domingo, 7 de julho de 2013

Quem ama a Deus, suspira por vê-lo no céu.



(Santa Teresinha contemplando o céu)

Heu mihi, quia incolatus meus prolongatus est“Ai de mim, que o meu desterro se prolongou” (Ps. 119, 5).

I. As almas que neste mundo não amam senão a Deus, são como que umas nobres peregrinas, destinadas, pelo seu estado, a serem as esposas eternas do Rei do céu; mas que vivem longe d'Ele sem O poderem ver. Pelo que suspiram incessantemente por irem à pátria bem-aventurada onde sabem que o Esposo as espera.




Sabem que o objeto do seu amor lhes está sempre presente; mas está como escondido atrás de um reposteiro e não se deixa ver. Está, para dizer melhor, como muitas vezes o sol entre as nuvens, donde de tempo a tempo faz luzir um raio de seu esplendor, mas sem se deixar ver a descoberto. – Aquelas esposas amadas têm os olhos vendados, de sorte que não podem ver o seu amado. Vivem, todavia, contentes, conformando-se com a vontade do Senhor, que as quer deixar no exílio e longe de si; mas, apesar disso, não podem deixar de suspirar incessantemente pelo desejo de O conhecerem face a face, afim de se abrasarem mais de amor e O amarem com mais ardor.

Por isso, cada uma delas vai freqüente mas docemente queixar-se ao dileto, porque se não deixa ver, e diz: O amor único do meu coração, já que me amais tanto e me feristes com o vosso santo amor, porque é que Vos escondeis e não Vos deixais ver? Sei que sois uma beleza infinita; amo-Vos, mais que a mim mesma, ainda que não Vos tenha visto; descobri-me a vossa face formosa; quero conhecer-Vos a descoberto, afim de não olhar mais nem para mim mesma nem para outras criaturas, e não pensar mais senão em Vos amar, meu Bem supremo: Ai de mim, porque se prolongou o meu desterro!

II. Quando as almas, assim abrasadas no amor divino, vêm brilhar algum raio da bondade de Deus ou do amor que Deus lhes tem, quereriam liquefazer-se e consumir-se pelo amor. Contudo, para elas o sol está ainda coberto pelas nuvens, a face formosa de Deus está ainda oculta atrás da cortina e as almas têm os olhos ainda vendados o que as impede de O contemplarem face a face – Qual não será então a sua alegria quando se tirar a venda e se mostrar sem véu a face formosa do Esposo, de sorte que possam contemplar na mais clara luz a sua formosura, a sua bondade, a sua grandeza e o amor que lhes tem?

Ó morte, porque é que tanto tardas a vir? Enquanto não vieres, não posso ir ver a meu Deus. Tu me deves abrir a porta, afim de que possa entrar no palácio do meu Senhor. Ó pátria ditosa, quando chegará o dia em que me verei nos teus eternos tabernáculos! Ó amor da minha alma, meu Jesus, meu tesouro, meu tudo, quando chegará o momento feliz em que, deixando a terra, me verei todo unido a Vós!

Ó Senhor, não sou digno de tão grande ventura; mas o amor que me tendes dispensado e mais ainda vossa bondade infinita me faz esperar que um dia serei associado àquelas almas felizes, que, inteiramente unidas a Vós, Vos amam e Vos amarão com perfeito amor, durante toda a eternidade. Meu Jesus, vedes a alternativa em que me acho, ou estar sempre unido convosco, ou estar para sempre longe de Vós: tende piedade de mim; vosso sangue é minha esperança. A vossa intercessão, ó minha Mãe Maria, é meu conforto e minha alegria. (II 287.)

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 240-242.)

Fonte: São Pio V

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