CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO
Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do
Instituto Católico de Paris)
edição de 1937
2.º O caráter.
79. — A vida divina é uma força
entregue em vossas mãos: vossa obrigação é tirar proveito dela. Seja qual for o
que empreenderdes, não estareis sozinho a trabalhar: Deus mesmo tomará parte em
tudo quanto fizerdes.
Ora, o objeto principal que
deveis ter em vista, é a formação de vosso caráter. Em um sentido geral, a
palavra caráter ou gênio designa aquilo pelo qual um homem é o que é. Nosso
caráter se compõe, ao mesmo tempo, de nossos defeitos e nossas qualidades: por
conseguinte a formação de nosso caráter consiste na correção de nossos defeitos
e no desenvolvimento de nossas qualidades. É para ter bom êxito nesta empresa
de suma importância, que imploramos o auxílio de Deus por meio da oração e dos sacramentos.
Para corrigir vossos defeitos,
procurareis primeiro conhecê-los. Em pouco tempo notareis que todos dependem de
um só, o defeito dominante. Logo que descobrirdes em vós o defeito que é a
causa de todas vossas faltas, será preciso combatê-lo sem trégua. Toda a
vitória ganha contra este inimigo capital é um triunfo alcançado sobre todos os
outros. Talvez sozinho não consigais descobri-lo; mas vosso diretor espiritual
e vossos mestres ajudar-vos-ão.
80. — O defeito dominante, ao
mesmo tempo mais perigoso e mais comum entre os meninos, é a moleza, a fraqueza
da vontade. Torna os meninos preguiçosos, escravos do respeito humano,
negligentes a respeito de seus deveres, ávidos de satisfações sensuais, fracos
diante dos maus companheiros, incapazes de grandes esforços... Para fortalecer
a vontade, é preciso exercitá-la cada dia a praticar atos de generosidade; um
menino que diariamente fizesse alguns sacrifícios, se impusesse mortificações,
contrariasse seu gênio, em breve adquiriria grande virilidade na vontade. Se na
maior parte os homens permanecem sem energia, é que na sua mocidade não
contraíram o bom hábito de se vencer a si próprios. Não é possível fixar
práticas particulares a este respeito; cada um deve examinar as circunstâncias
em que se reconhece fraco e pusilânime, e dirigir a luta para estes pontos.
81. — Outras vezes é a
susceptibilidade, o espírito melindroso que domina. Não falta coragem ao
menino; é até aplicadíssimo. Mas basta uma ninharia para o ferir e irritar; não
pode tolerar que alguém o repreenda de uma culpa, lhe faça a menor observação;
uma palavra um pouco azeda o perturba; mostra-se exigente, quer que todos
tenham muita contemplação para com ele, e zanga-se si alguém o esquece ou lhe
falta um pouco de respeito. Às vezes esta susceptibilidade e patenteia por
palavras duras ou violentas cóleras; outras vezes aparece no humor melancólico,
no aspecto inexpansivo, no olhar desdenhoso daquele que se julga ofendido. Em
religião, não se pode fazer bastante guerra a este defeito, que se tornaria em
breve a peste das comunidades. Para ter êxito feliz, é preciso desenvolver na
alma o sentimento da humildade. Se tivésseis muita persuasão que sois pouca
coisa, que tendes grande vantagem em ficar no segundo lugar, teríeis grande
prazer quando alguém vos despreza, não faz caso de vós, vos injuria. Certos
caracteres são orgulhosos, teimosos, rebeldes à obediência. Não se tornam
próprios para a vida religiosa senão quando aprendem a docilidade, etc.
82. — Pela correção de vossos
defeitos, preparareis o lugar para o reino das virtudes. Os mestres
encarregados de vossa formação terão como que duas partes em seu programa:
tomarão a peito fazer de vós primeiro um homem honesto, depois um perfeito
cristão.
O homem honesto é sincero,
reto, expansivo, incapaz da menor duplicidade e da mais leve mentira; é
delicado, discreto, recatado, cuidadoso dos bens alheios como dos que lhe
pertencem; é simpático, cortes, prestimoso, obsequioso, pronto para todas as
dedicações; é enérgico, disposto ao sacrifício, capaz de imolar-se para uma
nobre causa.
sobre um homem assim educado, o
perfeito cristão se enxerta com facilidade; a seiva cristã faz brotar muitos
frutos de vida, tais como a humildade, o amor à pobreza, a mortificação e
sobretudo a caridade.
Fonte: A Grande Guerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário