quarta-feira, 31 de julho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 16




CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937 


2.º O caráter.

79. — A vida divina é uma força entregue em vossas mãos: vossa obrigação é tirar proveito dela. Seja qual for o que empreenderdes, não estareis sozinho a trabalhar: Deus mesmo tomará parte em tudo quanto fizerdes.

Ora, o objeto principal que deveis ter em vista, é a formação de vosso caráter. Em um sentido geral, a palavra caráter ou gênio designa aquilo pelo qual um homem é o que é. Nosso caráter se compõe, ao mesmo tempo, de nossos defeitos e nossas qualidades: por conseguinte a formação de nosso caráter consiste na correção de nossos defeitos e no desenvolvimento de nossas qualidades. É para ter bom êxito nesta empresa de suma importância, que imploramos o auxílio de Deus por meio da oração e dos sacramentos.


Para corrigir vossos defeitos, procurareis primeiro conhecê-los. Em pouco tempo notareis que todos dependem de um só, o defeito dominante. Logo que descobrirdes em vós o defeito que é a causa de todas vossas faltas, será preciso combatê-lo sem trégua. Toda a vitória ganha contra este inimigo capital é um triunfo alcançado sobre todos os outros. Talvez sozinho não consigais descobri-lo; mas vosso diretor espiritual e vossos mestres ajudar-vos-ão.



80. — O defeito dominante, ao mesmo tempo mais perigoso e mais comum entre os meninos, é a moleza, a fraqueza da vontade. Torna os meninos preguiçosos, escravos do respeito humano, negligentes a respeito de seus deveres, ávidos de satisfações sensuais, fracos diante dos maus companheiros, incapazes de grandes esforços... Para fortalecer a vontade, é preciso exercitá-la cada dia a praticar atos de generosidade; um menino que diariamente fizesse alguns sacrifícios, se impusesse mortificações, contrariasse seu gênio, em breve adquiriria grande virilidade na vontade. Se na maior parte os homens permanecem sem energia, é que na sua mocidade não contraíram o bom hábito de se vencer a si próprios. Não é possível fixar práticas particulares a este respeito; cada um deve examinar as circunstâncias em que se reconhece fraco e pusilânime, e dirigir a luta para estes pontos.

81. — Outras vezes é a susceptibilidade, o espírito melindroso que domina. Não falta coragem ao menino; é até aplicadíssimo. Mas basta uma ninharia para o ferir e irritar; não pode tolerar que alguém o repreenda de uma culpa, lhe faça a menor observação; uma palavra um pouco azeda o perturba; mostra-se exigente, quer que todos tenham muita contemplação para com ele, e zanga-se si alguém o esquece ou lhe falta um pouco de respeito. Às vezes esta susceptibilidade e patenteia por palavras duras ou violentas cóleras; outras vezes aparece no humor melancólico, no aspecto inexpansivo, no olhar desdenhoso daquele que se julga ofendido. Em religião, não se pode fazer bastante guerra a este defeito, que se tornaria em breve a peste das comunidades. Para ter êxito feliz, é preciso desenvolver na alma o sentimento da humildade. Se tivésseis muita persuasão que sois pouca coisa, que tendes grande vantagem em ficar no segundo lugar, teríeis grande prazer quando alguém vos despreza, não faz caso de vós, vos injuria. Certos caracteres são orgulhosos, teimosos, rebeldes à obediência. Não se tornam próprios para a vida religiosa senão quando aprendem a docilidade, etc.

82. — Pela correção de vossos defeitos, preparareis o lugar para o reino das virtudes. Os mestres encarregados de vossa formação terão como que duas partes em seu programa: tomarão a peito fazer de vós primeiro um homem honesto, depois um perfeito cristão.

O homem honesto é sincero, reto, expansivo, incapaz da menor duplicidade e da mais leve mentira; é delicado, discreto, recatado, cuidadoso dos bens alheios como dos que lhe pertencem; é simpático, cortes, prestimoso, obsequioso, pronto para todas as dedicações; é enérgico, disposto ao sacrifício, capaz de imolar-se para uma nobre causa.

sobre um homem assim educado, o perfeito cristão se enxerta com facilidade; a seiva cristã faz brotar muitos frutos de vida, tais como a humildade, o amor à pobreza, a mortificação e sobretudo a caridade.


 Fonte: A Grande Guerra

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