; educar o seu espírito, a sua imaginação, o seu coração, e fortalecer a sua vontade; semear abundantemente este terreno precioso que só deseja produzir; verter nesta alma jovem e vigorosa tudo quanto tiver de melhor; completar enfim e aperfeiçoar nela a semelhança divina, traçada pela mão do Criador, e a educação que o coração de uma mãe cristã começou com toda a ascendência do seu amor.

Tal é o dever do marido, o exercício obrigatório da sua autoridade, que deve ser justa, isto é, segundo a vontade de Deus.

Em segundo lugar, deve ser digna, quero dizer, que o marido seja digno de exercê-la, que os seus exemplos e virtudes correspondam às suas ordens. O marido que não compreender que a palavra, sem o exemplo, é estéril; o marido que pensar que tudo lhe é permitido, o marido libertino é indigno de ordenar; quebra por suas desordens o cetro de sua autoridade.

É indigno de mandar o marido que é a vergonha e a desonra de sua família; o marido que manda introduzir sua mulher na sociedade... não ouso dizer por quem!... - O marido, cuja avareza vergonhosa impele a expedientes, a empréstimos e a tudo o mais que daqui pode derivar; o marido, cuja prodigalidade lhe inflige rivalidades ultrajantes: o marido que a abandona, a despreza, mas que, por piedade, lhe envia para distraí-la, todas as pessoas que encontra; o marido que esconde no seu interior o escândalo do seu comportamento e assim se compensa largamente do que não faz cá fora.

O poder do marido deve apoiar-se no são exemplo, e a sua autoridade deve ser digna. Deve ser pacífica – jugum pacis, diz a Igreja. Pacífica, isto é, paciente para suportar, para esperar.  Os maridos impetuosos, violentos, que se querem fazer obedecer imediatamente, que querem alcançar tudo pelo arrebatamento, fazem-se temer, mas não obedecer.

Pacífica, isto é, cheia de doçura e atenções. Os maridos inconsiderados que não sabem cativar, nem compreender sua mulher, que, para corrigi-la a levam pela ironia ou com brincadeiras cruéis, esquecem por completo que um doente se exaspera contestando a seriedade de sua doença, e que isto lhe dá a tentação de morrer.

Autoridade pacífica, isto é, constante consigo mesmo. Os maridos inconstantes, apoquentadores e mesquinhos, esquisitos, caprichosos, de espírito de contradição e fantásticos, fazem a mulher perder a paciência, a não ser que tenha as virtudes de Madame Acarie, que veio a ser, mais tarde, a bem-aventurada Maria da Encarnação, cujo marido tinha muita razão quando dizia: "Minha mulher será seguramente uma santa, e falar-se-á de mim no processo de canonização. Por minha parte, terei contribuído muito para isso, pelos tormentos que forneci à sua paciência".

Autoridade pacífica, isto é, enfim, autoridade segundo a ordem; porque a paz é a tranqüilidade da ordem; autoridade que se exerce no seu departamento e que não saia daí para invadir tudo. Os maridos que se entremeiem em tudo, querem fazer tudo, entrar em todos os detalhes de casa e dos quais muito pouco compreendem, para não dizer nada, aniquilam as suas mulheres e alteram a paz, destruindo a ordem. É preciso que a mulher tenha a sua parte de autoridade e direção em certos detalhes de casa e educação.

Jugum pacis et dilectionis, acrescenta a Igreja. É a última qualidade da autoridade. Deve ser cheia de ternura e de afeição. É preciso governar com uma mão no coração, ou, se preferis, com uma luva de veludo. Os maridos ríspidos ou desconfiados, que agem como déspotas ou como ciumentos, com um guante ou látego na mão, têm uma autoridade que esmaga, mas que não é respeitada.

Não deve repreender e guiar como inimigo, nem como crítico, nem como senhor; porém como amigo; jugum pacis et dilectionis. O marido deve ser para a mulher, como segunda consciência, ou como outro anjo da guarda; deve ter por ela uma afeição sobrenatural e benévola.

Se este ideal vos parece demasiadamente elevado e difícil de realizar, meus senhores, levantai os olhos para o modelo divino; aquele que São Paulo, vos propõe, Jesus Cristo.

O que não fez Ele pela Sua Igreja? Tornou-a santa e imaculada: não porque não haja pecadores na Igreja, mas sim porque nela há tudo quanto é necessário para nos libertarmos do pecado e nos elevarmos à santidade. Jesus Cristo preservou-a dos enganos até ao fim dos séculos. Para ela, os Seus exemplos, os Seus conselhos, as Suas orações, os Seus sacrifícios, as Suas graças e a Sua vida!

Também, que união! Que força e santidade no laço que os une! Em Jesus Cristo e a Sua Igreja está, para sempre, o ideal da união e dos deveres mútuos da sociedade conjugal!


(Livro O marido, o pai e o apóstolo - Escravas de Maria)











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